A oposição acusa António Costa de ser o “candidato do PS” às europeias — ou o “cabeça de lista de facto”, como titulou Paulo Rangel num artigo de opinião. Mas a verdade é que não é só António Costa que vai andar colado ao candidato na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. A pouco mais de um mês das europeias, e a cinco das legislativas, os partidos aproveitam para fazer um “dois em um” e, já que têm a estrutura montada e a máquina na estrada, vão fazer da campanha de maio um primeiro take para a campanha de outubro. Ao que o Observador apurou junto dos cinco partidos, só Jerónimo de Sousa vai manter-se à retaguarda: Assunção Cristas e Catarina Martins vão ter uma presença “diária” na campanha, Rui Rio vai aparecer ao lado de Rangel numa base “regular”, e António Costa, que já tem estado ao lado de Pedro Marques todos os fins de semana, sem exceção, vai ter uma presença ainda mais “enfática” nos 15 dias de sprint final.

Numa altura em que os partidos fecham o plano da chamada “volta nacional” das respetivas campanhas, num exercício detalhado e minucioso para percorrer o país de norte a sul nas duas semanas anteriores ao dia da eleição, é já certo que o palco de cada um vai ser repartido entre cabeças de lista e líderes, num exercício de nacionalização das europeias. A pré-campanha do candidato do PS, por exemplo, que é o único dos cinco que não é atualmente eurodeputado e que, por isso, está a tempo inteiro em Portugal (e não em Bruxelas ou Estrasburgo) arrancou em meados de fevereiro e tem sido preenchida, contando sempre com o secretário-geral do partido, e primeiro-ministro, aos fins de semana. Entre visitas a escolas, empresas ou fábricas, e almoços ou jantares com militantes, Pedro Marques tem aproveitado para, sempre que está pela área da grande Lisboa ou do grande Porto, distribuir folhetos informativos sobre os mega-descontos que o governo aplicou aos passes sociais. Ou seja, um ex-ministro, agora candidato, a fazer campanha para as europeias com uma medida do governo que foi apelidada de “bomba eleitoral” — para as legislativas.

Costa “também é secretário-geral” e Rio com “10 a 12 aparições” na campanha

Do lado do PS, sabe o Observador, a ideia é que Costa continue a estar presente nos próximos dias. Fonte socialista explica ao Observador que “o primeiro-ministro não tem a disponibilidade de outros líderes partidários para estar presente na campanha”, mas lembra que Costa “também é secretário-geral do PS”, por isso “tem estado presente, aos fins de semana, e essa presença vai ser ainda mais enfática” quando se aproximar o período oficial de campanha. Há cinco anos, o PS estava na oposição e, por isso, António José Seguro participou mais vezes na campanha do que Pedro Passos Coelho, que era primeiro-ministro. Essa presença exigiu uma articulação com o candidato Francisco Assis que não correu tão bem quanto isso.

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O esquema repete-se em quase todos os partidos. Com as sondagens a darem alento ao PSD, mostrando os sociais-democratas em crescente recuperação e a conseguirem um empate técnico com o PS (34% para o PS e 31% para o PSD, segundo o barómetro de abril da Aximage, o que dá oito eurodeputados a cada), o efeito Paulo Rangel parece ser mais benéfico a Rui Rio do que o efeito Pedro Marques a António Costa. Rui Rio não vai ser omnipresente, para não retirar palco a Paulo Rangel, mas terá uma presença “regular” e assídua na campanha para aproveitar o balanço para as eleições seguintes.

Europeias. Sondagem mostra PSD muito perto do PS, e com o mesmo número de deputados

Ao Observador, o secretário-geral do PSD e diretor de campanha, José Silvano, explica que a estratégia de presença do líder assenta em dois princípios: “Primeiro, o líder está sempre a apoiar e vai aparecer várias vezes para manifestar esse apoio e mobilizar o aparelho; segundo, não estará sempre presente para dar espaço ao cabeça de lista e aos outros candidatos”. O PSD vai fechar nos próximos dias o plano da volta nacional nas Europeias, mas José Silvano antecipa desde já que Rui Rio “vai fazer 10 a 12 aparições nos principais eventos do último mês antes das eleições”, com especial incidência nos últimos quinze dias (o período oficial de campanha). O secretário-geral aproveita ainda para mandar farpas ao PS: “Nós queremos dar visibilidade ao nosso candidato, ao contrário do PS, que está a esconder o cabeça de lista”.

No PSD há quem compare este ano eleitoral de 2019 com o ano de 2009, em que houve eleições europeias em junho e depois legislativas em setembro. Foi a primeira vez que Paulo Rangel concorreu como cabeça de lista ao Parlamento Europeu e, apesar das sondagens, venceu-as com 31,7% dos votos (8 mandatos), batendo o PS, com Vital Moreira à cabeça, que se ficou pelos 7 eurodeputados (26,58% dos votos). Por essa altura, José Sócrates governava com maioria absoluta e Manuela Ferreira Leite queria destroná-lo. Não conseguiu: apesar de a vitória de Rangel nas europeias ter dado um aparente impulso ao PSD para as legislativas, chegados a setembro o PSD teve 29% dos votos e o PS ganhou com 36,55%, ainda que sem maioria absoluta. “Acredito que Paulo Rangel vá ter um bom resultado nas europeias, entre 31 a 34%, e até pode ganhar, resta saber se depois o balão não esvazia nas legislativas como a Manuela Ferreira Leite esvaziou”, comenta com o Observador um deputado laranja.

