Enquanto o presidente dos Estados Unidos da América atacava a comunicação social num evento de campanha em Wisconsin, alguns dos mais importantes jornalistas norte-americanos reuniam-se em Washington para o anual Jantar de Correspondentes da Casa Branca. Foi o terceiro consecutivo a que Donald Trump faltou, desta vez com ordens para que a maioria da sua equipa falhasse também o convívio entre políticos e jornalistas.

Na noite de sábado, Donald Trump ouvia uma multidão a berrar “A CNN não presta!“. Já os participantes do Jantar de Correspondentes tinham escolhido substituir o habitual comentário cómico de atualidade de um humorista reconhecido — Conan O’Brien, Jimmy Kimmel, Jay Leno, Stephen Colbert, Jon Stewart ou Michelle Wolf, por exemplo, foram já foram protagonista — por um sóbrio discurso do historiador, autor, e vencedor de um Pulitzer, Ron Chernow.

Donald Trump, na noite do jantar, em Green Bay, Wisconsin, (SAUL LOEB/AFP/Getty Images)

As relações entre um presidente e a imprensa são inevitavelmente duras, quase adversariais, mas não têm de estar cobertas de veneno“, sublinhou Chernow, comparando primeiro Donald Trump com George Washington (que, disse, se sentia atacado pela comunicação social, mas nunca a atacava em público) e depois com John Adams. O antigo presidente dos EUA perdeu a re-eleição em 1800 após um mandato em que tentou limitar a liberdade de imprensa, um sinal claro para Chernow de que “o tribunal da história não é misericordioso para com os presidente que punem a imprensa livre”.

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Ainda sobre o legado de Donald Trump, Chernow considerou que este seria rapidamente esquecido pela história: “As campanhas contra a imprensa não criam esculturas da tua cara no Monte Rushmore, porque quando se ataca a imprensa, ataca-se a nossa democracia“. Chernow referiu ainda que Trump — a quem o historiador se referiu pelo nome apenas uma vez — “não será nem o primeiro nem o último presidente a fazer tremer” a liberdade de expressão, sendo necessário que os jornalistas sejam “humildes, céticos e que estejam vigilantes para que não sejam infetados pela coisas contra as quais estão a tentar lutar”.

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O historiador demarcou-se também da noção de “factos alternativos” cunhada pela administração de Trump: “Sem factos não podemos ter um desentendimento honesto. Eu aplaudo qualquer presidente que queira receber o prémio Nobel da paz, mas não quero um presidente a concorrer ao prémio Nobel em ficção“.

Ainda assim, Chernow admitiu estar otimista, parafraseando William Seward, um secretário de estado do histórico presidente Abraham Lincoln: “Houve sempre virtude suficiente nesta república para a salvar; às vezes não havia nenhuma de sobra, mas havia sempre suficiente para corresponder à emergência”.

Ron Chernow deixou claro que, para ele, a presidência de Donald Trump era uma emergência a que era necessário responder, mas que era preciso primeiro reconhecer: “Podemos salvar o que resta da honra deste país. A América não foi fantástica quando se gabava, não quando tropeçava, mas quando admitia os seus erros e os tentava ultrapassar“.

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