“A Matança Ritual de Gorge Mastromas” é uma “peça provocadora” que obriga a refletir sobre o tipo de sociedade em que se vive, encenada por Tiago Guedes e com estreia no sábado, no Teatro D. Maria II, em Lisboa.

“A peça relata a vida de um homem chamado Gorge Mastromas – personagem interpretada por Bruno Nogueira -, que é alguém que ascende e fica todo-poderoso. O que nos faz pensar — é uma peça provocadora — que tipo de sociedade proporciona que pessoas que decidem mentir e funcionar de forma amoral consigam vencer desta forma e chegar onde chegam”, explicou à Lusa o encenador.

Com esta adaptação, Tiago Guedes regressa ao dramaturgo britânico Dennis Kelly, de quem já trabalhou o texto “Órfãos”, que esteve em cena no Teatro São Luiz, em Lisboa, em dezembro de 2017.

“Interessei-me pelos textos dele e comecei a mergulhar nos seus escritos. Têm algo com o qual me identifico, o mesmo tipo de interesses, e eu apaixonei-me pelos textos dele”, afirmou Tiago Guedes, explicando a razão de voltar aos escritos de Dennis Kelly para uma nova peça.

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Os textos do dramaturgo inglês são uma “descida aos infernos da complexidade humana”, porque “têm sempre uma análise muito profunda da condição humana e da forma como o mundo interfere com a nossa essência, não nos deixando ser como somos naturalmente, temos que nos adaptar à forma como o mundo funciona e à sua maldade”, conta Tiago Guedes, confessando que o tema o fascina.

“De uma forma meio simplista, gosto destas zonas de cinzento e da ausência de preto e branco, e Dennis Kelly consegue fazê-lo”.

A Matança Ritual de Gorge Mastromas” é um texto de 2013 sobre a banalidade do mal na pessoa do homem, descrito pelo próprio Dennis Kelly desta forma: “a existência não é aquilo que até este momento pensaste que era. Não é honesta, não é gentil, não é justa”.

“A maior parte do mundo não faz ideia disso, acreditam em Deus, ou no paizinho ou em Marx ou na mão invisível do mercado ou em honestidade ou bondade. Atravessam a vida, de olhos fechados, a levar porrada e ser lixados. Ele é assim. Tu és assim. Mas uma ínfima parte de nós, chamemo-nos a resistência, sabemos a verdadeira natureza da vida. É-nos dado o mundo. Somos poderosos e ricos e temos tudo, porque faremos tudo o que for preciso”, acrescenta.

Ao longo do espetáculo, a vida de Gorge Mastromas vai sendo escrutinada em retrospetiva pelas restantes personagens, cuja interpretação está a cargo dos atores António Fonseca, Beatriz Maia, Inês Rosado, José Neves, Luís Araújo e Rita Cabaço.

“A Matança Ritual de Gorge Mastromas” é uma coprodução do Teatro Nacional D. Maria II, Pueblozito e Teatro Viriato, que se estreia na Sala Garrett no sábado, mas que terá antes, na sexta-feira, um ensaio geral solidário aberto ao público, cujas receitas revertem a favor do projeto MANSARDA (uma associação de apoio aos artistas, sem fins lucrativos).

A peça vai estar em cena até ao dia 28 de junho.