Jovens investigadores e engenheiros estão a fazer ensaios numa fábrica em Cerveira, distrito de Viana do Castelo, para comercializar em julho de 2020 um tecido especial de couro ‘vegan’ criado a partir de cortiça, serradura e borras de café.

A equipa de especialistas, com uma dúzia de engenheiros químicos e biológicos oriundos das áreas da borracha, papel, cortiça, tubos ou farmacêutica, está a criar os protótipos de couro ‘vegan’ para que no próximo verão possa comercializar um produto mais ecológico.

O objetivo é reaproveitar desperdícios de indústrias da madeira, cortiça e cafeeira e fazer uma espécie casamento com as tecnologias de ponta e com inovação para que no futuro o setor da moda e do vestuário, mas também o setor automóvel com os estofos dos bancos, o imobiliário com mesas e sofás revestidos a tecido de cortiça impermeável, ou calçado e a arquitetura possam usufruir de soluções mais sustentáveis que ajudem a diminuir a pegada ecológica, explicou o diretor de operações da Tintex, Ricardo Silva.

Muito em breve comprar uma peça de vestuário em couro ‘vegan’ feito à base de borras de café, farelo de madeira e restos da produção de rolhas de cortiça vai deixar de ser uma ficção para ser uma realidade e comercializada a preços idênticos aos atuais no mercado com materiais mais poluentes ou que impliquem a morte de animais.

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“Esta tecnologia não vai acrescer muito o custo se olharmos ao mesmo tipo de produto e ao mesmo tipo de material. Creio que no máximo vai acrescer uns 5%, mas isso vai depender também da marca, mercado, conceito”, observa o jovem Ricardo Silva, 27 anos, a segunda geração envolvida na administração da Tintex e que acumula atualmente o cargo de administrador da empresa com o pai Mário Silva.

Licenciado em Engenharia pela Universidade do Porto, Ricardo Silva revela que tem vários parceiros interessados em comprar o couro ‘vegan’ e que no decorrer da descoberta e dos ensaios rapidamente perceberam para este produtor não se poderia cingir apenas à moda, havendo muitos mais mercados interessados.

“Temos uma equipa muito forte cá dentro. Neste momento temos cinco pessoas alocadas exclusivamente à inovação e a descobrir coisa novas, entre cientistas, engenheiros, biomédicos”, descreve Ricardo Silva, orgulhoso por ter uma empresa com 132 trabalhadores, com uma média de idades de 34 anos, onde quase um terço é licenciado (32).

Além do investimento no capital humano, que anda na ordem dos 600 mil euros/ano, a unidade fabril localizada em Vila Nova de Cerveira fez nos últimos quatro anos um investimento de “cinco milhões de euros” em tecnologias industriais e laboratoriais.

“O departamento de inovação e sustentabilidade nasceu para certificar a empresa em vários ‘standards’, seja cooperativo, seja de produto, mas rapidamente a área da inovação com projetos estruturados começou a crescer e fez-se a separação, com a área da sustentabilidade, muito focada nas novas tecnologia e novos processos”, explicou.

A nova tecnologia para criar o couro não animal vai permitir criar um revestimento com propriedades específicas ao nível estético, tátil e de performance (impermeabilização), que pode ser utilizado como revestimento de sofás, cadeiras, chapéus, mesas, paredes, estofos dos carros, vestuários ou calçado.

Os mercados mais entusiasmados com produtos vegan são os países nórdicos, nomeadamente Alemanha, mas também o mercado norte-americano.

Diminuir a pegada ecológica do setor têxtil e do vestuário, um dos cinco mais poluidores no planeta, está no ADN (informação genética) da Tintex, empresa criada em 1998 e que acabou de receber o ‘German Design Award 2019’.

O prémio foi para o Picasso, projeto que usa processos de tingimento naturais através de extratos de cogumelos e plantas como tomilho, pimenta, hortelã-pimenta, bem como de resíduos de árvores exóticas da América do Sul.

Reduzir o uso de água em cerca de 90% na criação de uma ‘sweatshit’ que precisa em média de 4.500 litros de água em confeção tradicional é outra batalha ganha pela Tintex, desvenda Ricardo Silva.

Com o projeto de poupança de água em parceria com uma ONG alemã e outra do Bangladesh, a Tintex baixou para um gasto de 473 litros para produzir a mesma peça de roupa desde o processo da fibra, fiação, tricotagem, tingimento e acabamento.

A Tintex Textiles, criada em 1998 como tinturaria, é hoje considerada uma “referência mundial no desenvolvimento e produção de materiais sustentáveis”, designadamente as malhas inteligentes e mais sustentáveis, usando fibra de milho, soja e bambu.