“O Professor e o Louco”

Em 1998, o jornalista Simon Winchester publicou um livro chamado “The Professor and the Madman: A Tale of Murder, Insanity, and the Making of the Oxford English Dictionary”. Nele se conta a história de Sir James Murray, o filólogo escocês autodidata que em finais do século XIX dirigiu a publicação da primeira edição do “Oxford English Dictionary”, e do Dr. W.C. Minor, um cirurgião militar americano condenado por assassínio e encarcerado numa prisão-manicómio em Inglaterra, e espírito brilhante que contribuiu com milhares de entradas para o mesmo. Mel Gibson comprou os direitos do livro para o levar ao cinema, o que conseguiu ao final de 20 anos com este “O Professor e o Louco”, entregando a realização ao seu colaborador Farhad Safinia, guardando para si o papel de Murray e entregando o de Minor a Sean Penn.

Passou-se que, uma vez “O Professor e o Louco” completado, a produtora do ator entrou em litígio com outra ligada ao filme, e Mel Gibson acabou por perder todos os direitos sobre este em tribunal. A versão que chega às salas, e que Gibson boicota, foi montada à sua revelia e da sua equipa, e o nome do realizador retirado. “O Professor e o Louco”, agora atribuído a um dos argumentistas, P.B. Sherman, traz marcas claras desse litígio, parecendo dois filmes diferentes num só. Um primeiro, centrado no início da elaboração do dicionário e na relação de amizade que se estabelece entre Murray e Minor através dos seus interesses intelectuais comuns, e um segundo, uma intriga romântica entre este e a viúva do homem que matou. Gibson e Penn estão ambos muito bem metidos nas suas personagens, mas não ocultam as deficiências e os desequilíbrios formais e de nexo da fita.

“Até que o Porno nos Separe”

De um lado está Eulália, uma portuense de 65 anos e de origem modesta, mulher católica e tradicionalista; do outro, está Sydney, o seu filho adotivo, a quem Eulália ama e quer como se tivesse sido ela a dá-lo à luz, e que escondeu à mãe que é homossexual e que na Alemanha, para onde emigrou, é ator de filmes pornográficos “gay”, com o nome de Fostter Riviera. Este novo documentário de Jorge Pelicano (“Ainda há Pastores”, “Páre, Escute, Olhe”) regista o choque de Eulália quando soube, por outros, a verdade sobre o filho, e as angústias e dilemas por que ela passou até conseguir reconcilar-se com Sydney , num processo feito quase exclusivamente por computador e no Facebook, por causa da distância que os separava. Eulália surge-nos, na sua natural e comovente aflição de mãe, como uma pessoa muito mais digna da nossa simpatia e empatia do que o estouvado, superficial e egocêntrico Sydney (o pai mal se vê e deduzimos que cortou definitivamente com o filho), e Jorge Pelicano serve mal o filme com um final “inspirador” forçado e redundante, em que Eulália aparece transformada em ativista do movimento LGBT, discursando e gritando palavras de ordem numa manifestação no Porto.

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“Ruben Brandt, Coleccionador”

Uma longa-metragem de animação feita na Hungria pelo realizador esloveno Milorad Krstic, que recorre a técnicas modernas para desenvolver um enredo que envolve história da arte, cinefilia, psicanálise e uns pozinhos de política do tempo da Guerra Fria. Ruben Brandt é um psiquiatra atormentado por sonhos recorrentes em que é ferozmente atacado por figuras de 13 grandes quadros do cânone da arte ocidental, e que o tentam devorar, mutilar, afogar ou encher de balázios, desde infantas de Velázquez até à Vénus de Botticelli, passando por personagens de Edward Hopper e pelo Elvis Presley de Andy Warhol. Intrigados, quatro dos seus pacientes, que o estimam particularmente, incluindo uma bela cleptomaníaca e ladra de alto coturno chamada Mimi, resolvem ajudá-lo. E para isso, é preciso que roubem os 13 ditos quadros, que estão expostos em museus como o Louvre, a Tate ou o MoMA. Ou no seu equivalente, no mundo parte realista, parte cubista e parte onírico em que a fita se passa. “Ruben Brandt, Coleccionador” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.