As duas exibições da Argentina na atual edição da Copa América, primeiro na derrota com a Colômbia e depois no empate com o Paraguai, provocaram uma avalanche de informação na imprensa do país sul-americano: desde a desorganização da equipa que era sempre aliada à inexperiência de Lionel Scaloni, aos 30 jogadores diferentes que o selecionador colocou no onze inicial nos 11 jogos em que esteve no comando técnico da Argentina ao papel de Lionel Messi, capitão e líder absoluto mas à beira de cair noutro desaire. Entre todos os motivos avançados, todas as consequências reveladas, todos os alegados pormenores saídos diretamente do balneário, existia uma linha de pensamento em comum.

Messi, que tem uma influência inegável no cerne da seleção argentina, pediu a aposta em Sergio Agüero e deixou implícita a ideia de afastar Mauro Icardi do conjunto sul-americano. Messi e Agüero, ambos parte da equipa argentina que em 2005 se sagrou campeão do mundo sub-20, têm um entendimento acima da média e o jogador do Barcelona até já foi responsável por um interesse continuado dos catalães no atual avançado do Manchester City que nunca se materializou. Tudo somado, Agüero foi convocado para a Copa América, Icardi não, e o avançado foi mesmo titular no jogo inaugural contra a Colômbia de Carlos Queiroz.

A derrota com os colombianos, porém, motivou alterações por parte de Lionel Scaloni para o segundo jogo e Aguero acabou por ser um dos sacrificados, saindo do onze inicial e entrando já na segunda parte do empate com o Paraguai. Na preparação para a partida deste domingo com o Qatar, decisiva nas contas da Argentina que dizem respeito à passagem aos quartos de final da Copa América, o selecionador decidiu fazer uma alteração estrutural: Messi deixava de fazer dupla na frente de ataque com outro jogador e passava a jogar a número ’10’, nas costas de uma dupla original formada por Agüero e Lautaro Martínez.

Do outro lado estava o convidado Qatar, vencedor da Taça da Ásia mas com apenas um ponto conquistado na Copa América (empatou com o Paraguai e perdeu com a Colômbia). Com o português naturalizado qatari Pedro Correia a titular na direita da defesa, o Qatar ficou em desvantagem logo aos quatro minutos, com um bom remate de pé esquerdo de Lautaro Martínez que entrou muito encostado ao poste da baliza de Al Sheeb. A Argentina jogava contra o Qatar mas também contra o resultado do outro jogo que decorria a mesma hora, entre a já apurada Colômbia e o Paraguai, adversário direto nas aspirações à passagem à ronda seguinte.

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A primeira metade da primeira parte trouxe uma Argentina dominante, muito solta na frente de ataque e a beneficiar da maior mobilidade de Messi face à posição de falso avançado que desempenhava. A equipa de Lionel Scaloni — que tinha Saravia, reforço do FC Porto para a próxima temporada, na direita da defesa — atuava como há muito não se via, dominante e com oportunidades de golo, a manobrar facilmente uma pouco preparada defesa qatari. A superioridade inequívoca da Argentina, porém, foi-se esgotando com o avançar dos minutos e o aproximar do intervalo, com o Qatar a pedir uma grande penalidade de Tagliafico sobre Pedro Correia e Bassam Al-Rawi a acertar no poste da baliza de Armani.

Na ida para o intervalo, a Argentina podia principalmente descansar quanto a um ponto: existia uma ideia. A principal falha apontada à seleção de Messi nos últimos meses tem sido a ausência de ideias, de propósito e de objetivo. Este domingo, contra o Qatar, a Argentina tinha a ideia de colocar Messi a jogar atrás dos avançados, o propósito de ganhar e o objetivo de chegar aos quartos de final da Copa América. Sem deslumbrar, a equipa tinha finalmente uma ideia.

Nos instantes iniciais da segunda parte, o Qatar subiu os níveis de intensidade e começou a chegar mais perto da baliza de Armani, onde a defesa argentina parecia menos entrosada e mais distante da partida. Scaloni reagiu com a entrada de Acuña, jogador do Sporting, para o lugar de Lo Celso, numa tentativa de agarrar o meio-campo e controlar as incidências do jogo, mas a instabilidade da defensiva argentina — agudizada pela pobre exibição de Otamendi na segunda parte — nunca permitiu uma eventual gestão do resultado.

Dybala entrou para o lugar de Lautaro Martínez a 15 minutos do final e ainda foi a tempo de assistir Agüero para o segundo golo da Argentina, num lance de transição ofensiva em que a qualidade individual fez a diferença entre as duas equipas. O Qatar lutou e obrigou mesmo a Argentina a recuar as linhas e ter mais cautela do que seria de esperar mas não conseguiu evitar a derrota e a eliminação da Copa América.

Já a Argentina, sob uma pressão intensa e que se nota na forma como os jogadores atuam — sempre de semblante carregado e com pouca alegria –, garantiu o segundo lugar do grupo, atrás da Colômbia, e o passaporte para os quartos de final, onde vai encontrar a Venezuela. Messi completa 32 anos esta segunda-feira e recebeu de Lautaro Martínez, que tem a alcunha de El Toro e marcou o golo que se tornou decisivo, a melhor prenda antecipada: a ida à fase seguinte e o prosseguir do sonho de conquistar um título com a seleção argentina.