O Facebook está a tentar apertar a malha a quem propaga um discurso extremista de ódio e violência na sua rede social. Esta quinta-feira, a empresa presidida por Mark Zuckerberg revelou ter banido “permanentemente” várias “figuras e organizações anti-semitas e de extrema-direita”, noticia o The Washington Post — mas não só.

Entre as contas banidas pelo Facebook estão a de algumas figuras mediáticas associadas a posições extremistas, como “o líder da Nação do Islão” — habitualmente acusada de antissemitismo e de defesa da supremacia negra — Louis Farrakhan, o fundador do site de fake news e teorias da conspiração Infowars (que também foi banido), Alex Jones, o antigo editor do site de extrema-direita Breitbart News Milo Yiannopoulos e a ativista de extrema-direita e promotora de teorias de conspiração Laura Bloomer.

Alex Jones e o Infowars já haviam sido banidos do Facebook em agosto do ano passado, mas foram agora bloqueados em definitivo também no Instagram, rede social do mesmo grupo, refere a CNN. Também Paul Nehlen, um político norte-americano defensor da supremacia branca acusado de antissemitismo — que tentou candidatar-se a um lugar no Congresso dos EUA em 2016 e 2018 —, foi banido das redes sociais do Facebook.

O popular comentador político britânico de extrema-direita Milo Yiannopoulos foi banido da rede social (@ Michael Masters/Getty Images)

Para justificar esta série de bloqueio de contas, o Facebook alegou que os donos dos perfis banidos são “perigosos”. Os responsáveis do Facebook terão decidido banir “as contas, páginas de fãs e páginas de grupos associados a estes indivíduos” no Facebook e no Instagram, depois de reavaliarem o conteúdo que as contas haviam difundido e examinado as atividades dos seus autores fora das redes sociais, garantiu a empresa, citada pelo The Washignton Post.

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Num e-mail citado pela BBC, o Facebook lembrou que Alex Jones convidou para o seu programa de rádio Gavin McInnes, líder do grupo Proud Boys, “cujos membros são conhecidos pela retórica racista, anti-muçulmana e misógina”. A empresa recorda ainda que esta figura da organização neo-fascista Proud Boys foi “publicamente elogiada por Milo Yiannopoulos” e terá sido apoiada também por Laura Loomer. Já Louis Farrakhan terá feito “vários apontamentos antissemitas no início deste ano”, o que originou o bloqueio.

Um manifestante numa marcha em Denver organizada pelo grupo The Proud Boys em conjunto com o grupo Bikers Against Radical Islam (@ JASON CONNOLLY/AFP/Getty Images)

Numa declaração tornada pública, o Facebook afirmou que há muito tem procurado banir “indivíduos ou organizações que promovem ou se relacionam com ações de violência e ódio, independentemente da ideologia.  O processo para avaliar os potenciais prevaricadores é extensivo e é esse processo que nos levou à decisão de remover estas contas hoje”.

O The Washington Post recorda que os autores dos massacres recentes no Sri Lanka e na Nova Zelândia usaram redes sociais para espalhar as suas mensagens de violência, antes dos ataques. Citado pelo mesmo meio de comunicação social norte-americano, o presidente do grupo de lobby contra a promoção de ideias de supremacia branca Media Matters, Angelo Carusone, afirmou que o momento em que estas intervenções do Facebook acontecem “nunca é acidental” e que “há hoje tiroteios em massa e homicídios em massa a ocorrer que estão claramente relacionados com ideias de genocídio branco, que estão a alimentar a radicalização” digital.

Os autores de contas bloqueadas já se defenderam das acusações do Facebook. Um dos alegados extremistas banidos, Alex Jones, classificou o bloqueio permanente de que foi alvo como “autoritário”e afirmou não lhe ter sido apresentada qualquer prova de que fosse “perigoso”, como a rede social defende. Jones acrescentou: “Parece que a liberdade de expressão na América é perigosa. É cómico”. Já Yiannopoulos desafiou o jornalista do The Washington Post que o contactou a “ler Orwell”, fazendo referência ao seu romance 1984. “Vocês são os próximos”, apontou ainda.

O norte-americano Alex Jones, que tem difundido teorias da conspiração de extrema-direita através da rádio e internet (nomeadamente através do programa The Alex Jones Show), também foi bloqueado (@ Drew Angerer/Getty Images)

Quem apoiou esta série de bloqueios permanentes de contas foi Madihha Ahussain, do grupo de oposição à intolerância contra muçulmanos Muslim Advocates. Ahussain afirmou: “Aplaudimos o Facebook por dar este positivo passo para a remoção de intervenientes que promovem discurso de ódio das plataformas da empresa. Como vimos em Christchurch, na Nova Zelândia — onde um nacionalista branco conseguiu transmitir em direto o massacre de 50 pessoas em duas mesquitas — plataformas online como o Facebook têm sido usadas para alvejar comunidades e espalhar o ódio“.

À CNN, um porta-voz do Facebook — não identificado — garantiu que o processo que culmina na decisão de bloquear em definitivos contas das suas redes sociais é longo e detalhado. Este processo inclui a verificação de alguns dados, como a pessoa ou organização em causa já ter apelado a violência contra indivíduos por causa da sua raça, etnia ou nação de origem; encontrar-se identificada com uma ideologia de ódio; ter usado discurso de ódio ou insultos na sua secção identificativa “sobre” nas redes sociais; e já ter tido páginas ou grupos por si coordenados removidos do Facebook por violarem as regras de discurso de ódio.

“Em alguns casos”, referiu a mesma fonte à CNN, “quando o Facebook bane um indivíduo ou uma organização, também restringe que outros possam elogiar ou expressar apoio” aos utilizadores e páginas banidas. Esta política, contudo, “pode não se aplicar a nenhum ou a todas as pessoas banidas esta quinta-feira”.

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