Quando, em março, o neto de sete anos de Lula da Silva morreu, José Sócrates diz ter ficado muito comovido com a tragédia e com a solidariedade manifestada por um juiz do Supremo Tribunal, Gilmar Mendes, ao ex-presidente do Brasil. O ex-primeiro-ministro português expressou as suas emoções numa entrevista ao portal brasileiro Migalhas e depois desse depoimento ainda decidiu enviar uma carta a Lula, preso precisamente no âmbito da operação Lava-Jato.

“[A morte do neto de Lula da Silva] comoveu-me profundamente, porque se tratava de um jovem, de uma criança, que morreu em circunstâncias trágicas”, começou por dizer na entrevista. Conta também que lhe chamou a atenção, na altura, um telefonema que Lula recebeu. “Vindo de quem? Gilmar Mendes. Lula atendeu e quando Gilmar Mendes lhe transmitia os seus pêsames e os sentimentos de toda a sua família, Lula começou a chorar compulsivamente. O relato adianta que, um pouco depois, o Gilmar Mendes começou também a chorar. Isso impressionou-me muito. Aquele choro de ambos era um choro por um mundo que perderam”.

Esse choro de ambos pareceu-me ser o choro de dois adversários que disputaram politicamente, sempre com lealdade, nunca se tratando como inimigos, nunca querendo utilizar a prisão como instrumento político e, muito menos, recusar fosse a quem fosse o direito de ir enterrar um neto ou de ir, em condições minimamente aceitáveis do ponto de vista social, ao funeral do seu irmão. O que falta no Brasil é mesmo isto: um respeito entre adversários, a democracia vive disto”

Sócrates, que foi o primeiro ex-primeiro-ministro português a estar preso preventivamente (no âmbito do Processo Marquês), acabou depois por decidir enviar uma carta escrita a computador com o teor dessa entrevista, à qual acrescentou uma dedicatória à mão: “A Lula, que me fez compreender e amar o Brasil. O Brasil é com S de Silva. Lula da Silva. Saravá”.

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