Sob o “título provocatório” de “Museu das Descobertas”, a exposição, que é inaugurada na quinta-feira, foi esta quarta feira apresentada aos jornalistas pelo diretor cessante, António Filipe Pimentel, pelo próximo diretor, a partir de junho, Joaquim Caetano, e pela equipa que participou na sua elaboração.

“Esta exposição é uma grande aventura do museu, e um dos seus projetos mais marcantes”, disse, na visita, António Filipe Pimentel, apontando a “complexidade da montagem”, com uma componente tecnológica que vai permitir aos visitantes ter acesso a informação em vídeo, além das 117 obras de arte.

O “Museu das Descobertas” — que reúne peças de pintura, escultura, tecidos, mobiliário, joalharia, entre outras — foi criado para conduzir o público a uma reflexão sobre o próprio museu como instituição, a sua missão de exibir, preservar, estudar, comunicar, restaurar e salvaguardar.

São essas atividades “vitais” para o museu que criaram o percurso de descoberta desta exposição nas palavras de António Filipe Pimentel, que anunciou em janeiro deste ano a sua saída, ao fim de uma década à frente do MNAA, “por falta de condições” para trabalhar.

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Elogiando toda a equipa do museu — “todos eles comissários desta exposição” — o historiador de arte comentou que “fecha um ciclo”, e a última exposição em seu nome constitui “uma reflexão do museu sobre si próprio”.

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Logo à entrada, o visitante é convidado a permanecer numa sala escura onde se encontra apenas uma peça, a escultura do Bodhisattva Maitreya, em meditação, proveniente da Coreia ou do Japão, criada no século VII.

“Os museus estão a transformar-se em fábricas de números de visitantes, com as pessoas a usar constantemente os telemóveis para tirar fotos. Esquecem-se da necessidade de fazer silêncio e contemplar as peças de arte”, comentou o conservador do museu Anísio Franco, apontando a necessidade de criar “uma relação íntima entre o visitante e as peças”.

Na sala seguinte, em branco, toda a equipa do museu — desde as funcionárias da limpeza e da manutenção, aos conservadores, restauradores e à direção — são apresentados num vídeo para que os visitantes não se esqueçam que “os museus são feitos por pessoas para as pessoas”.

Ao longo do percurso, o público poderá ver o Retábulo de Santa Ana, numa proposta de reconstituição, e um vídeo com uma imagem também de reconstituição de um cálice veneziano do século XVIII que esteve partido em mais de 250 peças, e os especialistas conseguiram voltar a dar-lhe a forma original.

Com estes exemplos, o MNAA pretende mostrar aos visitantes outro dos trabalhos importantes dos museus: o de “laboratório aberto”, com cientistas que restauram a história.

Contas de rezar e uma salva dos Países Baixos, dos séculos XVI, um saleiro africano da mesma época, a pintura que retrata o “Martírio de Santa Catarina” (1570-90), presumivelmente da autoria do pintor português Gaspar Dias, ou o Retábulo de Santa Auta, com o “Martírio das Onze Mil Virgens”, da mesma época, são algumas outras peças que o visitante pode descobrir neste percurso.

Muitas das obras foram retiradas da exposição permanente do museu, mas colocadas num contexto que “obriga a serem vistas com outro olhar”.

Outra das descobertas a que o público terá acesso, a meio da exposição, é a Sacristia da Capela das Albertas, que se encontra habitualmente fechada, porque o interior do edifício está a ser alvo de obras de restauro.

Subindo umas escadas, é possível “espreitar” para a sacristia, repleta de azulejos, e também para o interior da capela, considerada a joia do MNAA.

A nova exposição, “Museu das Descobertas”, é inaugurada na quinta-feira e ficará patente ao público entre sexta-feira e 29 de setembro de 2019.

A 13 de maio, o Ministério da Cultura anunciou que o conservador da coleção de pintura do MNAA, Joaquim Caetano, iria assumir, em junho, o cargo de diretor daquele museu de Lisboa, sucedendo a António Filipe Pimentel.