A Rússia considerou esta segunda-feira ser “demasiado cedo” para determinar a perspetiva de um “trabalho em comum” com o novo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, eleito no domingo por maioria na segunda volta das presidenciais face ao cessante Petro Poroshenko.

“Em relação às eleições na Ucrânia, de momento é muito cedo para evocar (…) a possibilidade de um trabalho em comum. Apenas será possível determiná-lo com casos específicos”, declarou aos media o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Moscovo respeita a escolha do povo ucraniano, e em particular quando essa escolha é muito clara”, prosseguiu Peskov, apesar de questionar a “legitimidade” do escrutínio pelo facto de “os três milhões de cidadãos ucranianos residentes na Rússia não serem contemplados com a possibilidade de votar”.

Ao pronunciar-se sobre o escrutínio no país vizinho, a presidente do Senado russo, Valentina Matvienko, garantiu por sua vez que a Rússia está “disposta a dialogar com o presidente em que confiam os cidadãos da Ucrânia”, citada pela agência Interfax. Na sua perspetiva, a Rússia está interessada em “normalizar as relações, solucionar rapidamente o conflito interno entre o leste e as autoridades, para que exista paz e estabilidade na Ucrânia”.

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A senadora assegurou que o diálogo e a cooperação deverão assegurar o cumprimento por Kiev dos Acordos de Minsk para “garantir uma solução pacífica a esta crise política interna”.

O primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev também se exprimiu na sua página na rede social Facebook. Existe “uma possibilidade de melhorar a cooperação” com a Rússia, mas Medvedev admite não ter “qualquer ilusão” a esse respeito.

Ator e humorista também conhecido na Rússia, onde percorreu diversos palcos com as suas peças, Volodymyr Zelensky exprime-se sobretudo em russo e nunca fez campanha sobre questões identitárias, como a língua ou a religião. Eleito com mais de 70% dos votos e sem experiência política, prometeu no seu primeiro discurso “relançar” o processo de paz no leste da Ucrânia, onde o conflito com os separatistas pró-russos provocou mais de 13.000 mortos desde 2014.

Após a subida ao poder das novas autoridades pró-ocidentais em Kiev, Rússia e a Ucrânia registaram um sério agravamento das suas relações, e também assinalado pela anexação da península da Crimeia por Moscovo.

No entanto, e cinco anos após a anexação, a Rússia parece com capacidade para infligir pesadas perdas a potenciais adversários que a desafiarem nessa região estratégica, que inclui o Mar Negro e o Mar de Azov, separados pelo estreito de Kerch.

Em paralelo, a construção da ponte rodoviária e ferroviária entre território da Rússia e a península da Crimeia, inaugurada em 2018 pelo Presidente Vladimir Putin e com um custo de três mil milhões de euros, acentuou as pressões sobre este estreito, onde em novembro ocorreram momentos de tensão entre as marinhas russa e ucraniana.

A península da Crimeia foi fortificada com diversos sistemas de defesa antiaérea (incluindo os mísseis S-400) e outro armamento, incluindo meios navais, que implicaram um posterior reforço da presença da NATO no Mar Negro.

Em paralelo, na região do Donbass (leste da Ucrânia) os confrontos mesmo que esporádicos, são quase diários. Não foi registado qualquer progresso na aplicação dos Acordos de Minsk de fevereiro de 2015, com constantes violações do cessar-fogo pelas duas partes, devido às diferentes interpretações sobre o roteiro político do acordo.

Em 2018, os quatro países do designado “formato de Normandia” (França, Alemanha, Rússia e Ucrânia) que patrocinaram os Acordos de Minsk, não se reuniram uma única vez, e as autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass continuaram a separar-se do restante território da Ucrânia.