O Governador do estado brasileiro do Ceará, Camilo Santana, disse, em entrevista à Lusa, que se sente “triste” pelo facto de o Governo liderado por Jair Bolsonaro não priorizar as relações com países lusófonos, “que demoraram tempo a construir”.

“Fico triste porque acho que nós levámos um bom tempo a construir essas parcerias com os países de língua portuguesa, e com outros países, (como os da Ásia…). Acho que são importantes as relações internacionais no Governo brasileiro com todos os países, mas nós temos uma relação muito forte com os países de língua portuguesa, e com a América Latina, e é preciso fortalecê-las”, afirmou o governador, eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Camilo Santana espera, no entanto, que com “mais tempo e maturidade” o Brasil consiga alcançar melhores resultados, no que às relações internacionais diz respeito.

Reeleito governador do Ceará na primeira volta das eleições de outubro do ano passado com a maior votação do Brasil (79,96%), Camilo Santana assumiu o segundo mandato disposto a dialogar com o atual Presidente, Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), um forte crítico do PT.

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Apesar de se ter colocado publicamente contra medidas do novo executivo, como é o caso do decreto que facilita o porte e posse de armas no Brasil e os cortes na Educação, assinado este ano por Bolsonaro, Santana garante que tenciona dialogar com qualquer chefe de Estado que esteja no poder, pois, realçou, esse “é o segredo para resolver problemas”.

“Eu defendo muito o diálogo, relações respeitosas, uma relação institucional, e é isso que eu tenho procurado construir com o Governo federal, independentemente de quem seja o Presidente. Vou continuar a trabalhar sempre junto aos ministros e ao Presidente da República, pelo meu Estado e pela minha região”, frisou o político à Lusa.

Com uma população estimada em nove milhões de habitantes, estando entre os 10 estados brasileiros mais populosos, o Ceará, localizado no nordeste brasileiro, enfrentou em janeiro deste ano uma grave onda de violência, que culminou em cerca de 200 atos de vandalismo, e na detenção de mais de 300 pessoas.

Nos últimos anos, o Ceará registou ainda um elevado número de homicídios, sendo que em 2017 alcançou um recorde para o estado, com 450 mortes violentas assinaladas em dezembro e 5.134 durante todo o ano, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil.

No entanto, e apesar do violento início de 2019, o Ceará foi o estado com maior diminuição de mortes nos primeiros dois meses do ano, com uma queda de 57,9%.

Camilo Santana acredita que a diminuição da criminalidade foi alcançada com um plano delineado pelo seu governo, a partir de 2015.

“Quando eu assumi o governo (estadual) em 2015, nós convidámos os melhores especialistas na área da segurança do Brasil e construímos um plano para o Ceará, a médio e longo prazo. […] Contratámos mais pessoal, investimos em inteligência, tecnologia, estruturas. Além das ações de prevenção, delineámos uma intervenção muito forte no sistema prisional, que é muito frágil”, explicou o governador, acrescentando que as cadeias brasileiras transformaram-se em “escritórios do crime”.

Nos últimos quatro anos, o político do PT construiu novas unidades prisionais e aumentou em quase 80% o número de agentes prisionais.

“Nunca tive dúvidas de que essas ações iriam ter uma repercussão fora, para a sociedade e para as ruas, e os dados estão a mostrar isso. Mostrámos que quem manda é o estado, durante os episódios ocorridos em janeiro”, frisou.

Engenheiro agrónomo e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Camilo Santana iniciou a vida pública como funcionário federal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e foi superintendente adjunto do órgão no Ceará em 2003 e 2004.

Apesar de ser filiado ao PT, Santana tem-se mostrado como uma das vozes mais ativas na defesa de uma modernização no partido.

“Acredito que o PT precisa de se reinventar, precisa de reconhecer os erros que cometeu nos seus Governos, e acho que isso faz parte da renovação do próprio partido e dos seus quadros, para o momento atual que o país vive. (…) Considero que é necessária uma renovação das lideranças nacionais do PT”, concluiu Camilo Santana.