Morreu na madrugada desta segunda-feira José de Almeida Fernandes um dos pioneiros das políticas públicas de ambiente em Portugal. Biólogo de formação, tinha 87 anos, e teve um papel importante quer no movimento associativo – foi muitos anos presidente da Liga para a Proteção da Natureza, a primeira organização dedicada à conservação da natureza da Península Ibérica –, quer aos primeiros organismos públicos de defesa do ambiente, como a Comissão Nacional do Ambiente, criada em 1971.
Depois de ter iniciado a sua carreira como investigador no Museu Bocage (agora parte do Museu Nacional de História Natural e da Ciência), em 1975 passou a dedicar-se a tempo inteiro às políticas de ambiente, tendo desempenhado funções muito variadas quer como representante de Portugal em organizações internacionais — foi o responsável pela primeira representação portuguesa no Comité Europeu para a Conservação da Natureza, logo em 1974 —, quer como consultor e adjunto de diferentes gabinetes ministeriais, quer como presidente do Instituto de Conservação da Natureza e, mais tarde, de um novo organismo que imaginou e montou, o Instituto de Promoção Ambiental, focado na educação ambiental.
“A nossa associação perdeu um amigo e líder histórico, que deixou marcas importantes na Sociedade e na Conservação da Natureza”, disse a LPN numa nota de pesar sobre a morte do associado que, durante três décadas, foi dirigente da associação que ajudou a fazer crescer. “Ao longo da sua vida profissional mostrou sempre uma grande dedicação aos valores ambientais, pelos quais pugnou com grande visão, tanto na LPN como nas várias instituições públicas que liderou.”
José de Almeida Fernandes foi também um dos fundadores da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) — e presidente de 1990 a 1994. “Era um brilhante profissional, sempre zeloso e comprometido com o seu trabalho e com as questões ambientais”, escreveu a associação numa nota de pesar. “A Associação Bandeira Azul da Europa agradece todo o trabalho desenvolvido e,
sobretudo, o contributo para o crescimento da ABAE e para o consequente despertar para a educação ambiental.”
“Se a educação ambiental tem o seu lugar na política de ambiente em Portugal deve-se ao Dr. José de Almeida Fernandes”, disse ao Observador Teresa Goulão, co-fundadora da ABAE. “Quanto a mim devo-lhe, meu Mestre, o que me ensinou e ainda não ter soçobrado no combate por esse sonho.” A especialista em Ambiente diz que, graças a Almeida Fernandes, “com entusiasmo e ingenuidade julgávamos que com a nossa tenacidade poderíamos mudar o mundo”.
O seu trabalho seria reconhecido em 2010 com o Prémio Carreira Fernando Pereira, atribuido pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente a pessoa, instituição ou empresa que se distinga “na sua acção como amiga do ambiente”. Mais tarde, a 22 de abril de 2015, Dia da Terra, foi uma das seis personalidades homenageadas pelo governo numa cerimónia que celebrou a data com a assinatura do Compromisso para o Crescimento Verde. Os outros homenageados foram Gonçalo Ribeiro Telles, José Correia da Cunha, Mário Ruivo, Tomás Espírito Santo e Humberto Vasconcelos.
Dia da Terra: a política de Ambiente também tem uma história e os seus heróis
José de Almeida Fernandes era pai do publisher do Observador José Manuel Fernandes e da jornalista do Público Ana Fernandes.
O corpo estará em câmara ardente a partir das 17h00 desta segunda-feira nas capelas mortuárias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa. O funeral realizar-se-á para o cemitério do Alto de São João esta terça-feira, dia 30 de Abril, a seguir à missa de corpo presente, marcada para as 15h00.
Atualizado com nota de pesar da ABAE e Teresa Goulão (14h45)
Atualizado com nota de pesar da LPN (dia 30/04, 14h15)