A Coreia do Norte pediu dois milhões de dólares aos Estados Unidos [cerca de 1 milhão e 800 mil euros, no câmbio atual], pelos cuidados hospitalares prestados a Otto Warmbier, o estudante condenado a 15 anos de prisão por ter roubado um cartaz de propaganda norte-coreana durante uma excursão turística. De acordo com a notícia do The Washington Post, o pagamento dessa conta seria a condição para que Otto Warmbier pudesse regressar aos Estados Unidos, em 2017. O jovem, que estava em coma, acabou mesmo a ser enviado para o país de origem. Mas morreu dias depois.

Segundo o The Washington Post, que cita duas fontes próximas do processo, o representante dos Estados Unidos enviado à Coreia do Norte para negociar a libertação de Otto Warmbier aceitou pagar essa conta de cuidados hospitalares por indicação do presidente norte-americano Donald Trump. A conta foi então enviada para o Departamento do Tesouro e Otto Warmbier regressou aos Estados Unidos — onde chegou em coma e morreu cinco dias depois. Não se sabe, porém, se os dois milhões de dólares alguma vez foram pagos à Coreia do Norte.

Não há explicação para o facto de Otto Warmbier, com 21 anos na altura em que visitou a Coreia do Norte, ter entrado em coma após ter sido detido por “atos hostis contra a República Democrática da Coreia do Norte”. As autoridades norte-coreanas dizem que o jovem tinha contraído botulismo — uma doença rara provocada por uma bactéria — e que desmaiou, para nunca mais acordar, após ter tomado um comprimido para dormir.

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Os norte-americanos só souberam que Otto Warmbier estava em coma em junho de 2017, altura em que dois médicos foram enviados ao Hospital da Amizade, onde são tratados os estrangeiros na Coreia do Norte, para acompanhar a situação do estudante. Encontraram-no inconsciente e com um tubo de alimentação no nariz. Michael Flueckiger, um desses médicos, escreveu num relatório exigido pela Coreia do Norte dizendo que Otto estava a receber “muito bons cuidados” após um “colapso cardiovascular”. Fala até de uma “reanimação de estado da arte”.

Os Estados Unidos dizem que o médico não mentiu nesse relatório. Mas Michael Flueckiger chegou a confessar: “Tive a impressão que, se não lhes desse um documento que eu pudesse assinar, isso causaria problemas”. Questionado sobre a veracidade dos elogios tecidos aos médicos norte-coreanos no documento, Michael Flueckiger respondeu: “Teria mentido para tirá-lo de lá? Talvez tivesse. Mas nunca tive de responder a essa pergunta”.

Os dois milhões de dólares seriam, afinal, uma espécie de resgate? A Casa Branca não quis prestar declarações sobre o caso. Numa resposta enviada por Sarah Sanders ao The Washington Post, a responsável pela comunicação escreveu: “Não comentamos negociações de reféns, até porque é por isso que têm sido tão bem sucedidas durante esta administração”. Antes, em setembro do ano passado, Donald Trump já tinha dito que nunca pagou nada para retirar norte-americanos da Coreia do Norte. E os pais de Otto dizem não ter conhecimento de qualquer conta enviada da Coreia do Norte para os Estados Unidos. “Isso soaria a um pedido de resgate”, comentou o pai, Fred Warmbier.

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