Marcelo em 2014, Ferreira-Carrasco em 2016, Asensio em 2017, Gareth Bale em 2018, Origi em 2019. Um suplente sair do banco na final da Liga dos Campeões e marcar até pode parecer uma exceção mas, olhando para os últimos seis anos onde aconteceu em cinco ocasiões, tornou-se regra. Mas, no caso do avançado belga, nem se pode dizer que seja algo muito comum de acontecer: esta temporada jogou apenas 763 minutos, tapado pelo trio com pilhas sem limites Mané-Salah-Firmino, e marcou oito golos além de ter feito mais duas assistências. O futebol continua a ser sobretudo o momento e esse momento do jogador de 24 anos fez toda a diferença, marcando quatro golos nos últimos quatro encontros (dois com o Barça) depois de ter feito três em 19 jogos.

Os astros alinharam-se com Origi e escreveram no céu “You’ll Never Walk Alone” (a crónica do Tottenham-Liverpool)

Filho de um antigo futebolista queniano que começou como guarda-redes e acabou como avançado com 120 internacionalizações (Mike Origi), o dianteiro que marcou o segundo e decisivo golo do Liverpool é também sobrinho de Makamu Origi, ex-defesa que conquistou em 1987 a Taça dos Clubes Campeões Africanos como capitão do Gor Mahia (tem ainda mais dois tios que jogaram e um primo que é guarda-redes na Liga norueguesa). Influência no futebol não faltava – quanto muito poderia optar pela posição –, tal como convicção de que um dia o seu momento chegaria. E chegou, esta noite, em Madrid.

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Nascido em Ostend, Divock Origi começou a jogar futebol de forma mais organizada ao serviço do Genk, e numa altura em que começou também o seu percurso nas camadas jovens da seleção belga, transferiu-se com 15 anos para os franceses do Lille. Nessa altura, chegou a ter uma proposta de contrato do Manchester United, mas não arriscou nessa altura dar um passo que para si poderia ser maior do que a perna, preferindo um conjunto com histórico na formação que lhe valeu o passe para a Premier League um ano depois de se estrear nos seniores, em 2014, apesar de ter ficado mais um ano em França. E com outro pormenor: Eden Hazard, que saiu também do Lille para Inglaterra, foi a sua maior referência para assumir essa aposta.

Klopp quer, Salah sonha, o quase impossível nasce: o Liverpool está na final da Liga dos Campeões pelo segundo ano consecutivo

Depois de duas temporadas a bom nível no Liverpool após esse empréstimo, entre 2015 e 2017 (um ano acima dos 30 jogos, outro com mais de 40 encontros oficiais, sempre com médias de 10/11 golos por época), voltou a ser emprestado desta feita aos alemães do Wolfsburgo e, mesmo sendo considerado um flop, ganhou o passe de regresso a Anfield, onde se viria a tornar fundamental no final da presente temporada aproveitando a vaga deixada em aberto na equipa com a lesão do brasileiro Firmino.

O segredo para essa redenção esteve, como o próprio explicou numa entrevista ao The Guardian, na psicologia: depois de ter saído do Liverpool e de ter falhado a experiência na Bundesliga, o avançado que se não fosse futebolista gostava de ter estudado essa área ganhou uma força menta que lhe permitiu superar qualquer frustração ou insucesso. “Sou muito interessado na forma como o cérebro trabalha e nos diferentes tipos de personalidade. Peço aos meus amigos para fazerem testes de personalidade, para perceber em que tipo se enquadram. No Liverpool posso dizer que temos os introvertidos e os extrovertidos mas adoramos os dois. Comecei a estudar psicologia mas tive de parar quando fui para a primeira equipa. É algo que me interessa muito e estou sempre a ver a TED TV. Se calhar quando a minha carreira voltar regresso aos estudos”, contou.