O Valencia não teve propriamente o melhor início de temporada. Melhor: olhando para os resultados da equipa nos primeiros 11 encontros na Liga, até surpreende que não tenha trocado de treinador, naquele que seria o impulso natural de quem sonha ocupar um lugar com acesso à Liga dos Campeões e vê apenas uma vitória. Marcelino Toral ficou, as vitórias começaram a surgir e, além de estar a três pontos do quarto lugar ocupado pelo sensacional Getafe, apurou-se para a final da Taça do Rei e chegou às meias da Liga Europa. Dani Parejo, capitão, foi um dos motores para essa recuperação que alterou o rumo da época.

A ajuda francesa que afastou Unai Emery do karma (e deu ao Arsenal uma vantagem importante frente ao Valencia)

Num plantel com tantos internacionais de diferentes nacionalidades, o espanhol foi apenas um dos quatro que passou na sua carreira por Inglaterra (os outros foram o ex-benfiquista Rodrigo, que jogou por empréstimo do Real Madrid no Bolton, e a dupla Gabriel Paulista e Coquelin, ambos antigos jogadores do Arsenal). Como confessou numa entrevista ao The Guardian, os tempos no Queens Park Rangers não trazem propriamente as melhores recordações – até porque o primeiro tackle que sofreu valeu um cartão vermelho. Ainda assim, ficou a conhecer o futebol britânico, encontrando mais tarde no Valencia o atual treinador do Arsenal, Unai Emery: metódico, trabalhador e perfeccionista… às vezes em demasia. “Punha muitos vídeos, fazia muitas palestras e os jogadores também se cansavam disso. A atenção de um futebolista pode diminuir se uma palestra dura 20 ou 25 minutos. Um dia, durante uma palestra, o Miguel adormeceu”, confessou, referindo-se ao antigo lateral português.

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O treinador espanhol que venceu três vezes consecutivas a Liga Europa pelo Sevilha antes de rumar ao PSG (onde passou duas épocas antes de chegar à Premier League) tornou-se uma espécie de persona non grata em Valencia apesar dos quatro anos que passou no Mestalla, entre 2008 e 2012: nas meias-finais da Liga Europa de 2014, depois do triunfo na Andaluzia por 2-0, os visitados conseguiram chegar ao 3-0 mas um golo de M’Bia assegurou nova passagem ao jogo decisivo – por sinal contra o Benfica, com vitória dos espanhóis nas grandes penalidades. As celebrações demasiado “festivas” colocaram-lhe uma cruz aos olhos dos adeptos. Esta quinta-feira, o Valencia-Arsenal era muito aguardado também por esse regresso, como destacavam vários jornais espanhóis como a Marca e o El País. Até porque, em paralelo, se as equipas inglesas tinham sido protagonistas na Champions pelas recuperações históricas, agora os papéis estavam invertidos após o 3-1 em Londres.

Durante os 15 minutos iniciais, a hipótese de haver mais um milagre foi real: os espanhóis entraram melhor, tiveram um remate muito perigoso de Gonçalo Guedes (8′), fizeram o 1-0 numa jogada em vertigem com Guedes a encontrar Rodrigo que assistiu o aniversariante Gameiro (11′) e ficaram perto do segundo num míssil disparado pelo pé esquerdo de Rodrigo que saiu a rasar o poste (16′). No minuto seguinte, pontapé de baliza de Petr Cech, corte incompleto de Gabriel Paulista antes de Lacazette dar um toque de cabeça para a frente e grande tiro de Aubameyang a empatar o encontro (17′). Por mais entediante que Emery possa ser, as suas equipas têm uma apetência especial para eliminatórias da Liga Europa e agora não foi exceção.

Depois de uma estreia a cair logo na primeira fase a eliminar depois dos grupos quando estava no Valencia e defrontou o Dínamo de Kiev, em 2009, o trajeto do técnico na Liga Europa foi sempre a subir: em 2010 alcançou os quartos sendo eliminado pelo Atl. Madrid nos golos marcados fora; em 2012 chegou às meias-finais onde perdeu de novo com os colchoneros; em 2014, 2015 e 2016 sagrou-se vencedor ao serviço do Sevilha (durante e depois, jogou a Liga dos Campeões). Agora, no regresso à competição com uma equipa habituada à principal prova europeia, regressa à final. E demorou apenas cinco minutos no segundo tempo para confirmar essa espécie de inevitabilidade: Aubameyang conseguiu cortar uma bola com Gayá, Lacazette recebeu a assistência, rodou bem sobre Piccini e encontrou espaço para rematar em arco para o 2-1 que “fechou” a eliminatória.

Sete anos depois, o espanhol que foi recordado esta quarta-feira por ter sido o treinador que “prescindiu” de Lucas Moura para o Tottenham antes de receber Neymar e Mbappé seis meses depois continua sem saber o que é perder numa eliminatória da Liga Europa. Gameiro, aos 58′, ainda conseguiu empatar num lance confuso onde tocou duas vezes de calcanhar na bola antes de empurrar para a baliza de Petr Cech. No entanto, a história já estava escrita. E se é verdade que esta foi a semana da reviravolta para os ingleses que estavam em desvantagem, foi de confirmação para aqueles que saíam na frente, de novo com a dupla do Sr. Feliz e do Sr. Contente no ataque dos gunners protagonizada por Aubameyang, que chegou ainda ao hat-trick com golos aos 69′ e aos 88′, e Lacazette, que tinha sido a chave do triunfo na primeira mão depois da desvantagem inicial.