Quando o autocarro da Juventus chegou ao AllianzStadium, havia uma fila de miúdos junto às barreiras divisórias na garagem à procura de cumprimentar os jogadores que são também os seus maiores fãs. Massimilano Allegri, um dos primeiros a sair, até passou ao lado, provavelmente nem se apercebendo bem do que se estava a passar. Os jogadores, esses, foram todos lá. Logo a começar com Chiellini, o capitão que voltou a ficar de fora das opções por lesão. Quando Cristiano Ronaldo passou, foi o delírio. E o avançado estava sorridente, quase como se os últimos dias não tivessem existido na realidade bianconeri.

Bastava apenas um empate frente à Fiorentina para a Vecchia Signora carimbar o oitavo título consecutivo e 35.º da história, reforçando ainda mais o domínio no panorama do futebol transalpino – tem quase tantos triunfos como AC Milan e Inter juntos. No caso de Ronaldo, iria tornar-se o primeiro jogador de sempre a ganhar o Campeonato em Inglaterra, em Espanha e em Itália. No entanto, aquilo que se falava ainda era sobre um gesto que o avançado teve no final da derrota na Champions frente ao Ajax, dando a entender que a equipa tinha mostrado medo e fraquejado perante os holandeses. Se era isso ou não, só o próprio poderá dizer. Mas que a eliminação europeia deixou marcas, isso ninguém conseguiu esconder.

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Podem ser abordados diversos aspetos. A previsibilidade do jogo montado por Allegri, a onda de lesões sobretudo nesta segunda parte da temporada, o eclipse de algumas das maiores referências, a solidez defensiva que se foi perdendo. Certo é que, depois de ter falhado a conquista do título frente à SPAL (que daria um recorde, porque nunca ninguém tinha ganho a seis jornadas do final da prova), a equipa voltou a sentir muitas dificuldades frente aos viola, quase pedindo para que as contas ficassem fechadas de vez para tirar pressão da equipa e poder começar a preparar de forma pacífica a próxima temporada onde será proibido falhar no aspeto europeu – com ou sem Allegri, só o tempo confirmará apesar das certezas do atual treinador.

Num onze de novo com muitas ausências de peso (Chiellini, Dybala, Mandzukic…), Ronaldo até deu o primeiro sinal de perigo apesar do remate desenquadrado no seguimento de um cruzamento da esquerda de Bernardeschi mas foi a Fiorentina a abrir o marcador logo aos seis minutos, com Chiesa a ganhar bem a linha de fundo, a cruzar atrasado sem que ninguém conseguisse tirar a bola da zona de perigo (Rugani pelo meio ainda pisou o pulso de Szczesny) e Milenkovic a surgir de trás para fazer o 1-0 sem oposição na área (6′). Surpresa em Turim mas só para quem não estava a ver, com os comandados de Vincenzo Montella a conseguirem várias situações de perigo em transição – Simeone ainda viu um golo bem anulado por fora de jogo (26′).

A Juventus continuava sem ideias para entrar na área da formação de Florença, tendo apenas dois remates com pouco perigo de fora da área por Emre Can (27′) e Ronaldo (33′) antes do golo do empate, quando Alex Sandro surgiu de forma oportuna ao primeiro poste a desviar de cabeça um canto batido por Pjanic na direita do ataque (37′). Antes e depois brilhou Chiesa… e o seu excesso de pontaria: o internacional transalpino que foi esta semana apontado à equipa de Turim para a próxima temporada começou por acertar no poste (34′) e teve ainda um autêntico míssil à trave (43′), sendo sempre a unidade mais perigosa dos visitantes perante os erros de posicionamento e nas transições dos jogadores de Massimiliano Allegri.

No segundo tempo, os campeões italianos tiveram uma ligeira melhoria na qualidade ofensiva, beneficiaram também da visível quebra da Fiorentina nas saídas para o ataque e conseguiram a reviravolta logo a abrir, com German Pezzella a desviar para a própria baliza após cruzamento de Ronaldo que tinha Bernardeschi como homem do último toque (53′). Szczesny ainda teve dois lances de perigo perto da sua área, Lafont brilhou com uma grande defesa a remate de Pjanic (63′) mas seria o polaco a segurar o triunfo ao defender para canto um remate de Dabo quando estava isolado na área (90′). E tudo no dia em que a equipa feminina, fundada em 2017, também se sagrou bicampeã nacional após vencer o Verona por 3-0.

Antes do jogo, Cristiano Ronaldo recebeu o prémio de melhor jogador da Juventus no mês de março; no final, festejou mais um Campeonato, o primeiro em Itália e o sexto da carreira entre os três em Inglaterra pelo Manchester United e os dois em Espanha pelo Real Madrid – algo que mais nenhum jogador alguma vez tinha conseguido.