Pelo menos 228 mil armas e munições das Forças Armadas e das polícias da Venezuela desapareceram, denunciou hoje a organização não-governamental FundaRedes, alertando que estarão a ser comercializadas entre grupos ilegais. A denúncia foi feita pelo diretor da FundaRedes, Javier Tarazona Sánchez, que entregou ao Ministério Público venezuelano uma listagem das armas desaparecidas, indicando o tipo e os respetivos números de série.

“Muitas têm servido para comercialização ou entrega a grupos irregulares e criminosos, entre outras organizações ilícitas”, explicou aos jornalistas.

Segundo aquele responsável, há “indignação” entre os militares venezuelanos, porque algumas armas das Forças Armadas da Venezuela foram parar “a grupos irregulares colombianos” que operam no país, principalmente nos estados próximos da fronteira com a Colômbia.

Javier Tarazona Sánchez, que também é deputado, disse ainda estar preocupado com a falta de resposta oficial sobre o desaparecimento destas armas e perguntou “se estarão em mãos dos mal chamados ‘coletivos’ [motociclistas armados afetos ao regime] e dos milicianos, para defesa da revolução”.

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Desde 2017 que a FundaRedes tem denunciado o desaparecimento de armas de instituições militares da Venezuela, perante o Ministério Público, o Ministério da Defesa, e outros organismos oficiais venezuelanos. “Lamentavelmente não sabemos quais os resultados reais das investigações nem muito menos os atos e ações conclusivas para dar com o paradeiro de milhares de munições e armas de guerra, que por distintas vias têm chegado a diferentes organizações criminosas”, explicou ao portal La Patilla.

Segundo Javier Tarazona Sánchez, “o surgimento de numerosos grupos de civis armados, em defesa da revolução, tem-se convertido num problema de ordem pública”.

“Cada vez que há manifestações ou protestos, mesmo que sejam de vizinhos reclamando pelo abastecimento de gás, de combustível ou pela falta de alimentos e medicamentos, aparecem os mal chamados ‘coletivos’, que, com armas nas mãos, exercem medidas de ameaça e coerção contra os manifestantes”, disse.

Na Venezuela, em várias ocasiões, utilizadores da rede social Twitter, têm divulgado vídeos e fotografias de grupos de civis armados, algumas vezes encapuzas, ameaçando manifestantes, jornalistas e dirigentes políticos.

Nas últimas semanas foram divulgados vídeos em que se viam indivíduos armados, com o rosto descoberto, assassinam a tiros alegados membros de grupos criminosos rivais e até indivíduos suspeitos de efetuar roubos em propriedades alheias.