Com 83 anos, Mario Vargas Llosa é atualmente o último Nobel da Literatura latino-americano ainda vivo. Talvez por isso, o escritor foi convidado para participar esta semana na primeira edição do evento Nobel Prize Dialogue, em Madrid. O tema em cima da mesa era a velhice. E Vargas Llosa aproveitou para discorrer sobre o tema, sem pudores nem receios.

A começar pelo papel dos mais velhos na literatura. “São mal tratados. Geralmente aparecem como personagens secundários a quem a velhice mergulhou numa espécie de patetice. Assim é a nossa cultura ocidental”, lamentou-se o escritor peruano, segundo o El País.

Estou a tentar lembrar-me de romances dedicados à velhice. Não há muitos… Há velhos nas novelas, mas são personagens bem mais secundários”, acrescentaria numa entrevista posterior dada à edição espanhola da BBC, na sequência do mesmo evento. “Lembro-me de uma, de um escritor venezuelano, Adriano González León, que se chama Viejo (1994). É das poucas que me recordo.”

Ainda na literatura, o escritor rejeitou por completo a ideia de que a poesia seja um género que só assenta bem aos jovens. “Isso é um estereótipo. Pode-se escrever grande poesia enquanto velho ou enquanto jovem”, declarou. Sobre poesia, porém, deixou uma ideia polémica: “Em todos os romancistas há um poeta frustrado. Nada enriquece a língua como a poesia.”

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O evento, que teve lugar na fundação Ramón Areces, reuniu diversos oradores para falar das sociedades envelhecidas, incluindo vários laureados com o Nobel como Edvard Moser (Medicina), Ada Yonath (Química), Finn Kydland e Edmund Phelps (Economia), como recorda o El Español.

Mas aquilo que o fez saltar para as manchetes de jornais foi mesmo o tom bem humorado com que Vargas Llosa comentou o sexo na terceira idade. Em resposta à intervenção de outro orador, declarou: “Concordo com tudo o que disse, menos com a ideia de que se renuncia ao sexo com a idade.” E foi mais longe: “É preciso moderar, mas… Desaparecer? A execução modera-se, mas desaparecer não, de todo”, afirmou, arrancando gargalhadas à plateia.

As considerações do Nobel da Literatura sobre a velhice, contudo, foram para lá da literatura e do sexo. Também Sócrates e o dia da sua execução foram invocados por Vargas Llosa, recordando que, nesse mesmo dia, o filósofo grego estava a ter uma aula de persa, mesmo sabendo que ia morrer. “Tem de ser assim, aproveitar até ao último minuto todas as possibilidades que se tem na vida”, rematou.

Uma ideia que desenvolveria na entrevista posterior à BBC, sobre a sua própria vida: “Gostava que a morte me levasse quando estivesse a escrever, como se fosse um acidente”, confessou. “[Quero] viver a vida até ao final e, sobretudo, não ficar morto em vida, que é o espetáculo mais triste num ser humano.”