Os ucranianos regressam este domingo às urnas para a segunda volta das presidenciais — e o comediante Volodymyr Zelensky pode ser o escolhido para liderar um país que atravessa a sua pior crise desde a independência em 1991.

O ator e humorista Volodymyr Zelensky, sem experiência política, permanece à frente das sondagens após a sua clara vitória na primeira volta em 31 de março (30%), face ao Presidente Petro Poroshenko (16%), que tenta a reeleição. Uma vantagem que se ampliou: num estudo divulgado terça-feira estava creditado com 72% das intenções de voto, contra 25% para o seu rival.

País com 45 milhões de habitantes às portas da União Europeia (UE), a Ucrânia, ex-república soviética, é hoje considerado um dos Estados mais pobres da Europa e a desconfiança face às instituições políticas pode confirmar a eleição de um “candidato atípico”.

Caso se confirmem estas novas projeções, o comediante pode tornar-se no dirigente de um país confrontado com desafios colossais, em particular a guerra no leste, as grandes dificuldades económicas e o combate à corrupção.

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Zelensky poderá ainda reforçar a sua votação nas regiões russófonas do centro e sul da Ucrânia, incluindo a sua região de Dnipropetrovsk, onde obteve o melhor resultado na primeira volta (45% contra 30% no conjunto do país).

No passado, estas regiões votaram maioritariamente nos candidatos pró-Kremlin, mas após a anexação da península da Crimeia por Moscovo e a rebelião separatista pró-russa no leste, adotaram uma posição mais cautelosa. Apesar de recusarem uma “integração” na Rússia, as populações locais sentem-se mais próximos de Zelensky, com tradições russófonas.

A crise económica também atingiu estas regiões, em particular as suas fábricas em declínio e muito dependentes do comércio com a Rússia. Uma sondagem recente referiu que os apoiantes de Zelensky apreciam sobretudo a sua personalidade, mas estão relativamente mal informados sobre as suas respostas à crise que o país atravessa.

Agravamento das tensões com Moscovo

O ano passado foi caracterizado por um agravamento das tensas relações entre Kiev e Moscovo. A Ucrânia terminou 2018 sob regime de lei marcial, instaurada no início de dezembro e em vigor durante um mês na sequência do incidente no Mar Negro (estreito de Kerch) entre as marinhas russa e ucraniana, com a detenção de dezenas de ucranianos.

O incidente no estreito de Kerch fez recordar o conflito que se prolonga há cinco anos no leste da Ucrânia entre Kiev e os separatistas pró-russos da região do Donbass, que Poroshenko não conseguiu solucionar.

Com fracos resultados nas sondagens, o Presidente também tentou beneficiar politicamente da decisão do patriarcado de Constantinopla, que no outono reconheceu a independência do patriarcado de Kiev face ao de Moscovo.

Um sucesso que não fez esquecer os fracassos da presidência Poroshenko, que subiu ao poder na sequência da revolta de Maidan (Euromaidan) nos inícios de 2014, quando o anterior Governo do ex-Presidente Viktor Yanukovych anunciou em novembro de 2013 que não assinaria o Acordo de Associação com a União Europeia, pretexto para o início dos protestos.

Após ter evitado o colapso do país em 2014-2015 (perda da Crimeia, guerra no leste com um balanço de 13.000 mortos e milhares e feridos e refugiados), Poroshenko falhou em áreas decisivas como a reforma do Estado e o combate à corrupção.

O Acordo de Associação com a UE acabou por entrar em vigor em 2017. E apesar de a frustração se ter imposto ao entusiasmo inicial, os defensores do atual regime de Kiev argumentam que a “revolução pró-europeia” de 2014 permitiu ao país distanciar-se do modelo autoritário da Rússia, onde Yanukovych permanece, e aproximar-se dos padrões defendidos por Bruxelas.