A Volkswagen, como marca mas igualmente enquanto grupo, atirou-se de forma decidida para a aventura eléctrica, estruturando o ataque a esta nova tecnologia de forma massiva e com investimentos astronómicos, de longe os maiores entre os fabricantes tradicionais. Ao contrário do que aconteceu com os seus rivais alemães, o Grupo Volkswagen apostou em força, visando oferecer uma gama independente de modelos eléctricos, para vender em paralelo com os veículos já conhecidos, equipados com motores de combustão. Daí que tenha remodelado várias fábricas, adaptando-as à produção específica de modelos alimentados por bateria, bem como mais do que uma família de plataformas, concebidas de raiz – ao contrário das opções da Mercedes com o EQC e da BMW com o iX3 – para carros eléctricos, optimizando as suas características, em vez de limitá-las pelas condicionantes das estruturas que nasceram para suportar motores a combustão.

Mas, como não há carros eléctricos sem baterias, esta nova tecnologia levantou um problema complicado de resolver à Volkswagen, pois temendo que os actuais acumuladores de iões de lítio ficassem rapidamente ultrapassados, especialmente com a chegada das baterias sólidas (prometidas para dentro de uns anos), decidiu replicar a estratégia seguida pela Tesla, à excepção da produção própria de baterias.

Para suprimir esta falta e tentar não ficar tão dependente dos fabricantes de acumuladores, o fabricante germânico garantiu no mercado o lítio, cobalto e o níquel, entre outros, de que vai necessitar nos próximos cinco anos, além de comprar baterias a cinco fabricantes distintos (Catl para a China, SK Innovation para os EUA e a LG Chem, Samsung e SK Innovation para a Europa), investindo um total de 50 mil milhões de euros. Ainda assim, é este o aspecto de toda a estratégia eléctrica que está a correr menos bem aos alemães.

Ups! A VW pode ficar sem baterias para os eléctricos

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Quando, em Fevereiro de 2019, a Volkswagen resolveu fazer marcha-atrás no seu projecto, antevendo problemas por ter toda a sua produção de veículos eléctricos nas mãos de fornecedores chineses e sul-coreanos, o grupo alemão avançou finalmente para a solução implementada pela Tesla em 2012, que passa por possuir a sua própria fábrica de baterias mas com um parceiro tecnológico, garantindo assim que vai ter os acumuladores de que necessita. Anunciou então um projecto para os EUA com a SK Innovation, à semelhança do que a Tesla fez com os japoneses da Panasonic, mas ao tentar repetir a solução no continente europeu, “encalhou” na reacção da LG Chem, o seu maior fornecedor, que ameaçou a Volkswagen de se retirar caso os alemães avançassem com o rival sul-coreano.

Resolvida esta aflição – apenas temporariamente, pois a Volkswagen vai mesmo precisar de uma fábrica de baterias na Europa, até porque o Governo alemão assim o exige para garantir postos de trabalho –, eis que os alemães encontraram outra. Provavelmente, mais difícil de resolver.

Os sul-coreanos da Samsung SDI comprometeram-se em fornecer ao grupo germânico 20 GWh de baterias, o suficiente para alimentar 210.500 veículos, caso possuíssem uma bateria de 95 kWh como o Audi e-tron, ou 416.600 unidades se tivessem montadas baterias de 48 kWh de capacidade, as que vão ser utilizadas nos ID.3 mais baratos. Só que, em vez de 20 GWh, a Samsung SDi decidiu agora que só está em condições de entregar apenas 5 GWh, o que deixa os alemães à beira de um ataque de nervos, mesmo se a Samsung é o mais pequeno dos seus fornecedores para os cerca de 300 GWh de baterias de que o grupo carece até 2025, ano em que espera fabricar 3 milhões de veículos.

Resta saber o que vai acontecer nos próximos meses e anos, não só com este grupo alemão, bem como com as restantes marcas europeias e americanas, uma vez que todas dependem por completo de fornecedores que não controlam (à excepção da Tesla e também a Toyota, que recentemente anunciou a construção de uma fábrica em parceria com a Panasonic) e que, em última instância, podem ter outros interesses. Isto num mercado em que, muito provavelmente, não vão existir baterias suficientes para produzir todos os eléctricos que os construtores estão a prometer aos clientes.