O período em que o Sporting conquistou sete Campeonatos Nacionais em oito anos e ganhou a alcunha de “Crónico” (por partir para cada temporada como o favorito indiscutível ao triunfo final) foi o melhor da história do futebol verde e branco, muito por culpa de um quinteto de avançados a quem se chamou “Cinco Violinos” mas que tinha muito mais música do que o nome aparenta. Dentro desse período de sonho no clube, houve uma época que mereceu particular destaque, a de 1946/47 – aquela em que foi batido o recorde de golos numa só edição da prova com 123 golos em apenas 26 jogos. E dentro dessa temporada, houve um jogo em especial que marcou tudo o resto. Esta tarde, no Jamor, os leões “imitaram” o feito.

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A primeira jornada do Campeonato, a 24 de novembro de 1946, aconteceu num contexto muito específico, uma semana antes de um memorável final de Campeonato de Lisboa em que o conjunto do inglês Robert Kelly ganhou ao Benfica por 3-1 num jogo em que Azevedo, um dos melhores guarda-redes da história do clube, saiu pouco antes do intervalo com por lesão mas voltou a meia hora do final com o braço ao peito para ajudar a equipa a conquistar o troféu (não havia substituições na altura). Com Valentim na baliza, era a estreia da linha atacante que alcançaria números como não mais ninguém conseguiria e o primeiro encontro deixou logo o sinal do que iria acontecer ao longo das 26 jornadas: os leões ganharam por 9-5 no Campo do Famalicão, com seis golos de Peyroteo, dois de Vasques e um de Travassos, ambos estreantes pelos verde e brancos nessa edição.

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Daí para cá, não mais o Sporting conseguiu alcançar oito ou mais golos fora num jogo do Campeonato. Mas houve outros feitos paralelos nesta goleada “anormal” frente ao Belenenses SAD por 8-1 – a equipa igualou os 70 golos à 32.ª jornada conseguidos em 2002 com Bölöni e em 2016 com Jorge Jesus; venceu mais de 30 anos depois uma partida pela margem de sete ou mais golos (7-0 ao Penafiel em 1988, com póquer de Paulinho Cascavel); e chegou ao décimo encontro de sempre no Campeonato em que uma formação visitante conseguiu marcar oito ou mais golos (três delas em jogos dos leões). Com tudo isso, este já é o melhor ataque do Sporting nas últimas três temporadas, apenas a três de se tornar o melhor nos últimos 45 anos.

Em termos coletivos, Marcel Keizer conseguiu também igualar o melhor período de vitórias consecutivas da era Jorge Jesus (dez), levando ainda nove triunfos no Campeonato, algo que não acontece desde 2005/06 quando Paulo Bento era o treinador. Os leões atravessam a melhor fase da época e da vigência do holandês, quando faltam apenas duas jornadas para o final do Campeonato antes da final da Taça de Portugal – ao ponto de, no plano matemático, poderem ainda alcançar a segunda posição, necessitando para isso que o FC Porto perca com o Nacional e no clássico com os verde e brancos da última ronda.

No meio de tantos registos, houve um outro recorde que passou ao lado e que explica também o domínio que o Sporting conseguiu ter no Jamor frente ao Belenenses SAD, que ficou reduzido a dez elementos após expulsão de Muriel logo aos 21′: a formação verde e branca bateu o recorde a nível de precisão de passe no decorrer da primeira parte, com uma eficácia de 94% que superou os 90% do Rio Ave frente ao Boavista e dos 89% do FC Porto este sábado com o Desp. Aves. Contas feitas, e no final da partida, os leões falharam apenas 38 passes ao longo dos 90 minutos, algo que ninguém tinha alcançado na Liga.

“O jogo foi diferente a partir da expulsão mas tudo nasce de um bom ataque do Sporting. A minha equipa esteve muito bem. Estavam duas equipas em campo a jogar e a pressionar, sei que o resultado não se ajusta ao que foi o jogo, mas o futebol é assim. Estivemos bem e marcamos. Foi um bom jogo. Sporting invencível? Não vemos isso assim. Queremos melhorar, estar bem. Vemos a equipa a pressionar alto, a jogar bem e a desfrutar. No ataque, todos tentam dar golos aos colegas, não pensam só em si. É um feito coletivo e isso é muito bom. O regresso de Dost também foi importante para o clube, para os companheiros e para ele, até por ter marcado depois de uma paragem de quase dois meses”, sintetizou Marcel Keizer na flash interview da Sport TV após a goleada do Sporting ao Belenenses SAD por 8-1 no Jamor, a contar para a antepenúltima jornada.