A pintura Salvator Mundi pode não vir a fazer parte da grande exposição de outubro do Museu do Louvre, em Paris, que comemorará os 500 anos do seu alegado autor, Leonardo da Vinci. Em causa não estará, ao contrário do que se possa imaginar, o súbito desaparecimento da obra, cujo paredeiro se desconhece desde que foi adquirida em 2017 por Bader bin Abdullah bin Mohammed bin Farhan al-Saud, parente afastado da família real da Arábia Saudita, por um valor recorde de 400 milhões de euros. O problema será a autenticidade do quadro, que levanta dúvidas entre os curadores do Louvre.

A revelação foi feita pelo historiador de arte Ben Lewis, autor de The Last Leonardo, sobre a história do Salvator Mundi. O escritor, afirmou no festival literário de Hay, no País de Gales, que, segundo lhe contaram as suas fontes no museu parisiense, “não há muitos curadores no Louvre a acreditar” que a pintura foi feita por Leonardo. Por essa razão, se esta for de facto incluída na exposição de outubro, como está previsto, terá de ser descrita como um trabalho da oficina do artista. Mas, segundo Lewis, é muito pouco provável que tal venha a acontecer.

“O dono não a pode emprestar”, afirmou o historiador, citado pelo The Guardian, lembrando que o valor do Salvator Mundi desceria se não fosse apresentado como uma obra de Leonardo da Vinci.

No início deste mês de maio, o Observador questionou o Louvre sobre o empréstimo do Salvator Mundi, mas o museu reencaminhou todas as questões para o Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, responsável pela gestão do homólogo árabe, onde o quadro deveria ter sido exposto. Foi isso que foi noticiado pouco depois da sua compra, mas a pintura nunca apareceu, o que levou ao surgimento de muitas especulações relativamente ao seu paradeiro.

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Especialista em Leonardo da Vinci diz que desaparecimento do “Salvator Mundi” foi premeditado

Apesar das aparentes dúvidas dos curadores do Louvre de Paris, alguns dos principais especialistas na obra de Leonardo da Vinci não hesitam em considerar a pintura verdadeira. É esta a opinião de Martin Kemp, da Universidade de Oxford, mas também de Frank Zöllner, autor do mais completo livro sobre as obras do artista florentino. Em entrevista ao Observador este mês, Zöllner declarou que o Salvator Mundi foi certamente desenhado “por Leonardo, executada pela sua oficina e possivelmente retrabalhada por si”.

Sobre o seu súbito desaparecimento, o especialista alemão defendeu que tudo não passava de “uma campanha de desinformação para tornar o quadro ainda mais interessante”.

“Não a puseram na exposição de setembro de 2018 em Abu Dhabi porque fazê-la desaparecer durante um bocado e fazê-la reaparecer em Paris em outubro este vai tornar a pintura mais famosa. E é possível que o Louvre [de Paris] lhe dê um bocadinho mais de aprovação”, afirmou Zöllner.

A exposição organizada pelo Louvre para celebrar os 500 anos do nascimento de Leonardo está agendada para outubro. A data que foi avançada pela instituição parisiense é 24 de outubro, sendo que, se tudo correr como planeado, poderá ser visitada até 24 de fevereiro do próximo ano. Até lá, o museu espera conseguir reunir o maior número de obras do artista possível, de modo a apresentar uma “retrospetiva sem precedentes da carreira de pintor” de Leonardo da Vinci. Esta “ilustrará como ele dava a maior importância à pintura e como a sua investigação do mundo, à qual ele se referia como ‘a ciência da pintura’ era o instrumento da sua arte, que tinha por objetivo nada mais do que dar vida às suas pinturas”, resumiu a instituição.

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É no Louvre, que tem também 22 desenhos do artista florentino, que se encontra a maior coleção de pinturas de Leonardo da Vinci.