Filho do francês Pascal Jules, que em 1984 conheceu o auge da carreira ao vencer uma etapa do icónico Tour, Justin tinha apenas 13 meses quando o pai morreu, num acidente de viação, depois de adormecer ao volante. Ainda assim, quando cresceu seguiu-lhe as pisadas e aos 18 anos já pedavala em equipas amadoras — e tinha, garantia quem percebia do assunto, um grandioso futuro pela frente.

Esbarrou de frente contra a realidade numa noite como tantas outras de 2004, menos de dois meses depois de atingir a maioridade. Vivia em Boisemont, no norte de França, com a mãe, o irmão mais velho, Sébastien, o padrasto, René Caufield, um homem alcoólico e abusador que batia regularmente na mãe, e o meio-irmão, ainda menor. Na noite daquele dia 18 de dezembro, alertado pelos gritos dela, Justin saiu do quarto para encontrar, na sala de estar, o padrasto recém-chegado e embriagado a chamar-lhe nomes e a ameaçar esmurrar o irmão, Sébastien, então com 21 anos.

Tudo terá acontecido muito rápido: primeiro borrifou-lhe a cara com um spray de gás lacrimogéneo que por algum motivo teria em casa, depois, com a ajuda de Sébastien, arrastou-o para a rua, onde lhe bateu na nuca com uma barra de ferro. Quando a polícia chegou ao local, alertada pela mãe dos rapazes, Catherine, passava pouco das 21h00 e René Caufield estava morto, no meio de uma poça de sangue. Justin não tentou sequer negar o crime: tinha sido ele, sim, mas não tinha intenção de matar o padrasto, apenas queria defender a mãe e o irmão.

A acusação exigiu uma pena de 12 anos de prisão, mas Justin foi condenado a uma bem mais leve: três anos pelo homicídio involuntário de Caufield, de 52 anos. O julgamento aconteceu em 2008, Justin foi preso em 2010. Em 2011, cumprido um terço da pena, foi libertado e saiu diretamente para cima da bicicleta, ao serviço do Velo Club Le Pomme Marseille — tinha 25 anos.

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Agora, que tem 32, Justin Jules continua a pedalar, apesar de não ao nível que lhe chegaram a vaticinar. Ciclista da equipa belga Wallonie Bruxelles, participou há dois meses na Volta ao Alentejo (ganha pelo português João Rodrigues) e está agora a dar a Volta a Aragão, em Espanha. Até venceu a primeira etapa. Mas geralmente é notícia pelo passado de crime e cadeia, não pelos feitos desportivos.