No dia 7 de maio, o autoproclamado Exército Nacional da Líbia — uma milícia rebelde que apoia o general Khalifa Haftar, um antigo aliado de Kadhafi — revelou ter capturado um piloto que, num vídeo difundido pelos próprios rebeldes, alegava chamar-se Jimmy Reis (ou Jimmy Rees) e vir de Portugal.

Pouco se soube desde aí e nenhuma entidade independente, desde logo o Governo português, confirmou publicamente a identidade ou ascendência do piloto. Na milícia rebelde, contudo, continua a garantir-se que “Jimmy” é português e avança-se que o piloto e mercenário terá 29 anos, estará detido numa prisão em Benghazi, na Líbia e terá confessado “informação séria”.

Numa declaração citada pela agência de notícias italiana Agenzia Nova, o General Adel al-Hadhiri, que pertence ao grupo que tentou tomar o poder na Líbia já este ano, garantiu que “o piloto mercenário” terá revelado que se o seu recrutamento para trabalhar a soldo na Líbia não terá sido um ato isolado. Terá antes sido “parte de um processo organizado que começou em 2014 com o intuito de construir uma força aérea em Misurata”, cidade do nordeste da Líbia situada a 187 quilómetros da capital Tripoli.

O piloto mercenário admitiu que a base da formação aérea em Misrata inclui pilotos e mercenários de Portugal, Ucrânia e Equador. Mencionou que existem pilotos, engenheiros e técnicos do Equador e outros técnicos mercenários a trabalhar naquela base desde 2014, assim como outros pilotos de Portugal“, referiu o general da milícia rebelde.

Lembrando que “outro piloto português” terá trabalhado em zona de guerra Líbia durante as batalhas de junho de 2016 em Sirte, “tendo morrido quando o seu avião Mirage teve uma colisão na zona oeste da cidade”, al-Hadhiri não revelou os planos do autoproclamado Exército Nacional da Líbia para “Jimmy” nem revelou mais detalhes da sua identidade e passado. Sobre esse português morto em 2016 na Líbia, a ONU chegou a publicar um relatório em que dizia que tinha morrido um piloto que “era de Portugal” e tinha “residência permanente na Alemanha”, por volta dessa altura. As Nações Unidas só não conseguiram identificar, à data, quem tinha “requisitado os seus serviços” desse piloto.

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Logo após a captura de “Jimmy Reis [ou Rees]”, um porta-voz do grupo rebelde, Khaled al-Mahjoub, garantiu que “o piloto português” iria ser “bem tratado de acordo com a ética militar de tratamento de prisioneiros e de acordo com a Lei Humana Internacional” e afirmou que este “foi recrutado pelo governo Sarraj como mercenário para bombardear a Líbia em troca de dinheiro”. Poucas horas depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou que a nacionalidade portuguesa era “um facto que ainda não está [ou estava] confirmado”, mas não se voltou a pronunciar desde aí sobre o assunto.

[Imagens do alegado português que terá sido capturado na Líbia (imagens difundidas pelos rebeldes e editadas pelo Observador):]

Três dias depois das notícias da captura do alegado piloto português, fonte do autodenominado Exército Nacional da Líbia (LNA, na sigla em inglês) afirmou o seguinte, em declarações à italiana Agenzia Nova: “As investigações ainda estão a decorrer em relação a este piloto mercenário e ainda não começaram os procedimentos do tribunal”.

No dia seguinte, 11 de maio, o semanário Expresso dava informações mais aprofundadas sobre o trabalho dos mercenários — que preferem ser chamados de contractors — portugueses no estrangeiro. São requisitados por empresas mas também por governos “reconhecidos e não reconhecidos internacionalmente”, trabalhando fora das Forças Aéreas do país, por sua conta e risco. Estão “espalhados por cenários de conflito armado como a Líbia, Iraque, Síria ou Afeganistão” mas também “em países em fase de reconstrução ou a bordo de navios de multinacionais petrolíferas”.

O Expresso, no entanto, citava uma informação avançada por um português com estas funções que parece contradizer o que o autodenominado Exército Nacional da Líbia. Esse “mercenário” português garantia que “não haverá mais de um ou dois portugueses ativos em cada um dos principais conflitos” e dizia ainda: “A cara deste Jimmy não me é familiar. E conheço quase todos os contractors portugueses“.

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