Ver (impotente) o seu automóvel ser consumido pelas chamas, figurará entre as experiências mais desagradáveis a que um condutor pode ser submetido. Mas a verdade é que sempre aconteceu, apesar do número de incidentes ser cada vez menor, graças à evolução tecnológica. Não abundam os estudos sobre este tema do lado de cá do Atlântico, mas nos EUA, a National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) acompanha a evolução dos incidentes ao longo dos anos. E, segundo esta entidade, se em 1980 foram 456.000 os veículos ardidos nas auto-estradas, esse número caiu para 168.000 em 2017. Ainda assim, provocando mais de 300 mortos, 1.000 feridos e mais de 1.000 milhões em prejuízos.

Entre os veículos vítimas de incêndio, um artigo da CNN afirma que os veículos a gasolina apresentam uma média de 55 fogos por cada 1600 milhões de quilómetros percorridos, contra apenas 5 para os veículos eléctricos. Contudo, a dimensão do parque circulante com um e outro “combustível” é tão díspar que dificulta uma análise mais rigorosa, apesar de ninguém contestar a maior perigosidade dos motores de combustão face às baterias.

E entre os eléctricos e os PHEV?

Há quem se interrogue sobre quais os veículos com maior propensão para se incendiarem em condições extremas – após um acidente, por exemplo –, entre os que possuem uma forte componente eléctrica, ou seja, entre os 100% eléctricos a bateria e os híbridos plug-in (PHEV). Esta é uma pergunta relativamente fácil de responder, uma vez que basta uma célula para gerar um princípio de incêndio.

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As baterias dos veículos eléctricos ou electrificados são compostas por centenas de células, mais nos 100% eléctricos do que nos PHEV, agrupadas em módulos que depois se juntam para formar os packs. Contudo, todos temos presente os problemas provocados pelos telemóveis Samsung Note 7, que ardiam sem razão aparente. Dentro de uma bateria têm lugar reacções químicas que geram calor, tanto quando são recarregadas, como quando é utilizada a energia que contêm. Em condições normais tudo corre bem, o problema é quando um impacto rasga uma das células, ou o circuito de refrigeração, provocando um incremento de temperatura tal que origina um princípio de incêndio.

Para tornar a situação mais delicada, quando mais eficiente é a bateria, ou seja, quanto maior for a percentagem de níquel que possui, mais instável se torna perante um incremento descontrolado de temperatura. E, neste caso, o veículo vai mesmo arder, apesar da extensão do incêndio depender da rapidez com que os bombeiros intervêm e da sua capacidade de lidar com um veículo eléctrico a ser consumido pelas chamas, cujo ataque é completamente distinto dos veículos com combustíveis derivados do petróleo. Respondendo à pergunta inicial, se os 100% eléctricos são mais delicados do que os PHEV, ambos encerram sensivelmente  o mesmo risco, mas a extensão dos danos pode ser maior, devido à maior quantidade de acumuladores que um BEV transporta, todos eles capazes de alimentar um incêndio depois de ele deflagrar.

Há casos de PHEV que tenham ardido?

Há vários casos conhecidos. Um dos mais comentados aconteceu em Bangok e gerou prejuízos consideráveis. Segundo as declarações de Nattawut Kritaya à polícia, a sua mãe tinha adquirido recentemente um Porsche Panamera E-Hybrid e, como a marca aconselhava a recarregar a bateria regularmente, face ao consumo de energia do modelo devido à complexa electrónica, ela ligava o carro todos os dias à noite, quando chegava a casa.

No dia fatídico, a condutora terá chegado a casa à 22h00 e deixou o carro ligado durante a noite. Kritaya diz que acordou por volta das 6h00 com uma forte explosão, e não foi preciso muito até encontrar a fonte do problema. O Porsche já tinha sido engolido pelas chamas, que acabariam por ser dominadas pelos bombeiros locais, o que não impediu a destruição quase completa do veículo e de parte da imponente mansão.

O Panamera E-Hybrid é um veículo comercializado no país por cerca de 10 milhões de bath, cerca de 287 mil euros, mas não foi este o único prejuízo da família. Isto porque o incêndio que consumiu o veículo, devorou igualmente uma zona da casa, nomeadamente a sala de estar, equipada com um home cinema, o que incrementou o prejuízo em mais 6 milhões de bath.