“Fui bastante claro: a esta altura, nesta 11.ª hora, qualquer acordo proposto por este Governo tem de ser sujeito a um voto confirmatório.” Foi assim que Keir Starmer, o ministro-sombra para o Brexit que tem representado o Partido Trabalhista nas conversações com o Executivo de Theresa May, explicou que defende um segundo referendo a qualquer nova proposta de acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), impondo essa votação como condição para que os trabalhistas deem luz verde a uma proposta no Parlamento.

A informação foi dada numa entrevista ao The Guardian, publicada esta segunda-feira, dia em que são retomadas as negociações entre o Governo e o Labour que se arrastam há semanas. Keir Starmer aproveitou o momento para deixar clara a sua posição de defesa de um novo referendo — que não é unânime dentro do seu partido —, baseando-a no facto de ser condição para muitos dos deputados trabalhistas:

Muitos dos meus colegas deixaram claro que não irão votar a favor de nenhum acordo, a não ser que esteja associado a um voto de confirmação. Por isso, se querem uma maioria estável, isto tem de ser tido em conta. E, sem isso, é impossível que os números batam certo.”

Starmer foi ainda mais longe e estimou que “um número significativo de deputados trabalhistas, provavelmente 120 se não mesmo 150, não apoiarão um acordo sem voto de confirmação”.

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Sobre as negociações, que são retomadas esta segunda-feira, Starmer não se mostra muito otimista, dizendo que o Governo de May não cedeu nunca ao pedido do Labour de que o Reino Unido se mantenha numa união aduaneira com a UE. “Estará este Governo disponível para alterar as suas linhas vermelhas? A resposta é, até agora, nem por isso.”

“No que toca à substância, continua a haver uma distância considerável entre nós”, admitiu o ministro-sombra trabalhista.

Campanha para as Europeias: “Se o voto progressista for repartido, isso só abre caminho ao Partido do Brexit”

O homem de Jeremy Corbyn nas negociações aproveitou ainda a entrevista para comentar as sondagens mais recentes sobre as eleições para o Parlamento Europeu, que colocam o Partido do Brexit de Farage à frente (34%), seguido pelo Labour (21%) e estando os conservadores apenas em quarto lugar (11%) nas intenções de voto. Starmer aproveitou para atacar Farage, dizendo que, se o líder dos eurocéticos vencer a eleição, “a intolerância, o ódio e a divisão” terão vencido também.

Fui um advogado de Direitos Humanos durante 20 anos. Achava que os valores da dignidade, igualdade e não-discriminação estavam garantidos”, lamentou-se o ministro-sombra trabalhista.

Mas Starmer aproveitou para criticar outros para além de Farage, apontando baterias ao Change UK, composto por dissidentes do Partido Conservador e do Partido Trabalhista, que deverá eleger três eurodeputados de acordo com a sondagem mais recente. “Se o voto progressista for repartido, isso só abre caminho ao Partido do Brexit”, declarou. “Nos temas críticos, como uma relação económica de proximidade com a UE ou um segundo referendo, só o Labour consegue cumprir essas promessas.”