Poucos estádios de dois verdadeiros rivais estão separados por dois quilómetros, como acontece em Portugal com o Sporting e o Benfica. Em Manchester, porém, a distância entre o Etihad do City e Old Trafford do United estende-se por pouco mais de seis quilómetros. A história dos dérbis de Manchester, ainda assim, estende-se por 177 jogos e uma vantagem assinalável do United: os red devils têm 73 vitórias contra 52 dos citizens, que à entrada para esta partida tinham vencido o principal rival tantas vezes quanto empataram. Esta quarta-feira, no jogo da jornada 31 da Premier League que tinha ficado em atraso, essa vantagem estava reduzida a pouco ou quase nada.

O dérbi da cidade de Manchester tinha uma pressão positiva nas costas do City e uma pressão negativa nas costas do United. Se a equipa orientada por Pep Guardiola entrava no relvado de Old Trafford com a certeza de uma vitória garantia a liderança isolada da Premier League, a de Solskjaer voltava à competição depois da derrota pesada com o Everton de Marco Silva (que se seguiu, também ela, a uma outra derrota com o Barcelona que ditou a eliminação da Liga dos Campeões). Na conferência de imprensa de antevisão, o treinador norueguês do United respondeu às críticas dos adeptos, que acusam os jogadores de não mostrarem empenho suficiente, garantiu que o plantel tem algo a que chamou “espírito de Manchester United” e tentou começar a ganhar o encontro fora do relvado.

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Solskjaer revelou que avisou os jogadores sobre a agressividade dos atacantes do Manchester City no meio-campo do adversário. “Vão fazer muitas faltas. Vão atirar-se aos tornozelos e aos calcanhares”, disse o treinador, que mereceu uma resposta quase imediata de Pep Guardiola. “Ele disse isso? Com 65% ou 70% de posse bola, como é que fazemos isso? Não gosto disso. A equipa não é construída dessa forma, de todo. Em 10 temporadas enquanto treinador, nunca preparei um jogo a pensar nisso. Nunca. No futebol, às vezes as faltas acontecem porque as ações são muito rápidas. Mas nunca disse que o devíamos fazer para castigar um adversário ou para o cancelar”, defendeu o técnico espanhol. E as estatísticas estavam a favor de Guardiola.

Desde o início da temporada, o Manchester City fez 170 faltas no meio-campo adversário, viu 38 cartões amarelos e um vermelho; o United, por seu lado, cometeu 195 faltas, viu 64 amarelos e quatro vermelhos. Solskjaer tentou motivar uma equipa que levava seis derrotas nos últimos nove jogos, que sofreu golos nas últimas 11 partidas, que está fora de todas as grandes decisões e que tem jogadores que se confrontam em acesas discussões no balneário, como aconteceu logo após o final da goleada sofrida com o Everton. Atacar o adversário com acusações algo infundadas, porém, não ajudou os red devils.

A ajuda de que o Manchester United precisava foi acontecendo à medida que os minutos da primeira parte do dérbi começavam. Com Diogo Dalot e Matic fora do onze inicial — o médio sérvio não está a atravessar um bom momento e assumiu a culpa de um dos golos sofridos com a equipa de Marco Silva –, os red devils enfrentavam um City orfão de De Bruyne, que deve falhar o resto da época devido a lesão, mas com o trio de ataque titular por defeito e composto por Bernardo, Sterling e Aguero. A fazer pouco mais do que tentar contra-ataques e a entregar toda a iniciativa aos citizens, a verdade é que o Manchester United chegou ao intervalo com o resultado ainda em branco, com uma segunda parte por disputar e com as derrotas com o Barcelona e o Everton cada vez mais distantes na memória.

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Mas aos cinco minutos da segunda parte, como cereja no topo do bolo de uma boa exibição, Bernardo Silva soltou um remate rasteiro de pé esquerdo já no interior da área de De Gea, depois de fazer cair Luke Shaw, e não deu hipótese ao guarda-redes espanhol. O médio português, (outra vez) uns dos melhores da equipa de Guardiola, teve um papel preponderante naquilo que foi não só a eliminação das transições de Pogba como o ocupar do tempo do francês, atraindo-o para espaços mais laterais e longe da ligação entre meio-campo e ataque de que o United tanto precisava. Um quarto de hora depois do golo de Bernardo, Leroy Sané — que tinha entrado para o lugar do lesionado Fernandinho –, finalizou da melhor forma uma jogada de contra-ataque conduzida por Sterling.

Com os dois golos marcados em Old Trafford e a vitória no dérbi de Manchester, o City sobe à liderança isolada da Premier League com mais um ponto do que o Liverpool, numa altura em que faltam apenas três jornadas para o final da temporada, e depende apenas de si para conquistar um inédito bicampeonato inglês. Além disso, a equipa de Pep Guardiola bateu o próprio recorde estabelecido em 2013/14 e tem agora o registo de mais golos marcados numa única temporada em todas as competições em Inglaterra (157). Já o Manchester United, que apesar de tudo beneficiou da derrota do Arsenal com o Wolves e continua a dois pontos do quinto lugar, leva sete derrotas em nove jogos e apenas dois golos marcados (ambos de penálti) nas últimas cinco partidas.