O líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias, ameaçou esta terça-feira em Madrid numa reunião com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, votar contra a sua investidura, prevista para julho, voltando a insistir na formação de um governo de coligação. Mas Sánchez respondeu no mesmo tom, desafiando Iglesias a avançar com o ‘chumbo’ e recusando dar-lhe qualquer ministério. A ‘geringonça’ espanhola está assim em causa e o líder do PSOE pode não conseguir formar governo e ter de avançar para novas eleições, como aliás já ameaçou.

A extrema-esquerda espanhola e o chefe do governo socialista em funções confirmaram assim a situação de bloqueio das negociações de investidura, depois de uma segunda reunião entre as duas partes, segundo fontes citadas pela imprensa espanhola.

Iglesias avisou Sánchez que não afasta a possibilidade de votar contra, enquanto o primeiro-ministro espanhol advertiu que irá ao debate de investidura em julho “com ou sem apoios” e que não haverá ministros do Podemos no seu governo.

Os votos do Unidas Podemos são imprescindíveis à recondução de Pedro Sánchez como chefe do Governo, depois de todos os partidos à direita do PSOE (Partido Socialista Espanhol) já terem confirmado que irão votar contra a sua investidura.

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A formação de extrema-esquerda exige a entrada de dirigentes seus no futuro Governo espanhol, possibilidade que os socialistas recusam determinantemente, preferindo apenas o seu apoio parlamentar e avançando apenas com a possibilidade de lhes dar lugares intermédios de poder.

Segundo a imprensa espanhola, a tensão entre Sánchez e Iglesias é máxima e nenhum dos dois parece estar disposto a ceder.

A soma do PSOE (123) e do Unidas Podemos (42) fica 11 votos aquém da maioria absoluta (176) necessária para que Pedro Sánchez seja investido à primeira volta no parlamento.

Mesmo com o apoio do Unidas Podemos, Sánchez teria de negociar o apoio de outros partidos ou, na pior das hipóteses, a sua abstenção numa segunda volta, quando apenas precisar da maioria dos votos expressos.

O rei espanhol, Felipe VI, apresentou no início de junho Pedro Sánchez como candidato a ser investido primeiro-ministro.

O debate e votação de investidura não tem prazo para se realizar, mas vários dirigentes socialistas já avançaram que estes se deverão realizar durante julho.

“A alternativa a uma investidura viável é a repetição de eleições; a alternativa a um Governo socialista é obrigar os espanhóis a voltarem a votar”, afirmou há duas semanas o responsável pela “máquina” do PSOE, José Luís Ábalos, acenando com o fantasma de eleições.

Nas legislativas realizadas em 28 de abril último, os socialistas foram o partido mais votado, com quase 29% dos votos, mas outros quatro partidos tiveram mais de 10%, acentuando a grande fragmentação política do país.

O PSOE tem 123 deputados eleitos (28,68% dos votos), o PP (direita) 66 (16,70%), o Cidadãos (direita liberal) 57 (15,86%), a coligação Unidas Podemos (extrema-esquerda) 42 (14,31%), o Vox (extrema-direita) 24 (10,26%), tendo os restantes sido eleitos em listas de formações regionais, o que inclui partidos nacionalistas e independentistas.