O PCP vai recorrer da decisão judicial que condenou o partido a reintegrar um funcionário crítico da “geringonça” e acusa aquele trabalhador de “atacar” o partido, “denegrir a sua imagem e pôr em causa a sua identidade”.

Em comunicado, o PCP refere que “a pessoa em causa provocou as condições objetivas de um conflito laboral para, em torno dele, alcançar o que pretendia: atacar o PCP, denegrir a sua imagem e pôr em causa a sua identidade”.

“A visibilidade que quis dar ao processo e a postura e discurso usada no próprio processo em tribunal indicam um caminho claro assente na deturpação da verdade e na hostilização política, indissociáveis da dimensão política que quis dar ao processo”, lê-se na nota.

O Tribunal do Trabalho de Lisboa condenou esta quarta-feira o PCP a reintegrar Miguel Casanova nos seus quadros e nas funções que exercia antes do conflito laboral considerando “ilícito o despedimento por abandono do posto de trabalho”.

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PCP condenado em tribunal a reintegrar funcionário crítico da “geringonça”

“A decisão tomada no plano judicial vai ser objeto de recurso pelo PCP”, lê-se no início do comunicado em que o autor da ação no Tribunal do Trabalho de Lisboa, Miguel Casanova, é tratado por “ex-funcionário”, uma vez que, segundo os comunistas, “não se está perante a relação de um trabalhador com uma empresa, mas sim da rutura por parte de um funcionário do partido com os compromissos assumidos e inscritos nos estatutos que definem a sua natureza e identidade”.

O PCP declara que o tribunal “deu como assente” que “a invocação do abandono do trabalho não estaria completamente provada em razão de a vontade do próprio ser outra” e “essa prova de ‘vontade de continuar’ não foi feita em julgamento pelo interessado, que escolheu o caminho de recusa em prestar trabalho e desempenhar funções, mas querendo ser remunerado como se estivesse no desempenho normal de tarefas”.

“O coletivo partidário não deixará de registar e condenar a atitude de quem premeditadamente afrontou o respeito pelo tratamento igual entre camaradas e rompeu o dever de confiança e a base inicial de lealdade que esteve na génese da sua adesão e vontade em abraçar a atividade partidária a tempo inteiro, com o que significa ser funcionário do PCP”, lê-se ainda na nota.

Os dirigentes comunistas rematam o comunicado dizendo que “o PCP cumprirá o seu papel, concentrando-se na defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, na luta por uma alternativa patriótica e de esquerda, por uma democracia avançada com os valores de Abril no futuro de Portugal, pelo socialismo e o comunismo”, mesmo que “tentem desviar atenções e criar dificuldades e obstáculos”.

Os dirigentes do PCP dispõem de um mês para formular e apresentar o seu recurso da decisão junto do Tribunal da Relação de Lisboa.

Casanova desempenhava funções políticas de dirigente na Organização Regional de Setúbal do PCP há cerca de 10 anos até que, no início de 2018, foi contactado no sentido de mudar de instalações e de tarefas, especificamente para o recinto da “Festa do Avante!”, no vizinho concelho do Seixal.

O funcionário terá continuado a apresentar-se ao trabalho em Setúbal, onde o seu gabinete, segundo fonte próxima do processo, foi desmantelado, em março de 2018, e falhou assim a presença na Quinta da Atalaia (Seixal), como o PCP requeria, desejando manter as suas “funções políticas”, em vez das novas tarefas “meramente técnicas”, no espaço dedicado ao evento político-cultural anual dos comunistas.

Na versão do aparelho comunista, o funcionário terá recusado a nova colocação e funções, tendo a sua dispensa sido efetivada em maio de 2018. A ação judicial do queixoso contra o PCP só viria a ser interposta em setembro de 2018.

O filho de José Casanova, histórico militante do PCP, antigo dirigente e diretor do jornal “Avante!” entre 1997 e 2014, disse-se vítima de perseguição política por ter “fugido da linha oficial do partido”, desde o final de 2015, ao criticar publicamente, embora em reuniões e órgãos do partido, a atual solução política que viabilizou o Governo socialista, com a posição conjunta entre PS e PCP, a denominada “geringonça”, assente em acordos semelhantes com BE e “Os Verdes”.