O que faria se encontrasse uma carteira com dinheiro na rua? Segundo um estudo publicado esta semana na revista Science, quanto mais dinheiro tiver uma carteira perdida, mais provável é que esta seja devolvida ao legítimo proprietário. O estudo levado a cabo por uma equipa internacional de investigadores tentou examinar quais os limites entre honestidade e egoísmo. Para isso, cerca de 17 mil carteiras, metade com e metade sem dinheiro, foram “perdidas” em 700 cidades de 40 países.

A equipa liderada por Michel André Maréchal, professor na Universidade de Zurique, entregou através de um ator que se fazia passar por turista, as 17 mil carteiras supostamente extraviadas em balcões de bancos, teatros, hotéis, museus ou edifícios governamentais de 40 países em todo o mundo. Algumas das carteiras estavam vazias, outras tinham diferentes quantidades de dinheiro — até a um máximo de dez euros. As quantias foram adpatadas ao poder de cada país, sendo que no interior de cada carteira estavam ainda cartões de visita com um nome fictício, um email e uma morada para permitir a sua devolução. E os suspostos turistas estavam ainda no país à espera do desejado contacto.

A experiência permitiu concluir que em praticamente todos os lugares os cidadãos estão muito mais propensos a devolver as carteiras com mais dinheiro (72%) do que as com menos dinheiro (51%) ou vazias (48%). Em 38 dos 40 países que fizeram parte da investigação esta tendência foi confirmada, à exceção do México e do Peru, ainda que o estudo não tenha concluído o porquê destes dois países fugirem à regra. No sentido contrário, os países da Escandinávia e a Suíça registaram as taxas de devolução mais altas em todos os cenários.

A conclusão do estudo refere que as pessoas que vivem em locais onde os níveis de corrupção são mais baixos têm tendência a comportar-se de maneira menos individualista. Alain Cohn, professor na Universidade de Michigan e coautor do artigo, diz que os resultados da investigação são consistentes com essa ideia. “Parece que ter um sistema político que coloca restrições aos governantes está associado a níveis mais altos de honestidade, ainda que as provas não impliquem necessariamente que se trate de uma relação causa-efeito”, diz, citado pelo El Mundo.

Foram feitas ainda outras experiências com pequenas variações. Às carteiras sem dinheiro foram adicionadas chaves, objetos que aumentaram bastante a taxa de devolução das mesmas, o que ajuda a reforçar, em parte, a ideia de empatia. Por a quantia inicial ser pequena, a experiência foi repetida com a perda de mais 3 mil carteiras já com montantes a rondar os 100 euros e as devoluções foram ainda superiores.

Os autores concluíram, no entanto, que o principal motivo para devolver a carteira pode ser não tanto a generosidade, mas a vaidade, uma certa aversão que as pessoas possam ter a ver-se a si próprias como ladrões. Esta ideia ficou reforçada quando, terminada a investigação, os seus autores fizeram um exercício teórico para melhor entender as motivações das pessoas. Quando colocada a questão a um grupo de participantes sobre o que fariam numa situação semelhante, a maioria dos intervenientes disse que não devolver a carteira era equivalente a roubar, sobretudo quando havia muito dinheiro envolvido.

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