No n.º 6 da Rua da Saudade, em Lisboa, foram descobertos, a pouco mais de 50 centímetros de profundidade, vestígios daquilo que se interpreta como sendo o pavimento de um antigo templo romano, anunciou esta segunda-feira o Museu de Lisboa. Apesar de se saber da existência de vários tempos na cidade de Felicitas Iulia Olisipo, este achado permite confirmar essa informação pela primeira vez.

A intervenção arqueológica que resultou na descoberta do pavimento aconteceu num edifício privado e teve como objetivo de “permitir a transformação do interior” de um rés do chão numa garagem. “Dada a proximidade com o teatro romano, monumento classificado, a equipa do Museu de Lisboa-Teatro Romano realizou os trabalhos de escavação necessários à implementação do novo projeto de engenharia, trabalhos obrigatórios sempre que se localizam em locais de potencial valor arqueológico”, explicou o organismo em comunicado.

O único local em Lisboa onde se conhecem vestígios de um pavimento semelhante é no Teatro Romano. Estes últimos, contudo, são mais interessantes (D.R.)

Lídia Fernandes, coordenadora do Teatro Romano, explicou o que foi encontrado na Rua da Saudade: “Na verdade, não se pode dizer que foi encontrado o pavimento. O que se encontrava conservado, sendo menos impactante, é bastante mais curioso. O que se conservou, em perfeito estado de preservação, foram os negativos deixados pelas placas de pedra na argamassa ainda fresca, aquando da colocação das pedras. Os motivos geométricos que as placas formavam eram bastante elaborados, integrando motivos centrais delimitados por lajes retangulares”, citou o comunicado.

“Não sabendo nós que pedras foram utilizadas tivemos a sorte de os pedreiros romanos terem aproveitado os desperdícios do talhe das lajes para nivelar o terreno onde as placas foram colocadas. Neste momento, temos identificados mais de 30 ‘litotipos’, isto é, tipos distintos de pedra”, disse ainda a arqueóloga.

Apesar de os pavimentos da época romana serem “bastante diversificados”, o que foi encontrado em Lisboa não é muito comum. Em Portugal, conhece-se poucos exemplos do opus sectile e, em Lisboa, o único que se encontra preservado é o do Teatro Romano. Contudo, o que foi agora encontrado é “bastante mais interessante” do que o deste último, uma vez que “os motivos são mais elaborados e os tipos de pedra mais diversificados”.

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