É um dos mais barbudos truísmos de Hollywood. A parte 2 de um filme é, 99% das vezes, pior do que o filme original. A que Billy Crystal acrescentou: “Mesmo quando o original já é uma porcaria.” Quando o rei faz anos, há exceções, e até mesmo nos desenhos animados. Como se vê por “A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2”, da produtora Illumination (a mesma de Gru e dos Minions), que consegue ser melhor do que o simpatiquíssimo filme original de 2016, que contava as aventuras em que se metem as mascotes de quatro e de duas patas quando os donos estão fora de casa (uma história descaradamente derivada da de “Toy Story”, mas a que a Disney e a Pixar lá fizeram vista grossa, porque é impossível que não tenham reparado nas parecenças).

[Veja o “trailer” de “A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2”]

Continuando no departamento dos truísmos, e como se diz na bola, em equipa que ganha não se mexe (mesmo que seja uma equipa de bichos animados digitalmente). E “A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2”, de novo realizado por Chris Renaud, agora coadjuvado por Jonathan del Val, mantém intacta toda a trupe do primeiro filme, com poucas alterações (uma delas é a obsessão do frenético coelho Snowball por super-heróis), enquanto melhora e vai mais longe em termos de história. Agora, Katie, a dona do afável cãozinho Max e do grande e peludo Duke, é casada e mãe de um menino, Liam, que Max protege para lá da devoção natural de um canídeo pelo seu dono mais pequeno, ao ponto de ficar com um tique nervoso.

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[Veja cenas da gravação das vozes]

A nova família permite aos realizadores expandir a ação, de Nova Iorque para o campo, onde Katie, o marido Chuck, e o pequeno Liam vão passar uns dias com um tio fazendeiro, e Max e Duke vão ver mundo. E conhecerem Rooster, o nobre, competentíssimo e impassível cão da quinta (ao qual Harrison Ford dá voz impecavelmente) e aprenderem alguma coisa sobre si próprios — em especial Max — graças a ele. Paralelamente, na cidade, desenvolve-se uma outra história, sobre o salvamento por Snowball, a cadelinha Gidget, Daisy, outra cadela, e um regimento de muitos e desvairados gatos, propriedade de uma velhinha, de uma cria de tigre aprisionada e maltratada pelo cruel dono russo de um circo itinerante, que tem um mico mau como as cobras.

[Veja uma cena do filme]

Continuando a dispor de uma paleta de personagens variada, bem caracterizada em termos de personalidade (própria e das respetivas espécies) e hilariante, “A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2”, ao mesmo tempo que enriquece a narrativa, mantém as competências e as qualidades técnicas, estilísticas, visuais e cómicas do primeiro filme. Conseguindo mesmo refinar o humor, que agrada aos adultos sem perder os mais pequenos com piadas e referências cinéfilas e da cultura pop em catadupa, e seguindo mais uma vez o princípio segundo o qual quanto mais balbúrdia zoológica, melhor (desta vez, os gatos são um bocadinho mais considerados do que no primeiro filme, sendo que a rechonchuda gata Chloé continua a estar numa classe só dela). E a balbúrdia de “A Vida Secreta dos Nossos Bichos 2” vem, mais uma vez, ao som da música do grande Alexandre Desplat.

Única queixa: desta vez, não temos direito a um desenho animado dos Minions antes do filme, como sucedeu em “A Vida Secreta dos Nossos Bichos”. Há apenas um “gag” de abertura com um único Minion e um grupo de cães. Vá lá que o desvairado “gangsta rap” final de Snowball compensa a falha.