Durante grande parte da temporada, pelo menos até ao início de abril, parecia que a Liga alemã ia assistir a um golpe de teatro protagonizado pelo Borussia Dortmund. Até há cerca de um mês, a equipa de Lucien Favre estava no topo da tabela e parecia jogar, organizar e concretizar o suficiente para interromper uma série de seis Campeonatos consecutivos conquistados pelo Bayern Munique. A 6 de abril, num confronto direto que acabou por ser o jogo do título, o Bayern recebeu o Borussia em Munique e mostrou que continua a beneficiar daquela que é a sua maior qualidade: a eficácia em alturas cruciais. Goleou por 5-0, saltou para o primeiro lugar e de lá não voltou a sair.

Bayern goleia Borussia Dortmund e sobe à liderança da Liga alemã (5-0)

Um mês e uns dias depois, na penúltima jornada da Bundesliga, o Bayern Munique tinha quatro pontos de vantagem e só precisava de ganhar fora ao RB Leipzig — ou pelo menos fazer um resultado igual ou melhor do que o do Borussia Dortmund, que recebia o Fortuna Düsseldorf — para se sagrar heptacampeão alemão. Um heptacampeonato inédito na Alemanha, assim como já tinha sido o tetra em 2016, o penta em 2017 e o hexa na temporada passada. Para isso, e para deixar fechadas as contas do título já este sábado, o Bayern tinha de ser melhor do que um RB Leipzig sempre surpreendente que está no terceiro lugar e vai garantir a entrada direta na fase de grupos da Liga dos Campeões na próxima época.

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E o Bayern apresentava-se em Leipzig já com as linhas gerais daquele que terá de ser o projeto do próximo ano e das próximas temporadas — para lá da saída provável do treinador Niko Kovac. Ribéry e Robben, os veteranos que foram as duas figuras maiores dos últimos anos de supremacia do Bayern na Alemanha e do sucesso na Europa, vão deixar o clube no verão e este sábado eram suplentes, deixando as alas entregues a Coman e Gnabry. No banco, ao lado do holandês e do francês, estava Renato Sanches; do outro lado, o português Bruma era suplente no RB Leipzig.

No final de uma primeira parte com poucas ocasiões de golo, sendo um lance em que Gnabry viu Gulácsi roubar-lhe o desvio final a oportunidade de maior realce, o Bayern ia para o intervalo com a certeza de que tinha de fazer algo mais para selar já este sábado o heptacampeonato: se em Leipzig, na Red Bull Arena, ainda não existiam golos, o Borussia estava a vencer o Düsseldorf pela vantagem mínima em Dortmund. A conjugação de resultados não favorecia o conjunto orientado por Niko Kovac e terá sido isso mesmo que o treinador croata transmitiu no balneário, já que o Bayern regressou para a segunda parte com maior vontade de chegar ao último terço do meio-campo do Leipzig e com a equipa mais subida, a não permitir as saídas do adversário com uma pressão alta bem executada.

Gnabry ficou muito perto do golo ainda na primeira parte

O Bayern chegou ao golo ainda nos primeiros cinco minutos da segunda parte, com Goretzka a aproveitar um mau alívio de Konaté para marcar o nono golo da conta pessoal na Bundesliga, mas o VAR anulou o inaugurar do marcador devido a um fora de jogo milimétrico de Kimmich na altura do passe de Müller. No outro jogo que interessava, o Düsseldorf empatava, o Borussia voltava à vantagem e o Düsseldorf desperdiçava uma grande penalidade, acontecimentos que tinham impacto nas bancadas do Red Bull Arena, principalmente do lado dos adeptos do Bayern.

O passar dos minutos e a certeza de que era necessário vencer para não adiar a conquista do sétimo Campeonato consecutivo — até porque o jogo da última jornada implica uma receção ao sempre complicado Eintracht Frankfurt — levou o Bayern Munique a subir de rendimento, ainda que de forma episódica, e a montar um cerco à grande área do Leipzig. O fluxo ofensivo, que nunca foi efetivamente asfixiante, acabou por não ser suficiente, mesmo com a entrada de Ribéry e Robben já no último quarto de hora, e o Bayern permitiu mesmo um empate sem golos que adia a conquista do heptacampeonato para a última jornada.

O Borussia Dortmund, que fez a sua parte ao ganhar e conquistar mais três pontos, agarrou uma semana de esperança e terá na derradeira jornada uma oportunidade, ainda que pequena, para chegar à vitória na Liga alemã: separados por apenas dois pontos de diferença, o Bayern recebe em Munique o Eintracht Frankfurt, que é sexto, e o Borussia visita o Mönchengladbach, que é quarto. E Renato Sanches, que não chegou a entrar no jogo deste sábado, adiou também um marco histórico da respetiva carreira: caso o Bayern seja campeão alemão, o ex-Benfica torna-se o primeiro português a sagrar-se bicampeão na Alemanha (depois de Fernando Meira ter sido campeão pelo Estugarda em 2007 e Ricardo Costa pelo Wolfsburgo em 2009).