Jonas, a criança alemã que viu o pai agredir a mãe e o irmão em Tenerife, vai ser ouvido em tribunal, provavelmente, na próxima quarta-feira, noticiou o jornal El País. O menino prestará declarações para memória futura, numa audição acompanhada por psicólogos e intérpretes que será gravada para que não tenha de voltar a ser interrogado sobre o caso. As autoridades alemãs abriram entretanto uma investigação paralela à que decorre em Espanha, que já levou à detenção do pai do menino.

Até lá — e até que possa voltar para a Alemanha onde tem a família —, Jonas vai continuar na casa abrigo onde se encontra, sob a responsabilidade do Governo das Canárias. O menino, que completa oito anos em duas semanas — embora inicialmente tenha sido apontado como tendo cinco anos —, brinca com as outras crianças ainda que não perceba o que dizem, descreve o jornal El País. Com ele guarda guloseimas para o irmão Jakob. Jonas ainda não sabe que a mãe e o irmão morreram.

O pretexto de irem procurar guloseimas da Páscoa foi usado por Thomas Handrick para levar a mulher, de quem estava separado, e os filhos para uma caverna perto de Adeje, em Tenerife, nas ilhas Canárias. Já dentro da gruta, o alemão de 43 anos começou por agredir Silvia, de 39 anos, e depois o filho de 10 anos. Jonas presenciou parte das agressões, viu a mãe no chão e de cara ensanguentada, mas fugiu antes de ser agredido também. Foi encontrado várias horas mais tarde, por uma moradora, depois de ter caminhado cerca de quatro quilómetros.

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A criança não chegou a ver a mãe e o irmão serem assassinados, mas aquilo a que assistiu será fundamental para a investigação. Assim como já foi para encontrar os corpos e para localizar a casa onde o pai estava alojado. Thomas Handrick encontra-se, neste momento, em prisão preventiva suspeito de duplo homicídio da mulher e filho mais velho e de tentativa de homicídio do filho mais novo. Mãe e filho foram agredidos com muita violência, tinham múltiplas fraturas no crânio e estavam completamente desfigurados, de tal forma que só foi possível identificá-los com análises de ADN.

As autoridades consideram que o crime foi premeditado. “O mais provável é que tenha estado ali [na caverna] antes e que tenha mesmo deixado ali as pedras com que agrediu a família”, disse uma fonte próxima do caso, citada pelo El País. O facto de nunca ter entrado em colapso é, para os investigadores, um sinal de que a agressão tinha sido premeditada. “Quando alguém mata sem premeditação, o mais habitual é que confesse”, dizem os especialistas, citados pelo El País. Mas Thomas Handrick não confessou, não perguntou pelo filho, recusou-se a responder a perguntas e só abriu a boca para perguntar pelos medicamentos que precisa de tomar.

Alemanha vai conduzir uma investigação independente ao sucedido

Silvia e Thomas Handrick estavam separados desde 2016, mas o marido recusava-se a conceder-lhe o divórcio como ela pedia. Silvia vivia com os filhos em Halle, na Alemanha, e Thomas viva em Adeje há dois anos, embora não lhe seja conhecido registo de residência ou um emprego, como noticiou o jornal El País. A mulher e os filhos tinham chegado às Canárias na segunda-feira, para uns dias de férias, e foram agredidos no dia seguinte.

“O meu pai tem um carro novo.” A frase da criança alemã que levou à prisão do pai

Tratando-se de cidadãos alemães que só estavam na ilha de férias, as autoridades alemãs decidiram dar início a uma investigação, como confirmou ao jornal ABC o porta-voz do Ministério Público alemão. O processo de investigação aberto pelo procurador de Halle pode dar origem a um pedido de extradição de Thomas Handrick. Se fosse julgado em Espanha, o alemão seria julgado por um crime de violência contra mulheres, na Alemanha esta figura legal não existe, por isso seria tratado como um caso de duplo homicídio com agravante de premeditação e crueldade, referiu o jornal. Espanha também terá pedido à Alemanha para fazer buscas na casa da família em Halle.

Jonas vai continuar na casa de abrigo até que possa voltar à Alemanha. Chegou a ser avançado que os avós maternos o iriam buscar à ilha, mas a família está demasiado transtornada e foi-lhes aconselhado que não fizessem a viagem. Um padre alemão, que é amigo da família e que já visitou o menino, poderá vir a ficar responsável por levá-lo de volta ao país de origem.