Certo é que Rui Rio vai estar mais vezes na pré-campanha e na campanha do que aquelas que esteve o anterior líder, Passos Coelho, há cinco anos. Mas também é certo que as circunstâncias eram diferentes: Passos Coelho era primeiro-ministro, e o líder do CDS, que integrava a coligação Aliança Portugal (PSD-CDS), era ministro nesse mesmo Governo. Quando a volta foi desenhada em 2014 previa que Passos e Portas aparecessem na campanha por três vezes. A popularidade do Governo — no mês em que a troika “saiu” de Portugal — não estava propriamente em altas e, estrategicamente, não havia ganhos em ter os governantes nas ruas do país. É esse trunfo, mas ao contrário, que António Costa parece querer capitalizar ao assumir que as europeias devem ser uma “moção de censura” à oposição ou, por outras palavras, uma “moção de confiança” ao Governo.

Cristas uma vez por dia, Catarina “todo o terreno”. E Jerónimo?

Assunção Cristas também não vai largar os seus candidatos. Segundo apurou o Observador, a volta nacional dos centristas já está “praticamente” fechada: arranca em estilo “non stop” no dia 10 de maio, 16 dias antes das eleições, e vai consistir em “três a quatro” iniciativas por dia, sendo duas delas momentos considerados mais fortes. A ideia é Assunção Cristas aparecer todos os dias em pelo menos um desses momentos. “A líder vai estar numa ação por dia”, garante a mesma fonte. Uma periodicidade que é por alguns considerada um “exagero” e um ritmo demasiado acelerado para umas europeias.

O CDS, de resto, não esconde que quer tratar os dois momentos eleitorais como um todo, daí que tenha sido o único que já aprovou e divulgou as listas de candidatos a deputados para as legislativas. O objetivo é que esses mesmos candidatos a deputados possam aproveitar a campanha das europeias para se projetarem e fazerem campanha já na qualidade de candidatos às legislativas e, dessa forma, a máquina nunca parar de girar — até outubro. O calendário é apertado, e junho é visto como a única “janela temporal” possível para apresentar o programa eleitoral para as legislativas. Esse será o momento das ideias. Depois metem-se as férias de verão e setembro é mês de campanha pura e dura, logo, mais suja nos ataques e menos limpa no conteúdo.

O Bloco de Esquerda está a ultimar os detalhes relativos à campanha eleitoral mas já há uma coisa que parece certa: Catarina Martins vai aparecer em quase todos os dias da campanha. De acordo com o que o Observador apurou, a líder bloquista vai estar durante duas semanas na estrada. Embora a figura central seja sempre Marisa Matias, momentos haverá em que a coordenadora do BE e a cabeça-de-lista às europeias partilharão o palco — e o protagonismo.

Mas a líder não irá a todas, deixando também espaço para que Marisa Matias respire e não esteja debaixo da sombra da número um do partido. “A ideia é estar na campanha mas não retirar o foco da primeira candidata”, explica ao Observador fonte do Bloco de Esquerda. A eurodeputada está habituada a estas andanças. Além de ter participado em duas campanhas para as eleições europeias, Marisa Matias foi a protagonista bloquista da última campanha presidencial. Esta última já com Catarina Martins como líder única do BE. Os bons resultados obtidos em 2016 dão confiança às hostes do Bloco de Esquerda, embora se vá repetindo em surdina que “são duas eleições completamente diferentes”, para evitar comparações ou até euforias.

O país também está habituado a ver a cabeça-de-lista na rua, em campanha. A necessidade de aparecer é por isso menor do que se fosse uma primeira candidatura. Assim, e como o Bloco de Esquerda vem afirmando desde a convenção de novembro, o partido pretende capitalizar esse reconhecimento para aumentar a sua representação no Parlamento Europeu. Para isso, a campanha irá também dar destaque aos outros candidatos da lista do partido às eleições europeias. O número dois, José Gusmão, será por isso outra das figuras da campanha do Bloco de Esquerda.

E Jerónimo de Sousa? É a exceção que confirma a regra. O PCP também tem arestas por limar no que toca à preparação da campanha eleitoral para as eleições europeias. A maior parte das cidades em que os comunistas vão apostar forte, assim como a estratégia de comunicação, estão mais ou menos alinhavadas embora careçam de confirmação oficial. Para que ela chegue, é necessário ultimar detalhes relativos a debates televisivos e a coordenação com as outras forças políticas. Mas a participação de Jerónimo de Sousa na campanha está fechada: “Será discreta e pontual, à semelhança de outras eleições europeias”, explica fonte do partido ao Observador.

É nos comícios maiores ou nos eventos de maior destaque que Jerónimo de Sousa aparecerá. “O secretário-geral do PCP estará presente nos momentos grandes”, já que “nas eleições europeias o destaque é, naturalmente, dos candidatos da lista”, diz a mesma fonte. João Ferreira, atual eurodeputado, será o protagonista, e partilhará muitas vezes o palco com os outros membros da lista. “Até porque nos primeiros dias de campanha, ainda há trabalhos parlamentares”, nota a organização da campanha comunista. São campanhas diferentes, é certo, onde a abstenção tende a ser maior nas primeiras do que nas segundas, mas é na campanha de maio que se vão aquecer os motores para a campanha de outubro. Nisso, todos estão de acordo.