A cada torneio que passa, mais uma história. Nick Kyrgios nunca foi particularmente bem comportado, nunca foi particularmente certinho nem nunca correspondeu exatamente ao estilo pré-concebido a que quase todos os tenistas high profile parecem obedecer. O australiano de 24 anos sempre gostou de ser um outsider por escolha própria e nunca escondeu que não tem qualquer filtro no que toca a dizer o que pensa sobre colegas de profissão, a responder o que quer a árbitros ou a agir de forma intempestiva quando contrariado durante as partidas. Esta quinta-feira, em Roma, João Sousa foi eliminado por Roger Federer mas a história do dia pertenceu, mais uma vez, a Kyrgios.
Depois de ter perdido o primeiro set do jogo da segunda eliminatória do Masters de Roma para o norueguês Casper Ruud, Kyrgios até estava a conseguir recuperar e venceu o segundo. Foi durante o terceiro e decisivo set, quando sofreu um contra-break por parte de Ruud que anulou a vantagem que tinha, que o tenista australiano se queixou de que estavam pessoas a passar pelo court enquanto servia. De acordo com o The Guardian, Kyrgios terá utilizado palavrões para se dirigir ao árbitro e foi avisado uma primeira vez; depois, partiu uma raquete, insultou o árbitro, atirou uma cadeira para o centro do court e acabou por ser desqualificado ao quarto warning.
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Well…
Kyrgios gets a game penalty and then walks off court, handing Casper Ruud a place in the last 16#ibi19 pic.twitter.com/T4jhvbV1RN
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Ainda assim, e mesmo face às imagens inacreditáveis, a verdade é que o dia de Nick Kyrgios já tinha começado de forma bastante animada. O australiano deu uma entrevista ao podcast “No Challenges Remaining”, do jornalista do NY Times Ben Rothenberg, e não mediu palavras nem opiniões. Antes ainda de criticar Rafa Nadal e Novak Djokovic e voltar a sublinhar que, na sua opinião, Roger Federer é “o melhor de sempre”, o jovem tenista garantiu que venceu o Open do México, no passado mês de março, depois de “sair à noite todos os dias” e deitar-se “sempre depois das quatro da manhã” e defendeu que só terá “mais quatro ou cinco anos de carreira” porque “não há qualquer hipótese” de o corpo aguentar o ritmo que tem atualmente durante mais tempo do que isso.
Para Nadal, com quem já se desentendeu este ano depois de vencer o espanhol nos oitavos do Open do México, o australiano teve apenas um adjetivo: “Maldoso”. “Ele é o meu oposto, literalmente o meu oposto. E é super maldoso. Quando ganha, não diz nada de mal, dá crédito ao adversário, diz que jogou muito bem. Mas assim que perde comigo, vem logo dizer que não tenho respeito por mim nem pelos fãs nem pelo jogo (…) E depois o tio dele, o Toni [que treinou o sobrinho durante mais de uma década], vem dizer que não tenho educação. Meu, eu estive 12 anos na escola, seu idiota. Sou muito educado. Mas compreendo que estejas triste porque venci a tua família outra vez”, disse Kyrgios. Em março, na altura do torneio mexicano e depois de ser eliminado pelo australiano, Rafa Nadal defendeu que o adversário “não tem respeito pelo público, pelos rivais e por ele próprio”.
Mas o rol de críticas que Kyrgios tinha guardado para tornar público não terminou por aqui. Logo depois, seguiu-se Djokovic, o atual número 1 do ranking ATP. Apesar de reconhecer o talento do sérvio, garantiu que este “nunca será o melhor de sempre” e ridicularizou a celebração habitual de Djokovic, em que o tenista estende os braços para as bancadas. “É um jogador inacreditável. É um campeão, um dos melhores que alguma vez vou ver (…) Mas estamos a falar de um tipo que há uns anos desistiu do Open da Austrália porque estava demasiado calor. Não interessa quantos Grand Slams ele ganha, nunca vai ser o melhor para mim. Simplesmente porque já joguei contra ele duas vezes e, peço desculpa, mas se não me podes vencer, não és o melhor de sempre”, explicou Kyrgios, acrescentando que “Federer é o melhor de todos os tempos por tudo o que fez em todas as superfícies”. “Acho que o Djokovic tem uma obsessão doentia com o facto de querer que gostem dele. Quer ser como o Roger. Quer tanto que gostem dele que não o suporto. E aquela celebração que ele faz depois dos jogos…é tão constrangedor. É muito constrangedor”, atirou, garantindo que talvez imite o festejo quando voltar a jogar contra o sérvio.
E, finalmente, chegou a vez de Fernando Verdasco. O australiano revelou que o veterano de 35 anos o leva “à loucura” devido à arrogância. “O Verdasco leva-me à loucura. Esse tipo…nem sequer quero falar sobre isso. Deixa-me tão chateado, estou irritado agora só de ouvir o nome dele. É a pessoa mais arrogante de sempre. Não diz olá, acha que é bom, acha que é uma benção de Deus. Meu, és mediano e vamos ser honestos, só atiras uma bola por cima de uma rede. Tipos com esse deixam-me louco. Não há humildade, não há perspetiva. Isso mata-me”, defendeu o australiano, que tem como melhores resultados em Grand Slams os quartos de final em Wimbledon, em 2014, e na Austrália, no ano seguinte.
Nick Kyrgios reconheceu ainda que é o tenista do tour que “menos trabalha”, que “não há qualquer hipótese” de algum dia ser um jogador com resultados consistentes e revelou que o ténis o levou para “lugares escuros”. “Não posso partilhar mais do que isto agora porque se os meus pais ouvirem deserdam-me, de certeza”, concluiu o tenista australiano, que não conseguiu resistir à raiva contra Casper Ruud e acabou desqualificado do Masters de Roma.