Os casos de violência doméstica que têm chegado ao Gabinete de Apoio à Vítima de Coimbra não têm aumentado ao longo dos anos, mas regista-se um incremento ao nível de sofisticação por parte dos agressores e no recurso às redes sociais.

Em 25 anos de existência, o Gabinete da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima de Coimbra registou 12.299 processos (até 2018), sendo a grande maioria (cerca de 80%) relacionados com a violência doméstica, em que estão incluídas a violência conjugal e a violência contra idosos e contra crianças e jovens, disse à agência Lusa a coordenadora da organização, Natália Cardoso.

Nos casos de violência conjugal, o Gabinete tem registado um decréscimo de novos processos a partir de 2016, mas os casos apresentam cada vez “situações mais complexas, o que exige um trabalho e um esforço maior por parte da equipa”, notou.

Segundo Natália Cardoso, as vítimas entram em contacto com a APAV com mais conhecimento sobre o que podem fazer, mas o tipo de violência reportado “é diferente do de há 20 ou 25 anos”.

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“Antes, havia muitas situações associadas ao alcoolismo. Agora já não é tanto assim e há uma sofisticação na própria violência”, constatou, referindo que se notam cada vez mais formas de violência psicológica.

Os agressores “conseguem efetuar estes atos de violência de forma que dificilmente possam ser detetados por terceiros, o que torna mais difícil provar a existência de violência”.

De acordo com a responsável pelo gabinete de Coimbra, que abrange não apenas o distrito, como a região Centro, as redes sociais também são cada vez mais usadas, seja como instrumento para perseguir e tentar localizar a vítima e contactá-la ou como meio para exercer violência.

“As redes sociais são usadas como forma de magoar a vítima, expondo a situação, fazendo divulgação de imagens ou de conversas ou denegrindo a pessoa junto de familiares e amigos. Após a rutura da relação, o agressor ou agressora, tendo em seu poder fotografias ou troca de mensagens de caráter íntimo, usa essas informações e documentos ou para chantagear a vítima ou para denegrir a imagem da vítima junto da sua rede”, explanou Natália Cardoso.

Em declarações à Lusa, Natália Cardoso referiu ainda que se tem registado um aumento na procura de pedidos de ajuda relativamente a pessoas idosas, sendo que, na maioria dos casos, não é a própria vítima a contactar o gabinete, mas familiares, vizinhos ou instituições, sendo frequentemente situações de violência por parte do cuidador.

O Gabinete da APAV de Coimbra celebra o seu 25.º aniversário na quinta-feira, com um ‘Open Day’ e a inauguração das novas instalações, na Avenida Fernão de Magalhães.

O momento vai contar com a presença do presidente da APAV, João Lázaro.