O que é que acontece quando as mesas de voto estão à espera de três e mil e poucos eleitores e aparecem quase 20 mil? É o caos, claro. E foi isso mesmo que aconteceu um pouco por todo o país, com Lisboa a ser a recordista das queixas. No Porto, os eleitores também esperaram para votar, mas não tanto como na capital.

No entanto, nem todos viram nas filas intermináveis motivo para queixas. Houve quem preferisse ver na espera — em alguns casos de mais de uma hora — uma vitória na luta contra a abstenção. Outros queixaram-se da falta de planeamento das autarquias.

Os vídeos e as fotografias das longas filas não demoraram a surgir nas redes sociais.

Entre as 19.562 pessoas que pediram para votar antecipadamente encontrava-se, este domingo, a secretária de Estado da Administração Interna. Perante a demora em conseguir pôr o voto na urna, Isabel Oneto admitiu que serão necessários pequenos ajustes ao novo sistema de voto antecipado.

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Para quem quisesse votar antes de dia 26 de maio nas eleições europeias, pela primeira vez, bastava pedi-lo, entre 12 e 16 de maio, não sendo necessário dizer qual o motivo.

“As pessoas que se inscreveram para votar antecipadamente queriam mesmo exercer o seu direito e não o podiam fazer no próximo domingo. Isto já é um passo para diminuir a abstenção”, afirmou aos jornalistas, no Porto, a secretária de Estado da Administração Interna.

Entre os vários problemas apontados por Isabel Oneto que precisam de solução está  a dimensão das ranhuras das urnas de voto: estavam preparadas para os boletins de voto depositados dentro de um envelope, quando sendo um voto antecipado têm de ir dentro de dois. E essa dificuldade em inserir o voto causa complicações e atrasos de cada vez que um eleitor quer inserir o seu boletim na urna.

Em Lisboa, houve eleitores que se queixaram de esperar mais de uma hora.

Mas o grande problema teve a ver com a elevada adesão às urnas, que ninguém esperava. Foram quase sete vezes mais eleitores a votar do que no último escrutínio.

“Partimos da base de 3.300 eleitores que nas últimas eleições votaram antecipadamente [seguindo o modelo anterior, mais restritivo]. Agora temos perto de 20 mil. Fomos adaptando as mesas à medida que os eleitores se foram inscrevendo precisamente para tentar dar resposta. Vamos olhar para aquilo que está a correr menos bem e tentar que nas próximas corra melhor. São pequenos pormenores de que só agora nos apercebemos e que vamos ter de corrigir”, defendeu Isabel Oneto.

O CDS não se convence com esta explicação e vai questionar formalmente o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sobre os atrasos no voto antecipado, já que os eleitores pré-inscreveram-se.

https://twitter.com/jspinto/status/1130154036156669952

“Iremos dar entrada de uma pergunta ao senhor ministro da Administração Interna, na segunda-feira, porque consideramos que estas filas de centenas de pessoas, algumas delas com tempo superior a uma hora, outras até que, por força disso e por compromissos, nomeadamente, aéreos, deixaram de votar, fizeram de uma ideia que é boa, uma medida trapalhona, para dizer o mínimo”, disse Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS-PP, citado pela Lusa.

De acordo com o antigo secretário de Estado da Administração Interna, “não há explicação aparente para que assim aconteça, porque havia um período de pré-inscrição, ou seja, o Governo sabia à priori quantas pessoas queriam exercer esse direito de voto antecipado”.

“Cumpre saber o que falhou e porque é que falhou, quantas pessoas estavam destacadas, se eram ou não suficientes, se os 29 locais eram adequados face ao número de pessoas. Trata-se de uma boa ideia que acaba estragada por uma má prática, o que começa a ser um hábito deste Governo”, sustentou.

Fila nos Paços do Concelho era enorme

Para votar antecipadamente, bastava levar o cartão de cidadão e o comprovativo da inscrição. Em frente aos Paços do Concelho da capital, a fila não parava de crescer.

“Não vou estar cá no próximo fim de semana, vou estar longe da minha secção de voto”, explicou Margarida Bragança, citada pela agência Lusa, enquanto aguardava na fila que serpenteava pela Praça do Município, explicando que sem a possibilidade de votar antecipadamente “não teria hipótese” de participar nas eleições para o Parlamento Europeu. “Achei simples, não tive nenhum problema a inscrever-me online, acho que o timing é bom porque se for muito antecipadamente as pessoas também se esquecem”, afirmou, enquanto ia dando pequenos passos à medida que a fila avançava.

À semelhança de Margarida Bragança, Marco Santos também não teria oportunidade votar em 26 de maio, porque teria de fazê-lo no Funchal. O madeirense confessou que, apesar de não ser a primeira vez que solicita o voto antecipado, gosta da parte de não ter de requerer papelada. “Basta inscrever-me num site e está feito”, vincou.

No entanto, há quem tenha possibilidade de votar no próximo domingo, mas prefira prevenir-se ou despachar o assunto. É o caso de Afonso Nabo, que teria de ir a Portalegre para votar, mas achou mais vantajoso votar este domingo. O estudante considerou que esta foi “uma excelente iniciativa”, uma vez que, há pessoas que “não tinham outra hipótese” e, no seu caso pessoal, “seria incómodo”.

A diminuição da abstenção também é vista como uma vantagem do voto antecipado em mobilidade. “As pessoas já não têm tantas desculpas para não votar, têm esta oportunidade e têm de aproveitar”, afirmou Maria Moreira.

Margarida Bragança concordou, apesar de achar que ainda há espaço para melhorar, nomeadamente no alargamento dos locais de voto antecipado além das capitais de distrito: “Sou de Cascais e vim até aqui. Se conseguirmos alargar isto a mais secções de voto, acho que é pode ser uma medida que também ajuda a combater a abstenção. Evita que a pessoa tenha de fazer deslocações melhores e talvez convença mais pessoas a votar”, sublinhou.

Adesão foi grande, mas também houve desistências

Apesar da grande adesão ao voto antecipado, várias pessoas estavam insatisfeitas com o tempo de espera para chegar às urnas, que chegou a superar uma hora. As críticas levaram, inclusive, algumas pessoas a abandonar as filas e a desistir, porque o tempo de espera dentro da Câmara Municipal de Lisboa — depois de os cidadãos serem encaminhados para as respetivas mesas de voto — chegava a ser superior à espera no exterior.

Os eleitores que desistiram – ou que não conseguiram comparecer nas urnas, apesar de se terem inscrito para votar antecipadamente – ainda podem votar a 26 de maio, na assembleia ou secção de voto onde estão recenseados, segundo a informação disponibilizada no site da Comissão Nacional de Eleições (CNE).

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