Nesta quarta-feira à noite, a campanha de Paulo Rangel tinha um convidado de honra, o presidente Rui Rio. Se a praxis política manda que se encha um auditório, a campanha do PSD apostou numa das discotecas mais conhecidas entre os jovens lisboetas: o Lust in Rio, em Lisboa. Rio, como o Rui que lidera o partido. O presidente do PSD jantou na Portugália, mas, para êxtase dos “jotas” que o esperavam de bandeira em punho, chegou ao Lust a conduzir uma carrinha pão de forma, batizada de “Celeste”, que serve para os jovens laranjas promoverem o combate às alterações climáticas. À pendura, Paulo Rangel, atrás a número dois da lista, Lídia Pereira, e a líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes. O objetivo é voltar à “Marlene”. Quem é a Marlene? Lá chegaremos.

Junto ao segurança, os “jotas” que acompanham a “volta” na campanha, comentavam à entrada: “Esteve bem o gajo. Imagina que ele se estampava, amanhã íamos a pé“. O “gajo”, Rui Rio, tem o ar alemão do rigor das contas públicas, mas entre os jovens ou em situações festivas transforma-se. Há uns meses tocou bateria na Quinta da Malafaia (por onde a campanha também vai passar), mas desta vez “roubou” a “Celeste” aos jovens, que vai a algumas ações da campanha do PSD nas Europeias (supostamente deixando pegada com impacto zero, já que a “jota” planta árvores para compensar a poluição feita pela carrinha). A última vez que tinha aparecido foi em Ovar, junto à praia da Corregaça. Nessa altura, Lídia Pereira distribuiu cantis reutilizáveis a surfistas.

Mas afinal o que foi Rui Rio fazer ao Lust? Podia ser pelo antigo e sugestivo nome (“Meninos do Rio”), mas não. A JSD decidiu organizar um evento com perguntas ao líder do partido e ao candidato do PSD às Europeias, Paulo Rangel. Os jovens só tinham 30 segundos para fazer uma pergunta e os entrevistados procuravam responder num segundo.

O Lust in Rio lá se emproou, com produção made in JSD, mas muito parecido ao habitual. Sem Reggaeton, Fonzis e afins, mas com luzes, colunas, seguranças massudos, consumo mínimo, gins, cerveja, os sofás em modo lounge. Rui Rio gostou e agradeceu à “jota” a iniciativa.

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Na fase de perguntas e respostas, Rui Rio (seguidor do livro “Como Chegar Novo a Velho“) assumiu as vezes de jovem e fez uma pergunta ao candidato do PSD: “Qual a diferença entre ser deputado no parlamento nacional e no Parlamento Europeu?”. Paulo Rangel respondeu que o trabalho de eurodeputado tem “muito menos visibilidade do que o trabalho a Assembleia da República“, mas que os “deputados também têm o seu trabalho muito menos escrutinado”. Ou seja: nem o trabalho é reconhecido, nem as falhas são avaliadas.

Paulo Rangel explica isso porque há um “delay” entre o que é aprovado no Parlamento Europeu e a consequência que tem para o quotidiano dos portugueses. Isso, acredita, justifica alguma falta de interesse pelo que é aprovado em Bruxelas e Estrasburgo.

O candidato do PSD foi também questionado por um jovem sobre a questão de Viktor Órban na Hungria, que está suspenso de membro do PPE, a família política europeia do PSD. Rangel alertou que não se pode “isolar a Hungria”, pois há outros estados como a Roménia e Malta que têm situações muito similares.

Rui Rio, quando chegou a sua vez de falar, concordou com Rangel, dizendo que os deputados europeus são “menos conhecidos” por estarem mais longe. Por isso, pediu aos jovens do PSD que alertassem os seus pares para a importância “cada vez maior” das questões europeias na vida dos portugueses. E explicou que era importante que cada um dos jovens presentes levasse “mais um ou dois a votar“.

A mensagem política, Rio deixou para o fim. E a Marlene? Ainda não é desta. O líder social-democrata disse aos jovens que o PSD “é o partido mais moderado do espectro político português” e um “partido equilibrado e tolerante”. Para o presidente do PSD “não passa pela cabeça de ninguém que no PSD alguma vez se possa apoiar extremismos, sejam de direita ou de esquerda.” Numa indireta ao PS, Rio considera que “nunca o PSD se podia aliar à extrema-direita para ter uma maioria no Parlamento”.

Rui Rio arrancou o maior aplauso quando defendia a União Bancária e fez um paralelismo com a banca nacional, visando novamente o PS: “Vemos administradores da banca que ganharam fortunas e depois vemos que o nível de responsabilidade era igual ao de um porteiro”, atirou, numa alusão a Joe Berardo. “Vemos que não tinham responsabilidade nenhuma“, complementou. Sobre a influência socialista, Rui Rio acusou o PS de utilizar a influência na CGD para controlar a “Assembleia Geral de outro banco [BCP]“.

Quanto à lista do PSD às Europeias, Rui Rio admitiu que os candidatos “não são super-homens nem super-mulheres“, mas que são os que melhor defendem o interesse do país. Rui Rio diz que ele próprio não vê “nenhuma razão para que não votem no PSD”, embora perceba que “o partido não vá ter 100%, os 21 eurodeputados”. O objetivo de Rui Rio é ter um bom resultado e, por isso, piscou os olhos aos jovens. Rangel e Rio abandonaram o espaço antes da meia-noite, mas o líder sabe da importância de conquistar os mais novos que já votam, principalmente os já filiados na “jota” e quem possam trazer.

E, por fim, a Marlene. Rio roubou a “Celeste”, nome que a carrinha pão de forma já tinha antes de chegar às mãos da JSD, para que consiga voltar a utilizar a “Marlene”, o mítico autocarro de dois andares que utilizava para as bem-sucedidas campanha no Porto e com o qual festejou várias vitórias pelas listas do PSD.