O vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans evocou esta quarta-feira em Varsóvia a sua experiência de vítima de abuso sexual por um padre aos 13 anos para pedir à Igreja da Polónia que “não deixe impunes” estes crimes.

“Em primeiro lugar, e como disse publicamente na Holanda, digo a todas as vítimas: não tenham vergonha. A culpa não é vossa, vocês não fizeram nada de mal”, afirmou à imprensa. “E à minha Igreja Católica: assegurem-se de que não há impunidade, analisem o problema, como fizeram outras Igrejas de outros países, vão ao fundo da questão”, prosseguiu, pedindo que “denunciem às autoridades” quem “praticou atos criminosos” para que possa ser julgado.

Timmermans, 58 anos, candidato socialista à sucessão do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, revelou no princípio dos anos 2000 ter sido vítima de abuso sexual de um padre norte-americano quando tinha 13 anos. “Gostaria muito que a minha Igreja, em todo o mundo, passasse por um processo de verdade e reconciliação”, disse. “Se queremos o perdão, e essa é também a minha experiência pessoal, o perdão exige o reconhecimento da culpabilidade […] Foi o que aconteceu no meu caso”.

As declarações de Timmermans em Varsóvia foram feitas numa altura em que os abusos sexuais a crianças por membros da Igreja Católica se tornaram um dos principais temas de debate, a dias das eleições europeias, na sequência da difusão de um documentário, que já foi visto 21 milhões de vezes.

Segundo analistas, a onda de choque suscitada pelo documentário “Não digas a ninguém”, dos irmãos Tomasz e Marek Sekielski, pode penalizar o partido conservador no poder, Lei e Justiça (PiS), próximo da Igreja, atualmente empatado nas sondagens com a Coligação Europeia (KE), que junta vários partidos da oposição.

Em face da polémica, o PiS aprovou na semana passada uma lei que agrava consideravelmente as penas por abusos sexual de menores e anunciou a criação de uma comissão para avaliar todos os casos e não apenas os que envolvem membros do clero. A iniciativa foi criticada pela oposição, que quer que a Igreja Católica explique a sua fraca reação a este escândalo.

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