Banana!

De Bernardo P. Carvalho (Planeta Tangerina). 12,50€

A Nuvem, o Sol, o Mar, o Iceberg, o Vento, o Vulcão, a Floresta, o Arco-Íris e o Reflexo. As nove personagens do novo livro de Bernardo Carvalho compõem uma panorâmica idílica, e sabem disso. O ilustrador deu caras sorridentes a colagens em papel colorido e pôs de pé esta história original onde a natureza se esmera para ficar bem nas fotografias e nas selfies dos turistas. Um dia o Vulcão acorda com má cara, “a chocar alguma”, e para além de uma erupção inesperada – “deve ter sido daquelas pedras que comi há 2500 anos” – há um sem-fim de brincadeiras com os elementos. Como diz a breve sinopse de uma linha, “um show daqueles”.

Trilogia das Formas

Texto de Mac Barnett, ilustrações de Jon Klassen (Orfeu Negro). 14€ cada

Jon Klassen é o Buster Keaton da ilustração infantil: bastam-lhe poucos traços e expressões impassíveis para nos fazer rir. De entre a sua já vasta obra, o melhor exemplo deste talento é mesmo a trilogia dedicada às formas geométricas, onde um triângulo, um quadrado e um círculo ganham vida com um simples par de pernas ou de olhos. A história de cada livro, escrita por Mac Barnett, é igualmente minimal e parte sempre de uma premissa quase nonsense: no primeiro volume, é o Triângulo que quer pregar “uma valente partida” ao Quadrado. No segundo, é o Quadrado que quer impressionar a Círculo com uma escultura. Resta esperar pela edição portuguesa do terceiro (no verão deste ano) e ver o que preparou a mais perfeita das formas.

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Então, Morde?

De Jean Gourounas (Editorial Bizâncio). 11,90€

Um pinguim está parado no gelo, com um ar aborrecido, a pescar. A neve cai, o peixe não morde. Um a um, vão aparecendo outros animais do Ártico. A morsa pergunta “o que se passa aqui?”, a foca acrescenta “o peixe morde?” Mas nada acontece. A neve continua a cair, o pinguim continua no mesmo sítio com o mesmo ar aborrecido, o mesmo buraco no gelo e a mesma cana de pesca estática. Um mistério polar, explorado no sentido mais cómico pelas ilustrações do francês Jean Gourounas e o ritmo de animação lenta. Então, morde?, pergunta o título. O suspense permanece quase até ao fim.

Um Capuchinho Vermelho

De Marjolaine Leray (Orfeu Negro). 9,90€

Pequenino mas cheio de lata. Os dois adjetivos aplicam-se tanto a este livrinho como ao seu protagonista. Apenas com gatafunhos em três cores – branco, vermelho e preto –, a francesa Marjolaine Leray transforma o velho conto do Capuchinho Vermelho numa história inesperada e cheia de humor. Nesta versão, o dito Capuchinho não tem nada de ingénuo e é antes uma menina destemida, que não só não tem medo dos dentes afiados do lobo mau como ainda o acusa de ter mau hálito.

Lisboa Divertida — Livro de Atividades

Texto de Andreia Ribeiro, ilustrações de Alberto Faria (Caminho das Palavras). 9,90€

É apresentado como “uma passagem secreta para uma Lisboa diferente” e é, de facto, um livro especial. O divertido do título também não está lá por acaso, com uma série de atividades que desafiam os mais pequenos a atravessar um labirinto para ajudar Camões a encontrar o olho que perdeu em África, por exemplo, a contar os pombos em cima da estátua do cauteleiro ou a desenhar um teto para o Convento do Carmo. Uma visita guiada original que passa por outras paragens emblemáticas da capital, como a ponte 25 de Abril, o Oceanário, o Cristo-Rei ou o Museu dos Coches. Com mais um extra cómico: um marcador Martim Moniz, assim entalado no livro (e não na porta do Castelo dos Mouros).

Eléctrico 28

Texto de Davide Cali, ilustrações de Magali Le Huche (Nuvem de Letras). 14,90€

Davide Cali é conhecido pelos seus livros cheios de ritmo e sentido de humor. Em 2018, o autor suíço deu-nos este bombom com as suas melhores qualidades, passado num cenário familiar: o lisboeta elétrico 28. Na história ilustrada pela francesa Magalie Le Huche, não há enchentes de turistas (nem carteiristas), antes
um enredo imaginativo em que o condutor do elétrico, Amadeo, gosta de fazer de Cupido e dar uma mãozinha aos apaixonados tímidos que apanha entre o Martim Moniz e Campo de Ourique. Uma história de amor sobre carris, com direito a manobras, travagens bruscas e pastel de nata.

As Palavras que Fugiram do Dicionário

Texto de Sandro William Junqueira, ilustrações de Richard Câmara (Caminho). 14,90€

Quantas palavras existem num dicionário? O escritor Sandro William Junqueira, que as conhece bem, conseguiu inventar mais 23, num livro imaginativo e com sentido de humor. Três exemplos: alfabelo (“a pessoa que organiza alfabeticamente a beleza, para que seja mais fácil encontrá-la no meio das coisas feias”), esquecedor (“aparelho que aquece as pessoas esquecidas”) e orelheiras (“manifestação física de uma pessoa que está muito exausta de ouvir”). É fazer uma nova edição revista do dicionário de língua portuguesa e começar a usá-las.

Supõe…

Texto de Alastair Reid, ilustrações de Joohee Yoon (Bruaá). 16€

Todas as páginas começam pela palavra “supõe” e têm em comum um enorme sentido de humor. Às vezes são suposições muito curtas – “supõe que ensinava o meu cão a ler” –, outras muito longas e escritas de um fôlego, como os miúdos quando estão a contar coisas, demasiado entusiasmados para usar sinais de pontuação: “Supõe que construía o meu foguetão e ia até à lua mas não gostava muito e voltava para casa sem dizer nada a ninguém e me ria sozinho quando as outras pessoas falavam sobre isso.” Alastair Reid não precisa de supor: escreveu de facto um livro divertido, cheio de ideias estapafúrdias, nenhuma delas óbvia.

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº 3 (março 2019).