Concentrada em falar das alterações climáticas e da floresta, a cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda manteve-se fiel à sua estratégia: falou do pacto climático assinado com os “partidos amigos”, como o Podemos, de Pablo Iglesias, ou o França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon; defendeu uma “floresta estável” por oposição a uma “floresta financeirizada” (tema a que já tinha dedicado parte do dia de campanha); e apelou a um financiamento público igual a zero para combustíveis fósseis.

Vários temas, mas nenhum chegou para empolgar a sala do restaurante de Almancil, em Faro. Talvez porque era o último de quatro discursos, talvez porque as refeições ainda não tinham sido servidas ou talvez porque não tivesse uma grande novidade para anunciar à sala onde estavam mais de 150 pessoas.

De resto, praticamente só acrescentou uma espécie de resumo daquilo que foi esta terça-feira, listando as várias iniciativas que preencheram o segundo dia de campanha — onde contou com o apoio fundamental de Catarina Martins, logo pela manhã.

Ou talvez tudo isto tenha sido um estratégia desenhada para dar palco ao número dois da lista do Bloco, José Gusmão. Falou imediatamente antes da candidata, mas foi ele quem ganhou o aplaudómetro da noite.

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E começou logo a rasgar: primeiro a direita e a sua estratégia para esta campanha, “inteiramente composta por piadinhas e ataques pessoais, muitas vezes a roçar o insulto e a infantilidade”. “O que até faz sentido”, acrescentou, “já que a direita não tem trabalho para mostrar.”

Depois, foi a vez dos socialistas saírem com as orelhas a arder. ”O PS apresenta-se a estas eleições falando das conquistas da atual solução política, que irá terminar em outubro. E que bom é ver o primeiro-ministro a dizer que descongelámos pensões e aumentámos o salário mínimo nacional”, ironizou. “Mas o PS também não tem nada para apresentar sobre Europa a não ser a sua outra geringonça: uma coligação com os liberais europeus”, criticou.

Finalmente, uma visão (pessimista) sobre a Europa e a zona euro: “O euro irá celebrar 20 anos. Nesse período, Portugal cresceu cerca de metade do que tinha crescido nos dez anos anteriores. No dobro do tempo, metade do crescimento. Está longe de ser um sucesso”, concluiu, trazendo para a campanha a visão do partido sobre a união monetária, que já foi mais central do que hoje em dia na retórica bloquista.

Para o fim deixou um apelo ao reforço do voto no Bloco, ao mesmo tempo que elogiava a candidata número um.: “Se a Marisa incomoda muita gente, mais alguns como a Marisa incomodarão muito mais!”. E concluiu: “A Marisa não anda, a Marisa avança”.