O Benfica emitiu esta sexta-feira, véspera do arranque da Taça dos Clubes Campeões Europeus de atletismo, uma longa nota oficial que visa a decisão da Associação Europeia de Atletismo em não considerar o luso-cubano Pedro Pablo Pichardo atleta português na competição, com todos os ajustes que a medida considerada “incompreensível e inqualificável” poderá obrigar os encarnados a tomar face às condicionantes de atletas estrangeiros por equipa nas várias disciplinas da competição.
Benfiquista Pedro Pichardo autorizado a representar Portugal
“Pedro Pichardo é português, com todos os direitos que esta cidadania lhe dá, há perto de um ano e meio. Continua o atleta a ser considerado cubano para a AEA? Ou, pura e simplesmente, é apátrida?”, questiona a missiva, que destaca ainda o facto de ter havido o mesmo problema no ano passado sem que entretanto houvesse qualquer comunicação sobre o tema. Após a explicação da base para a tomada de decisão, os encarnados falam mesmo num “ato de perseguição política a Portugal, ao Benfica, octacampeão nacional e representante luso na TCCE, e ao atleta de dimensão mundial Pedro Pichardo”, anunciando em paralelo que estarão na prova que se realiza este fim de semana em Espanha “sob protesto”.
De referir que os encarnados terminaram no ano passado na segunda posição, a apenas 4,5 pontos dos turcos do Enka, igualando o melhor resultado de sempre obtido na prova (o outro foi em 2014). Este ano, além do organizador espanhol Playas de Castellón, o Benfica terá pela frente Fenerbahçe (Turquia), VSK Univerzita Brno (Rep. Checa), Cosma (Lituâia), Sparta AM (Dinamarca), Birchfield Harriers (Inglaterra) e Rotterdam Atletiek (Holanda) – tendo assim o objetivo de tentar fazer história e conseguir pela primeira vez a competição, que apenas por uma vez teve vitória de uma formação portuguesa (Sporting, em 2000).
O comunicado do Benfica na íntegra foi o seguinte:
A equipa de atletismo do Sport Lisboa e Benfica estará, neste fim de semana, na Taça dos Clubes Campeões Europeus (TCCE), em Espanha, a lutar pela conquista do lugar mais alto do pódio. Vai para a principal prova de clubes com a confiança conferida pelo valor dos seus atletas, pela condição de vice-campeão em seniores e por deter o título europeu de juniores, sustentado na forte aposta que, desde há muito, é feita na formação.
A menos de uma semana da partida para Playas de Castellón, o Benfica foi, porém, surpreendido com uma comunicação oficial da Associação Europeia de Atletismo (AEA). Refere esta entidade que o atleta Pedro Pablo Pichardo Peralta não poderá ser utilizado como português, sustentando-se numa decisão anterior da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), intermediária em todo o processo de inscrição, está a par destes desenvolvimentos burocráticos.
O Benfica sublinha total discordância com a estranha “deliberação”, sobressaindo uma série de interrogações legítimas:
– Pedro Pichardo é português, com todos os direitos que esta cidadania lhe dá, há perto de um ano e meio. Continua o atleta a ser considerado cubano para a AEA? Ou, pura e simplesmente, é apátrida?
– Pedro Pichardo é português nas provas realizadas em Portugal, onde já saboreou vários títulos nacionais, e triunfou inclusivamente na prestigiada Liga Diamante em 2018 com a bandeira portuguesa assumida na inscrição e até nos grafismos televisivos, mas perde a nacionalidade na principal competição europeia de clubes?
– Tendo a AEA alegadamente identificado a situação na TCCE do ano passado — há um ano! —, manteve-se em total silêncio sobre o assunto, sem qualquer alerta ou iniciativa de contacto ao Benfica ou à FPA. Nem mesmo quando recebeu, no início deste ano, as inscrições preliminares enviadas pelo clube.
– Por que motivo é dirigida esta comunicação ao Benfica agora, a poucos dias da competição, altura em que é praticamente impossível ao clube preparar outro atleta para substituir Pichardo na ambição de triunfar no triplo salto em Playas de Castellón?
– Terá sido a AEA influenciada por alguma das equipas competidoras? Não saberá a AEA que a decisão e respetiva comunicação no presente timing pode influenciar o potencial desportivo da equipa do Benfica no objetivo de alcançar o título europeu?
A organização está a usar para promover a TCCE nas redes sociais uma imagem de Pedro Pichardo, associada, e bem, à bandeira portuguesa.
Mas já hoje foi obtida nova resposta insatisfatória e sem sustentação nos regulamentos oficiais da competição. A AEA continua a omitir que cabe à FPA informar da elegibilidade dos atletas como nacionais ou estrangeiros. Esta informação foi reforçada pela FPA, mas a AEA prefere basear-se numa regra da IAAF que respeita à participação no âmbito das seleções nacionais e não dos clubes.
A AEA está a refugiar-se no regulamento da IAAF para considerar o atleta como estrangeiro, mas a federação internacional não permite o uso de qualquer estrangeiro nas suas competições. Tudo isto é, no mínimo, incoerente.
Para o Benfica configura-se aqui um enquadramento de ausência de sensibilidade e de capacidade de gestão de uma entidade que deve atuar sempre em defesa da modalidade e não alinhar em eventuais estratégias que condicionam atletas, clubes e até federações nacionais.
É difícil, neste momento, tirar outra conclusão que não seja a de que se trata de um ato de perseguição política a Portugal, ao Benfica, octacampeão nacional e representante luso na TCCE, e ao atleta de dimensão mundial Pedro Pichardo.
Para o Benfica, o melhor atleta do mundo no triplo salto em 2018 é cidadão português e tem os mesmos direitos que qualquer outro cidadão em espaço europeu. É isto mesmo que está legislado pelo Parlamento Europeu, e sob este aspeto está a ser avaliada intervenção na justiça comunitária.
Pedro Pichardo será, portanto, o atleta apresentado pelo Benfica na disciplina do triplo salto.
Perante tudo o exposto, o SL Benfica informa que vai competir sob protesto nesta TCCE. Releve-se que muito tem investido e valorizado o atletismo, modalidade histórica no clube, pela ambição europeia que a Direção definiu.
Doa a quem doer, é com este sonho e sentimento competitivo que os campeões de Portugal estarão em pista.