A relação de 50 anos entre “A Gulbenkian e o Cinema Português” vai ser celebrada em julho, com a exibição de 15 filmes de nove realizadores, sob o lema “Memória do Futuro”, anunciou a Fundação Calouste Gulbenkian.

A 4.ª edição do ciclo “A Gulbenkian e o Cinema Português” tem curadoria de António Rodrigues e vai mostrar 15 filmes, apoiados pela fundação, em termos de produção e de internacionalização, dirigidos por nove realizadores de diferentes gerações.

Durante seis dias, essas 15 curtas e longas-metragens serão exibidas em seis sessões, divididas por três temáticas — “O Futuro da Memória”, “Artistas Filmados” e “Os Anos Gulbenkian” –, que vão contar com alguns dos realizadores em foco.

Sob o tema “O Futuro da Memória”, que inicia e fecha o ciclo, é apresentado, no primeiro dia, o filme “A Volta ao Mundo quando Tinhas 30 anos” de Aya Koretzky, com a presença do crítico de cinema Bernardo Vaz de Castro, e, no último dia, a encerrar a edição, é projetado o filme “Actos de Cinema”, do realizador Jorge Cramez.

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Para António Rodrigues, curador do evento, as duas produções “apontam para o futuro e são filmes sobre memória, pessoal ou alheia, que abarcam o que já foi feito e fazem parte do mesmo património”, lê-se no comunicado da fundação.

“Os Anos Gulbenkian” ocupam a programação dos dois sábados do ciclo, dias 06 e 13 de julho. Retratam um “segmento histórico entre 1969, ano da inauguração da sede da Fundação Calouste Gulbenkian e da sua abertura ao público, e 1972”.

Num Portugal ainda muito fechado, durante a ditadura, foi no Serviço de Belas-Artes da Fundação que muitos artistas e cineastas encontraram a oportunidade de criar em liberdade, “como quem olha para o céu, enquanto tem os pés na terra”, diz o curador António Rodrigues, citado pelo comunicado da Gulbenkian.

As duas sessões dos “Anos Gulbenkian” incluem nove pequenos filmes dos cineastas Paulo Rocha e António-Pedro Vasconcelos, da realizadora, artista e escritora Ana Hatherly e do artista plástico Luís Noronha da Costa, vindos da primeira geração de apoios da Gulbenkian ao cinema português.

No dia 06, com a presença do diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa, é apresentada “A Pousada das Chagas”, de Paulo Rocha, “Revolução”, de Ana Hatherly, e “27 Minutos com Fernando Lopes Graça”, de António-Pedro Vasconcelos, obras que oscilam entre os anos de 1968 e 1975.

No sábado seguinte, são exibidas curtas-metragens do artista plástico Luís Noronha da Costa, numa sessão que conta com a presença do realizador André Dias.

Com uma obra cinematográfica menos conhecida — apenas revelada publicamente pela Cinemateca em 2004, a par da retrospetiva “Noronha da Costa Revisitado”, no Centro Cultural de Belém — o pintor, escultor, arquiteto é também cineasta, “no sentido metafórico”, por evidentes “relações da sua pintura com o cinema”, mas também “em sentido próprio”, tendo sempre considerado “fundamentais, no seu percurso estético”, os filmes que dirigiu, como a Cinemateca Portuguesa escreveu, numa segunda apresentação destas obras em 2012.

A sessão de 13 de julho reúne as mais antigas curtas-metragens de Noronha da Costa, que o antigo diretor da Cinemateca João Bénard da Costa definiu do seguinte modo: “‘As Três Graças’, um binómio cinema-pintura, a imagem como espelho ou como espelho da imagem. ‘Casa sobre Casa’, uma tentativa ‘impossível’ de colar imagem à imagem do real. ‘Manuela’, um filme sobre e com [a atriz] Manuela de Freitas, filmado na Comuna, pouco depois da criação deste grupo teatral. ‘A Menina Maria’, uma obra fundamental para a afirmação de Noronha da Costa como cineasta, sendo simultaneamente de experimentação e um divertimento libérrimo, determinante no percurso do artista. (…) ‘Murnau’, o fantasma de Murnau na tela, prolongando até ao paroxismo o jogo de duplos e o jogo de espectros”.

Quanto a “Padres”, que encerra a sessão, trata-se de uma obra de ficção que, de acordo com a revista FilmAffinity, de Espanha, “começa com um plano fabuloso”, sobre dois gatos.

Nos dias 07 e 12 de julho, o ciclo conta com sessões dedicadas aos “Artistas Filmados”, documentários realizados com apoio da Fundação, sobre artistas contemporâneos portugueses.

É o caso de “Ver o Pensamento a Correr” (1995), sobre António Palolo, um filme dirigido por Jorge Silva Melo, a apresentar no dia 07, sexta-feira, que parte de uma exposição do artista no Centro de Arte Moderna.

Na mesma sessão será igualmente exibido “Pintura Habitada” (2006), um documentário de Joana Ascensão sobre o trabalho de Helena Almeida.

Uma semana depois, em 12 de julho, serão exibidos “Da Natureza das Coisas”, uma abordagem à obra de Carlos Nogueira pelo realizador Luís Miguel Correia, e “Blind Runner — An Artist Under Surveillance”, de Luís Alves de Matos, um documentário entre o género ‘road movie’ e o ‘thriller’, sobre o trabalho de João Louro.

O ciclo “A Gulbenkian e o Cinema Português” é de entrada gratuita, sujeita a levantamento de bilhetes, e vai na 4.ª edição.

Nas três anteriores abordou os temas “Territórios de Passagem”, “Ensaio e Ficção” e “A Intimidade e o País: Um desejo de Futuro”, com a exibição de 28 filmes de produção portuguesa, dirigidos por cerca de 20 realizadores.