A audição de Joe Berardo no Parlamento, no mês passado, para responder sobre a dívida de mais de 900 milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos, pôs o país a falar do empresário madeirense pelos piores motivos. “Não tenho nada, não devo nada“, assegurou. Sabe-se agora que a Quinta da Bacalhôa, histórica propriedade onde a família Berardo se dedica à produção de vinho, comprou no ano passado um edifício com 30 mil metros quadrados avaliado em vários milhões de euros, que poderá servir para albergar a coleção Berardo se o acordo com o Estado para a manutenção das obras de arte no Centro Cultural de Belém não for renovado em 2022.

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A notícia é avançada esta sexta-feira pelo Jornal Económico, que detalha que o edifício é uma antiga garagem de autocarros na zona de Azeitão, perto da Quinta da Bacalhôa, e poderá ainda servir para a instalação de um centro cultural com o nome Bacalhôa Berardo Collection (BBC) — ou mesmo para fins relacionados com a atividade dos vinhos. Antiga propriedade da Transportadora Setubalense, do Grupo Barraqueiro, a garagem está avaliada em “vários milhões de euros”, explica o Jornal Económico, sem detalhar o valor específico da compra.

Um dos destinos do edifício de 30 mil metros quadrados poderá ser o de acolher a coleção Berardo, atualmente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e que é detida pela Associação Coleção Berardo. As 862 obras de arte valem pelo menos 316 milhões de euros (de acordo com uma avaliação da leiloeira Christie’s) e estão na mira da Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novo Banco, que as querem penhorar para recuperar créditos concedidos à Metalgest (holding de Berardo na Madeira) e à Fundação Berardo, no valor de 962 milhões de euros. Um processo que poderá ter dificuldades em avançar, uma vez que o empresário tem o património blindado através dos acordos com o Estado e da distinção entre a associação, a fundação e os seus bens pessoais.

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Protocolo assinado pelo Estado e Berardo impede classificação da coleção de arte

Atualmente, a coleção encontra-se no CCB através de um protocolo entre o empresário madeirense e o Estado português, que define que Joe Berardo tem controlo sobre a coleção e que impede o Estado de intervir caso o empresário queira sair do país com as obras de arte. Berardo cedeu gratuitamente por 10 anos as obras de arte para a criação do museu e assegurou o direito de opção de compra da coleção. Em contrapartida, o Estado comprometeu-se a não classificar as obras (com as denominações de tesouro nacional, interesse público ou outras) — a não ser que compre a coleção. Ao mesmo tempo, o Estado comprometeu-se a “não colocar entraves à saída de Portugal e/ou do espaço comunitário, ao abrigo da atual ou futura legislação de proteção de património cultural, caso venha a cessar o comodato” entre ambos.