Os sul-coreanos da SK Innovation, que não são os maiores fabricantes de baterias para automóveis do mundo, mas que têm visto a sua capacidade de produção crescer a bom ritmo, juntamente com o reconhecimento tecnológico, anunciaram que esperam colocar no mercado, a partir de Julho, as primeiras baterias de iões de lítio, mas com a solução química NCM 811. Esta formulação, que ainda ninguém conseguiu fazer ultrapassar a fase de testes, promete dar origem a acumuladores com maior capacidade energética, permitindo assim maior autonomia para o mesmo peso ou volume.

A pressão, por parte da indústria automóvel, em ter acesso a baterias com cada vez maior densidade energética, que permitam aumentar a autonomia dos veículos eléctricos reduzindo-lhes o peso, é brutal. Isto leva a que os fabricantes de células de baterias – utilizadas para construir os packs que alimentam os veículos – se empenhem a recorrer sempre às tecnologias mais recentes em busca da maior eficiência.

Baterias há muitas, mesmo entre as de iões de lítio, mas se os iões de lítio que constituem o electrólito são apenas o veículo, o truque para uma maior densidade energética está na constituição do cátodo, o eléctrodo positivo, uma vez que o ânodo é essencialmente grafite. A magia das baterias modernas acontece ao nível da química do cátodo, que contribui para uma maior densidade energética quanto maior percentagem de níquel possuir.

A maioria das baterias do mercado recorrem a cátodos com fórmulas NCM 523 ou NCM 622. É certo que a sigla mais parece um código secreto, mas se tivermos em conta que NCM é na realidade Níquel-Manganésio-Cobalto e 523 (ou 622) a fórmula com que se “arrumam”, por exemplo, 50% de níquel, 20% de cobalto e 30% de manganésio, fica tudo muito mais claro.

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As regras na química das baterias são relativamente simples e há cinco conceitos a ter presente. Primeiro, mais níquel corresponde a maior densidade energética, logo a baterias mais leves ou mais eficientes, e igualmente mais baratas. Segundo, maior percentagem de níquel dá origem a baterias mais instáveis, com mais probabilidade de se incendiar em casos limite. Terceiro, quanto menos cobalto uma bateria use, mais barato fica. Quinto, o manganésio serve sobretudo para estabilizar o níquel, impedindo-o de começar a arder quando algo corre muito mal. Um vídeo da BASF explica de forma simples como as baterias dos automóveis eléctricos funcionam:

A Tesla (com a Panasonic), a quem os especialistas atribuem as melhores baterias do mercado em densidade energética, peso e custo, já utilizam há muito acumuladores NCA 8-0,5-1,5, em que o A representa alumínio, estabilizador substituto do manganésio.

Todos os fabricantes tentam apurar a tecnologia que lhes permita construir baterias estáveis, logo seguras, com cátodo NCM 811, mas até agora continua a ser uma miragem, com a LG Chem, Catl e a Samsung SDI a preverem colocá-las no mercado no início de 2020. Daí a surpresa causada pelo anúncio da SK Innovation, que espera no terceiro trimestre de 2019 iniciar a fabricação em série de baterias com o cátodo NCM 811. A SK já tinha prometido isto mesmo em meados de 2018, à semelhança de outros produtores de acumuladores, meta que tem vindo a ser adiada pela dificuldade que encerra.

O fabricante sul-coreano, que hoje produz anualmente apenas 5 GWh de baterias, promete atingir 20 GWh no final deste ano, para depois se atirar para os 40 GWh em 2020, 60 GWh em 2022 e 100 GWh em 2025. Na prática, um crescimento de 2.000% em pouco mais de cinco anos. Um objectivo quase tão difícil de atingir quanto conseguir vender as primeiras NCM 811 já em Julho. Porém com a certeza que, caso o consiga, não lhe vão faltar clientes, uma vez que a industria automóvel está sequiosa de acumuladores e quanto mais eficientes melhor. Com o prova, aliás, o facto de a SK anunciar que tem mais de 700 GWh de baterias encomendadas para os próximos anos.