Uma mansão de luxo em Paços de Ferreira, com piscina, court de ténis e mais de 250 metros quadrados de área, terá sido avaliada e vendida por apenas 12 mil euros, por estar classificada como palheiro. A Polícia Judiciária (PJ) suspeita que tudo não terá passado de uma operação imobiliária entre o antigo magnata do mobiliário Manuel Luís Martins e os seus testas-de-ferro para branquear capitais. E o palheiro tornado mansão é agora peça-chave na investigação Operação Final, liderada pela PJ e pela Direção de Finanças do Porto, que já levou à detenção de sete suspeitos, incluindo a do antigo dono da fábrica de mobiliário Wood One, como explica o Jornal de Notícias (JN) (link disponível apenas para assinantes).

A Wood One foi em tempos a segunda maior fábrica de mobiliário do país, destacada como caso de sucesso por se ter tornado a primeira fábrica a funcionar 100% a energia solar em todo o mundo. O “Rolls-Royce do mobiliário”, como foi chamada em tempos a Wood One, recebeu 3,1 milhões de euros em fundos comunitários, através do programa Portugal 2020. Manuel Luís Martins, contudo, deixou a empresa com várias dívidas e declarou insolvência um ano depois.

Operação “Prazo Final”. PJ detém sete suspeitos de fraude de 3 milhões de euros com fundos comunitários

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O jornal Público explica que esta quarta-feira foram detidas sete pessoas, entre elas o antigo dono da empresa, a sua mulher e o seu filho, por suspeitas de crimes como branqueamento de capitais, fraude fiscal, fraude na obtenção de subsídio e insolvência dolosa. Manuel Luís Martins e os alegados cúmplices terão falsificado faturas para a candidatura aos fundos comunitários, tendo depois utilizado o dinheiro em despesas pessoais e levado a empresa à falência. De acordo com o Correio da Manhã, o empresário deve cerca de três milhões à Caixa Geral de Depósito, dez milhões a credores da empresa, meio milhão ao Fisco e outro meio milhão aos trabalhadores da Wood One.

É no meio deste esquema que o palheiro transformado em mansão entra em cena. O Jornal de Notícias conta que, há alguns anos, o empresário do imobiliário adquiriu um terreno com um palheiro em Reimonda, Paços de Ferreira, por um “valor residual”. De seguida, terá utilizado parte dos fundos do Portugal 2020 em obras no imóvel, que transformou na dita mansão. Há cerca de um ano, a casa foi vendida a uma empresa, detida por um casal, que a PJ suspeita serem testas-de-ferro de Manuel Luís Martins. Embora já tivesse sido totalmente transformada em mansão, a casa continuava registada nas Finanças como sendo um palheiro e foi escriturada e vendida por apenas 12 mil euros, segundo conta o JN.

Imagem da moradia disponível numa das várias imobiliárias onde a casa está colocada à venda (D.R.)

O facto de a empresa do referido casal ser também dona do apartamento onde Manuel Luís Martins vive atualmente intensificou as suspeitas dos investigadores de que o casal em causa atuaria como testa-de-ferro. A referida mansão está atualmente à venda em várias imobiliárias, pelo valor de 600 mil euros.

Mas como conseguiram os suspeitos da Operação Final iludir a Autoridade Tributária sobre o imóvel em causa? Graças à ação da mulher do respetivo casal, que trabalhava como jurista na Câmara de Paredes e que terá estado colocada na repartição de Finanças de Paços de Ferreira, em regime de mobilidade, segundo apurou o JN. O Público acrescenta que a PJ acredita que foi a a intervenção da jurista nesse serviço que fez com que o local nunca tenha sido fiscalizado e tenha permanecido registado como um palheiro.

Os sete suspeitos na Operação Final, onde se inclui o respetivo casal que comprou a mansão por apenas 12 mil euros, já foram presentes a tribunal no Marco de Canaveses para interrogatório. Aguardam agora a aplicação das respetivas medidas de coação.