“Falta-me ser melhor jogador”, disse João Sousa, o recém-consagrado campeão do Millennium Estoril Open, a 6 de maio de 2018, na conferência de imprensa após ter derrotado o norte-americano Frances Tiafoe, por duplo 6/4. Um ano depois, João Sousa chega ao Clube Ténis do Estoril no 51.º lugar do ranking mundial – 17 lugares acima daquele que ocupava o ano passado – e pela frente vai ter o carrasco de Gastão Elias, na fase de qualificação.

Para além de João Sousa, Portugal vai estar representado no quadro principal deste torneio do circuito mundial através de Pedro Sousa – que recebeu um convite da organização –, e de João Domingues, que ultrapassou este domingo a última ronda de qualificação e se junta assim pelo terceiro ano consecutivo ao quadro “dos grandes”.

O atual detentor do título, João Sousa, vai jogar apenas na terça-feira e conheceu este domingo o adversário da ronda inaugural – onde perdeu em três edições consecutivas, antes de ganhar o torneio. O checo Alexei Popyrin tem apenas 19 anos, um título de Roland Garros – em juniores – no currículo e chega ao Estoril com o melhor ranking ATP da (curta) carreira. Para chegar ao quadro principal, Popyrin começou por dar o primeiro balde de água de água fria aos adeptos portugueses, ao derrotar Gastão Elias na ronda inaugural de qualificação, por 7-5 e 7-6 (5).

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Gastão, que se encontra perdido no meio da reforma dos rankings mundiais que o deixam de fora dos torneios maiores e o podem forçar a disputar torneios do circuito ITF (a 3ª divisão do ténis), lamentou a falta de ritmo a este nível. “É uma desgraça isto dos rankings. O ano passado perder na ronda inaugural ainda dava para pagar as despesas, agora nem para as despesas dá. Muito poucos jogadores vão conseguir sustentar-se na modalidade”, lamentou Gastão Elias, no rescaldo de uma partida em que diz ter “entrado no jogo apenas no final do segundo set”, devido ao jogo “curto e defensivo” do australiano. Fica a dica, João.

O vimaranense está no Estoril desde sexta-feira, quando chegou do torneio de Barcelona – e já teve oportunidade para andar de helicóptero ao lado do tenista que derrotou na final do ano passado –, diz que está a “fazer tudo igual” no que toca à preparação. Para este ano, e porque melhor do que ganhar uma vez é ganhar duas, o melhor português do ranking mundial não foge ao objetivo e diz que não há “estados de espírito: a partir de agora é lutar ponto a ponto”. O português pode até começar contra um tenista vindo da qualificação, mas para chegar à final pode ter que defrontar David Goffin, Alex De Minaur ou Stefanos Tsitsipas, o principal favorito desta edição.

Quem também vem do quadro de qualificação, como Popyrin, é o português João Domingues, que conseguiu ultrapassar a fase prévia do Estoril Open pelo terceiro ano consecutivo. Depois de ter batido o sueco Elias Ymer na ronda inaugural, o tenista de Oliveira de Azeméis venceu este domingo o italiano Filippo Baldi, por 6/2 e 6/4. Num encontro em que diz não se ter sentido “confortável”, João Domingues mostrou-se satisfeito por ter “cumprido o objetivo”, mas não nega que agora ambiciona ir mais longe. Apesar de não estar no melhor ranking da carreira, o tenista português reconhece estar “um jogador mais completo”, um processo que está ainda em construção, tendo em conta que a partir de quarta-feira vai contar com o acompanhamento do técnico brasileiro Lari Passos – que esteve nos bastidores dos três títulos de Gustavo Kuerten em Roland Garros.

Quando soube, em plena conferência de imprensa, que vai defrontar o australiano Alex De Minaur na ronda inaugural – já esta segunda-feira –, não soube responder a uma questão de um “mini-jornalista” que lhe perguntou qual a estratégia para não ter que correr muito? “Não sei, mas vou perguntar aos meus treinadores e amanhã espero que te consiga dar a resposta”, disse, entre risos.

Quem este domingo não deve ter tido dúvidas quanto à roupa a vestir deve ter sido Pedro Sousa, outro dos portugueses presentes no quadro principal. O benfiquista ferrenho pode acompanhar mais descansado o encontro entre os encarnados e o SC Braga, tendo em conta que desde sábado que conhece o adversário desta segunda-feira. O norte-americano Reilly Opelka, que também já venceu um Grand Slam júnior, em Wimbledon, é outra das figuras da Next Gen do ténis mundial – o nome dado pelo circuito aos jovens tenistas. Mede 2,11m, o que o torna um perigoso servidor, característica que não foi esquecida por Pedro Sousa na antevisão do encontro: “Não dá muito ritmo nas trocas de bolas, porque procura fechar rápido os pontos. Vou tentar desgastá-lo o máximo possível, fazê-lo jogar mais, tentar responder ao serviço quando for possível e tentar aproveitar as oportunidades “, disse o tenista lisboeta à Agência Lusa.

A estratégia parece simples mas implica conseguir responder a serviços que rondam os 200kms/h e que têm feito mossa em adversários com características de jogo idênticas. Que o diga, John Isner, mais baixo do que o compatriota e que este ano já acumula duas derrotas contra Opelka: a primeira na ronda inaugural do Austrália Open e a segunda no torneio ATP de Nova Iorque, que acabou por ser o primeiro torneio conquistado por Opelka na primeira divisão do ténis mundial.

A par do torneio de singulares, disputado por João Sousa, Pedro Sousa e João Domingues, vários portugueses vão ainda disputar o torneio de pares: João Sousa vai jogar ao lado do argentino Leonardo Mayer, Pedro Sousa junta-se a Gastão Elias e João Domingues vai jogar ao lado do espanhol Pedro Martinez. O quadro principal do Estoril Open começa esta segunda-feira, 29 de abril e decorre até domingo, 5 de maio, no Clube Ténis do Estoril.