Um carro atropelou várias pessoas que faziam parte de uma procissão em Quatro Ribeiras, na Ilha Terceira, Açores. O mais recente balanço dá conta de dois mortos e 13 feridos, quatro deles em estado grave. O condutor saiu ileso do acidente.

Os quatro feridos graves continuavam internados na manhã desta quarta-feira, mas estão “estáveis”, pelo que indicou à Lusa fonte da Proteção Civil.

A mulher de 60 anos que estava “numa situação mais delicada” foi operada ontem à noite e está nos cuidados intensivos, mas a sua situação neste momento é igualmente “estável”.

Fonte da Direção Nacional da PSP adiantou que o condutor “tem 32 anos e dos testes realizados não houve deteção de álcool ou estupefacientes”. O homem conduzia uma viatura ligeira de mercadorias.

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As duas vítimas mortais são duas mulheres de 68 e 84 anos, segundo o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores.

Os feridos têm entre 17 e 67 anos. Nove feridos foram encaminhados para o Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, quatro deram entrada no Centro de Saúde da Praia da Vitória. Oito são do sexo feminino e cinco do sexo masculino, a maior parte dos quais com mais de 40 anos.

PSP investiga

Um repórter da SIC no local deu conta, na noite do acidente, que o condutor terá ficado encadeado pelo sol e isso impediu-o de ver o grupo de “40 a 50” fiéis. Em conferência de imprensa, já esta manhã, o secretário regional da Saúde dos Açores disse que não tem informações sobre os motivos do acidente e que “a Polícia de Segurança Pública é que está com o caso entre mãos situação”.

Rui Luís, que tutela a Proteção Civil, disse ainda que foi enviada uma equipa de apoio psicossocial para o local e outra para o Hospital da Ilha Terceira.

“Foi um acidente multivítimas, com o despiste de uma viatura durante uma procissão, que provocou um atropelamento múltiplo”, tinha adiantado ontem o mesmo responsável.

O acidente ocorreu às 20:29 locais (mais um hora em Lisboa) de terça-feira, quando uma viatura atropelou pessoas que participavam numa procissão de velas, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, na freguesia das Quatro Ribeiras, no concelho da Praia da Vitória.

Foram mobilizados para a ocorrência 24 bombeiros e 11 veículos, para além da equipa de Suporte Imediato de Vida, da Polícia de Segurança Pública, e do Serviço Municipal de Proteção Civil.

O acidente ocorreu às 20:29 locais (mais uma hora em Lisboa) de terça-feira.

A população da freguesia ficou “em choque”

O pároco das Quatro Ribeiras, Carlos Cabral, seguia na procissão junto com o grupo coral atrás do andor e escapou ileso por pouco.“Foi um grande susto. O senhor que ia ao meu lado fazendo coro, rezando e cantando, foi apanhado pelo carro. Está ainda internado”, afirmou à Lusa.

A procissão ocorre habitualmente em 13 de maio, mas este ano Carlos Cabral tinha o sacramento do crisma agendado na freguesia vizinha dos Biscoitos, onde também é pároco, por isso adiou-a para o dia 14.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima, a única levada em andor na procissão, está praticamente intacta na sacristia da igreja, mas terá caído ao chão no meio da confusão.

“Foi uma coisa tão repentina que nem vi o andor cair. Sei que mais tarde o vi encostado à parede e a imagem de Nossa Senhora estava no chão”, salientou o padre.

Entre as cerca de 50 pessoas que caminhavam em direção à igreja estava uma ex-emigrante que tinha regressado há pouco tempo à ilha e que não sobreviveu ao acidente. “Era uma senhora que tinha vindo para cuidar da irmã. Tinha acabado de chegar do Canadá, até foi ela quem ofereceu as flores para o andor de Nossa Senhora”, contou o pároco.

A outra vítima mortal, “uma senhora de fé, muito empenhada”, segundo Carlos Cabral, tinha já 84 anos.

Na igreja, outras pessoas, com menor mobilidade, aguardavam pela procissão, para assistir à missa, que este ano não se realizou.

“É um povo sereno, que se compreende, que se aceita, que se ajuda mutuamente. Ninguém esperava nada disso. Dizem as pessoas que coisa semelhante nesta freguesia nunca aconteceu”, frisou o padre.

Duarte Rocha não participou na procissão, mas a mulher e a filha tiveram de ser assistidas no hospital. Estava a trabalhar nas pastagens quando o avisaram do acidente, mas o primeiro pensamento foi de que tinha acontecido alguma coisa ao filho, também ele a trabalhar na lavoura.

“Foram-me chamar e eu percebi logo que tinha acontecido uma coisa má”, diz, acrescentando que nem sabia que a mulher e a filha tinham ido à procissão.

À porta da garagem, momentos antes de ir buscar a mulher ao hospital, depois de esta ter tido alta, vai dando as boas notícias a quem passa e lhe pergunta pelo estado de saúde das duas. “Foi mais o susto. A minha esposa já teve alta e a minha filha veio logo para casa”, contou.

“Graças a Deus” é a resposta inevitável de uma população que, apesar da tragédia não perdeu a fé. “Eu tenho de dar graças a Deus. Em minha casa foi só o susto”, sublinhou Duarte Rocha, com a voz embargada.

(artigo atualizado às 15h46 de quarta-feira)