“Pavarotti”

Um documentário biográfico condensado e “soft” sobre Luciano Pavarotti (a etiqueta para a qual ele gravou está associada à produção), mas onde Ron Howard, mesmo assim, além de falar do génio vocal, do aturado trabalho técnico, da personalidade conquistadora, da simpatia irradiante, da capacidade de comunicação e da generosidade sincera do tenor italiano, não se esquiva a mostrar o Pavarotti mulherengo, adúltero e hipócrita, e deslumbrado pelo seu sucesso planetário; nem a a sublinhar o sentido comercial que o tornou riquíssimo, ao mesmo tempo que lhe permitiu massificar o canto lírico e emular (e ultrapassar) Caruso, o seu modelo e ídolo (ver o significativo começo do filme, na Ópera de Manaus). Os depoimentos de vários amigos e colegas de Pavarotti, bem como de críticos de música, ajudam a perceber a excecionalidade da sua voz, embora neste capítulo o tema fique pela rama. “Pavarotti” é o terceiro documentário de Ron Howard sobre o mundo da música, após “Made in America” (2013) e “The Beatles: Eight Days a Week” (2016).

“O Corvo Branco”

No seu terceiro filme como realizador, Ralph Fiennes procura fazer um retrato de Rudolf Nureyev, inspirado pela biografia de Julie Kavanagh, “Rudolf Nureyev: The Life”, e dando o papel principal ao bailarino ucraniano Oleg Ivenko. Fiennes, que também aparece a viver o professor que marcou o lendário bailarino na então Leninegrado e lhe serviu de figura paternal, ancora “O Corvo Branco” no episódio da fuga de Nureyev para o Ocidente em Paris, em 1961, no aeroporto de Le Bourget, quando tinha 23 anos, partindo daí para uma série de “flashbacks” impressionistas da sua infância e dos tempos em que ele estudou e dançou no Ballet Mariinsky. Apesar das limitações de produção, o filme consegue transmitir o superior talento de Rudolf Nureyev e captar bem a sua personalidade individualista, impulsiva e altivamente inconformista, para o que a impecável interpretação de Ivenko contribui em grande parte. “O Corvo Branco” foi escrito pelo experiente dramaturgo, argumentista e realizador britânico David Hare.

“Pássaros de Verão”

O realizador colombiano Ciro Guerra, autor de “O Abraço da Serpente” (2015), e sua ex-mulher Cristina Gallego, basearam-se numa história real para assinarem em conjunto este filme sobre a cultura da droga, inesperada e originalmente ambientado entre os índios Wayuu do norte da Colômbia, que nos anos 70 e 80 se envolveram no tráfico de marijuana com gente exterior à tribo, e com americanos. Os membros do clã liderado pela matriarca Úrsula e pelo seu genro Rapayet começam por colher os benefícios do negócio, em dinheiro, poder e bens de consumo, mas acabam por alienar a sua identidade, deturpar a sua cultura, trair as lealdades internas e violar usos e costumes ancestrais, com consequências trágicas para todos os seus. Em “Pássaros de Verão”, Guerra e Gallego cumprem com as convenções dos “drug movies”, mostram como a queda em desgraça das famílias que compõem os Wayuu simboliza a de toda a Colômbia e documentam as origens dos grandes cartéis que durante muito tempo iriam dominar o país, pela corrupção e pela violência.

“Os Mortos Não Morrem”

Jim Jarmusch realiza esta comédia negra de zombies, dispondo de um elenco que inclui nomes tão variados como Bill Murray, Adam Driver, Tilda Swinton, Selena Gomez, Tom Waits ou Iggy Pop. Na pacatíssima vila de Centerville onde se passa a ação do filme, os mortos começam a sair das suas sepulturas no cemitério local e a atacar os vivos. As perfurações para pesquisa de gás natural nos pólos afetaram o eixo da terra, e por isso o dia e a noite perderam o tino, as comunicações foram afetadas, os animais entraram em histeria coletiva, a lua ficou psicadélica e os defuntos voltaram à vida. Perante isto, o xerife local (Murray) e os seus dois ajudantes (Driver e Chloe Sevigny) têm que fazer o que podem para protegerem os habitantes de Centerville, e não serem também apanhado pelos mortos-vivos. “Os Mortos Não Morrem” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.

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