Não há produto que a Consumer Reports (CR) não tenha já testado e comparado com o das marcas rivais. Televisões, frigoríficos, corta-relvas e telemóveis, tudo já passou pelo crivo dos ensaiadores da reputada publicação, que também não poupa os automóveis, nem os seus sistemas de ajuda mais comentados. Daí que foi sem surpresa que também o Navigate on Autopilot da Tesla foi esmiuçado pelos seus técnicos.

O Autopilot é um sistema de ajuda à condução que o condutor pode accionar, que mantém o carro no centro da faixa de rodagem, a uma distância segura do carro da frente (dependendo da velocidade), além de respeitar a velocidade pré-seleccionada. É tido como o mais eficiente entre os disponíveis no mercado, especialmente por conseguir manter-se dentro da faixa, mesmo em curvas mais apertadas das auto-estradas e vias rápidas (trava para reduzir a velocidade se considerar que a velocidade é demasiado elevada), o que os concorrentes nem sempre conseguem, desligando-se sempre que o esforço a aplicar sobre o volante é excessivo, na maioria dos casos superior a 2 Nm. Independentemente da sua eficácia, o Autopilot é um sistema de ajuda à condução, que exige a supervisão (e a responsabilidade) de quem vai ao volante.

O que é o Navigate on Autopilot?

O novo Navigate on Autopilot é, na prática, uma evolução do Enhanced Autopilot, o tal que já estaria preparado (ao nível do hardware) para a condução autónoma, quando tal for possível, tecnológica e legalmente. O objectivo do Navigate on Autopilot é o condutor seleccionar que deseja viajar de Braga para Portimão, por exemplo, e entrega o seu destino ao sistema, que por sua vez gere todo o trajecto em auto-estrada ou vias rápidas, incluindo os nós de auto-estrada, além das rampas de entrada e de saída. É o condutor que activa o Navigate, que consegue mudar de faixa para ultrapassar, mas as manobras são autorizadas por quem vai ao volante, sendo o sistema capaz de decidir se há condições de segurança para passar à faixa da esquerda, ou até se é aconselhável ultrapassar pela direita em determinadas condições. Tudo à custa do que é detectado por oito câmaras de vídeo, vários radares (apontando para a frente e para a traseira) e 12 sensores por ultrassons.

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A Tesla está já a testar uma evolução deste Navigate on Autopilot, capaz de proporcionar condução autónoma, solução que pensa demonstrar até ao fim deste ano. Mas, tal como agora é fornecido aos clientes, o Navigate continua a ser um sistema de ajuda à condução, pelo que se destina a facilitar o trabalho do condutor e não a substituí-lo, uma vez que a responsável é sempre sua.

Navigate muda de faixa pior do que um condutor

Uma das conclusões da CR aponta para o Navigate on Autopilot ser menos eficiente do que o condutor a mudar de faixa. Apesar de exigir autorização do condutor, os técnicos da CR concluem que o sistema por vezes propõe mudanças de faixas sem deixar a necessária margem de segurança em relação aos veículos que se deslocam a uma velocidade superior na faixa da esquerda, mais rápida, quando o trânsito é mais intenso. Alegam os técnicos que “o Navigate realiza as manobras de mudança de faixa de forma menos segura do que um condutor, pelo que em vez de ajudar o condutor, obriga o condutor a ajudar o sistema”.

Durante os testes realizados, nas condições mais difíceis de tráfego, o Navigate arriscou mudar de faixa, metendo-se à frente de outros veículos de forma menos civilizada, enquanto noutros casos ultrapassou pela direita veículos que circulavam mais devagar na faixa da esquerda, o que só por si é uma transgressão em alguns Estados americanos, tal como ultrapassá-los pela direita. A Tesla afirma que cada um dos seus veículos capaz de oferecer o Navigate possui três câmaras a apontar para a traseira, cujo objectivo é determinar a velocidade a que circulam os veículos atrás de si, na sua faixa e nas restantes, o que permite ao sistema decidir quando mudar de faixa e ultrapassar. Segundo Jake Fisher, o responsável pelos testes automóveis da CR, “quando as faixas convergem, numa junção de auto-estrada com tráfego intenso, nota-se que o sistema da Tesla não está à vontade e quando decide avançar, aplica desde logo um pouco de travão para ganhar uma margem de segurança para o carro da frente, o que pode não ser muito agradável para o carro que segue atrás”.

Quando é fácil, não há problemas

Em jeito de conclusão, “parece que o Navigate lida sem problema com as situações fáceis, mas o condutor tem de intervir quando as condições se tornam mais complicadas”, afirma Fisher. Se para alguns, estes comentários da CR podem parecer críticas pesadas, a realidade é que o Navigate funciona de forma correcta em condições fáceis, ou normais, ajudando o condutor em situações com que mais nenhum sistema disponível no mercado consegue lidar. Em situações mais complexas ou com tráfego intenso, tudo indica, segundo a análise do CR, que o melhor é mesmo o condutor assumir o volante ou estar pronto a fazê-lo a qualquer momento, como aliás deve acontecer com os sistemas de ajuda ao condutor. Curioso será ver daqui a quantos meses, ou anos, a CR terá oportunidade de testar sistemas similares ao Navigate on Autopilot, mas provenientes da concorrência.

Até lá, a fazer fé nas críticas da CR, a Tesla deverá continuar a fazer evoluir o sistema, recorrendo à capacidade que a sua inteligência artificial tem para aprender com os erros e com a experiência. Segundo a CR, o Navigate, que possui a capacidade de “ver” as luzes de travão e os piscas dos outros veículos, parece não estar a recorrer a essa informação entre os dados de que se socorre para evoluir no trânsito.

Por outro lado, um apuramento do software que gere as mudanças de faixa deverá assegurar uma maior fluidez no momento de decisão, evitando ficar eternamente na sua faixa de rodagem, sem conseguir materializar a ultrapassagem, mas não correndo riscos ao colocar-se à frente de um carro que se desloque demasiado depressa. Pode não ser um problema de solução fácil, mas se os condutores, mesmo os menos experientes, conseguem…